Liderando o número de indicações ao Oscar (a produção concorre em 12
categorias incluindo Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Ator para Daniel
Day Lewis) Lincoln tem todos os
atributos que podem levá-lo a ser o destaque da noite de premiações da Academia
de Artes e Ciências Cinematográficas.
Dirigido por Steven Spielberg, o filme retrata a luta de um dos mais
famosos e renomados presidentes dos EUA, Abraham Lincoln (Daniel Day Lewis), e
sua quase incessante e dificílima luta em conseguir no Congresso Norte-Americano
a aprovação da 13ª Emenda, abolindo de vez a escravidão.
A trama se passa entre 1864 e 1865, durante a Guerra da Secessão (guerra
civil ocorrida nos EUA, entre 1861 e 1865), fundamentada basicamente na luta
entre 11 Estados Confederados do Sul latifundiário e aristocrata e os Estados
do Norte industrializado. Em 1860, ao assumir a presidência, Lincoln recebeu um
país dividido –– no qual a Região Norte estava amplamente desenvolvida e
destacada economicamente, enquanto no Sul concentrava-se um regime basicamente
agrário que se sustentava por meio do trabalho escravo.
Em 1861 - quando os EUA possuíam 19 estados livres, nos quais a
escravidão era proibida, e 15 estados onde era permitida – 11 estados
escravagistas do Sul declararam secessão da União e deram início à guerra
oficialmente quando atacaram um posto militar norte-americano da Carolina do
Sul. O conflito resultou na morte de vários soldados dos EUA e foi base estratégica
para o plano de Lincoln de abolir a escravidão.
Para conseguir a aprovação da emenda, o presidente norte-americano
precisaria do apoio de republicanos e também de alguns democratas – os quais
eram diametralmente contra a libertação dos escravos – lançando mão de uma
série de diálogos e acordos muito bem elaborados e estrategicamente pensados, entre
os quais o argumento que a abolição contribuiria para o fim da guerra civil.
Embora no começo a produção possa parecer algo extensa e cansativa, já
que é necessário mostrar ao espectador o contexto da trama, fundamentada quase
exclusivamente no diálogo, ela nos envolve gradativamente conforme ganha corpo
a ambição de Lincoln em concretizar seu objetivo.
A produção de Spielberg – diretor recordista em filmes na lista das 100
maiores tramas de todos os tempos – que sempre priorizou filmes que trabalhem a
emoção mesclada à ação e aos efeitos especiais que deslumbram os olhos da
plateia, não é o seu tipo de trabalho cinematográfico mais característico. Em Lincoln, o que prevalece durante suas
quase três horas de exibição são a riqueza e intensidade do diálogo político,
que não conta uma biografia e o drama pessoal nela embutida, mas uma mudança
crucial para a nação estadunidense e todos os esforços despendidos para
alcançá-la – inclusive a de bens e vidas humanas.
Não obstante, o diretor arrasa e faz um trabalho praticamente impecável
– que talvez peque apenas no final com um pequeno prolongamento um tanto
desnecessário, mas que certamente não será nenhum entrave para impedir o filme
de conquistar os principais prêmios do Oscar – Daniel Day Lewis, por exemplo,
tem grandes chances de conquistar a estatueta de Melhor Ator. Ele está incrível
em seu papel ao interpretar um Lincoln que criou uma espécie de “armadura” para
aparecer em público, interiorizando ao máximo todas as suas emoções e
sentimentos diante da pressão que sofria em razão de seu cargo, e de ser
obrigado a representar para o povo uma imagem que não necessariamente era a
sua.
A sutileza e a frieza do protagonista também estão presentes na forma
como a história é narrada, já que Spielberg procura enaltecer o grande momento
histórico e conduzir a trama sob o prisma analítico de Lincoln. Vale a pena
conferir o filme e tirar suas próprias conclusões.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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