sábado, 18 de maio de 2013

Somos tão jovens


Se você viveu a década 80 certamente se lembrará, e se nasceu posteriormente também já deve ter ouvido tocando por aí esses sucessos musicais como Tempo Perdido, Será, Pais e Filhos e Que País é Esse, algumas das canções que marcaram a carreira de um dos mais influentes e célebres cantores e compositores brasileiros dos anos 80: Renato Russo.

Vocalista da banda Legião Urbana, ele faleceu em 1996 vítima da AIDS, deixando um legado de fãs e até hoje seu talento continua a repercutir e fazer sucesso entre todos aqueles que acompanharam sua trajetória e, até mesmo quem só conheceu seu trabalho após sua morte e virou seu fã – pelo menos os apreciadores da boa música. Agora todos poderão acompanhar e conhecer um pouco mais da vida de Renato Russo com a estreia do filme Somos Tão Jovens nos telões.

Com direção de Antônio Carlos da Fontoura, a trama narra o momento em que Renato (papel de Thiago Mendonça), cujo nome original é Renato Manfredini Júnior (1960 – 1996) se descobriu no mundo musical e formou sua primeira banda, chamada Aborto Elétrico, junto com os irmãos Felipe Lemos e Flávio Lemos – do Capital Inicial, por quem Renato tinha uma queda – e o sul-africano André Pretorius. Esta foi a chamada fase “punk” da vida do protagonista, na qual ele vivia no mundo do rock pesado e, junto com sua melhor amiga Aninha (Laila Zaid), personagem fictício, estavam dispostos a revolucionar a sociedade e mostrar a importância de se lutar pelos direitos da liberdade de expressão.

Nesta banda, as constantes discussões com o baterista Fê Lemos fazem com que Renato abandone o grupo e forme, mais tarde, o Legião Urbana, que seria responsável pela sua decolagem direta para o sucesso nacional. A produção ainda retrata no começo o problema que Renato desenvolveu desde os 15 anos de idade, quando foi diagnosticado com uma doença óssea, a qual fica nítida para o público quando ele sofre um simples tombo de uma bicicleta e vai parar no hospital, sendo obrigado a permanecer por repouso absoluto por alguns dias após a alta hospitalar.

O destaque de Somos tão Jovens certamente vai para o ator Thiago Mendonça, que não apenas soube repassar os trejeitos deste ídolo musical que conquistou diversas gerações, como fez um magnífico trabalho vocal que permite ao público viajar no tempo em que Renato Russo era vivo. A similaridade da entonação vocálica de Mendonça com a do verdadeiro vocalista da Legião é um forte quesito para o filme fazer jus à trajetória profissional do cantor. Sem contar que as músicas cantadas por Mendonça no filme foram gravadas ao vivo, o que apenas comprova o talento do ator tanto para as canções, quanto para a total incorporação do papel.

A retratação da biografia de Russo nos telões relembra outra produção que também foi sucesso nos cinemas e narrou a história de outro grande ícone musical: Cazuza. Todavia – ao contrário desta trama que abordou os principais acontecimentos desde o crescimento na carreira artística até a sua morte (Cazuza também morreu de AIDS), passando pelas agravantes conturbações pessoais envolvendo sexo, drogas e a questão da homossexualidade – a produção de Fontoura tem enfoque mais voltado à sua carreira, buscando realçar toda a desenvoltura de Russo até chegar à Legião, sem se ater à parte polêmica da sua vida e mostrar como ele contraiu AIDS.


Além disso, o filme retrata apenas o começo da formação do grupo Legião Urbana e quando Renato fica sabendo que irá cantar com a banda fora de Brasília, sua cidade natal, pela primeira vez.  A produção ainda tem os atores Sandra Corveloni e Marcos Breda no papel dos pais de Renato Russo.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 11 de maio de 2013

Quase Normal


O que é normal para você? Será que existe um conceito unificado que possa explicar esse questionamento? Numa sociedade repleta de diversidades comportamentais, na qual ninguém é igual a ninguém, fica praticamente impossível formular uma única definição para a palavra “normal”.  Baseado neste quesito e nos inúmeros conflitos que assolam o psicológico de muitas famílias, o espetáculo musical Quase Normal traz para os palcos uma complexidade de fortes emoções dramáticas, repletas de mensagens que nos convidam a fazer uma análise pessoal interna de como lidamos com nossos problemas.

A peça se desenvolve em torno de Diana (Vanessa Gerbelli Ceroni), uma mulher que é frequentemente atormentada por transtornos bipolares e visões de seu filho primogênito jovem (Olavo Cavalheiro) – na realidade ele morreu ainda bebê. A dificuldade em aceitar a morte do neném é que faz com que Diana vá agravando seus transtornos psíquicos. Decorridos 17 anos da tragédia, ela continua atormentada com a perda e mal consegue dar atenção à sua filha, que nasceu pouco tempo depois da morte do menino.

A garota cresce então revoltada com a repulsa da mãe por ela, enquanto seu pai (Cristiano Gualda) tenta a todo o momento tranquilizar a esposa Diana e ensiná-la a ser forte. Todavia, diante da piora comportamental da protagonista, ele decide levá-la a um terapeuta (André Dias) e, a partir de então, inicia-se uma série de sessões de tratamentos diversos, incluindo uma pilha de remédios a serem tomados e até mesmo sessões de eletrochoque.

O espetáculo nos convida a fazer uma série de reflexões sobre as conturbações sentimentais que afligem o interior dos personagens, como o drama vivido não só por Diana em não conseguir aceitar a morte do filho, como do próprio esposo que se reveste de uma “armadura” para mostrar que superou a tragédia, quando na verdade ele faz de tudo para não tocar no assunto e desabar em prantos como a mulher.

Uma das lições tiradas por este grande drama é que, às vezes, a cura para determinadas doenças está em simples soluções, como um bom diálogo entre os membros da própria família, ao contrário de tratamentos medicinais que podem curar os males do corpo, mas jamais os da alma.

Com direção cênica de Tadeu Aguiar, o espetáculo revela o complicado desafio que é produzir um roteiro do gênero, tamanho o peso de seu contexto e ainda aliado ao formato musical, que geralmente trabalha em cima de temas mais voltados para a comédia e o romance com final feliz.

Quase Normal é uma adaptação da Broadway e sua versão original foi ovacionada por público e crítica, ganhando três prêmios Tony e um Pulitzer. A riqueza deste roteiro é tão grandiosa que, na versão brasileira encenada no Teatro FAAP, dá impressão de ser maior que o próprio elenco que encena o espetáculo. Mas a brilhante atuação da atriz Vanessa Ceroni é espetacular. Ela consegue transmitir perfeitamente seus conflitos psíquicos ao público e ainda encarar muito bem a difícil missão de cantar em tom pesado e dramático.

Sua atuação é a que mais parece estar realmente envolta na grande dramaticidade existente por trás do roteiro, ofuscando o papel de outros atores, como Carol Futuro e Victor Maia (que interpreta o namorado de Natalie), que se limitam a fazer apenas o que é delineado, sem ousar mais e sem mergulhar de cabeça no papel, que exige uma grande entrega. Vale ainda destacar a atuação de André Dias interpretando os terapeutas que cuidam de Diana.


No que tange à produção musical, que tem direção de Liliane Secco, a mistura de clássico, jazz, heavy metal e, principalmente, rock britânico (que se encaixa perfeitamente com o contexto “ilustrando musicalmente” a tensão da situação vivida no palco), se dá de forma espetacular. Em cartaz no Teatro FAAP, em São Paulo, a peça permanece apenas até o dia 12 de maio, por isso ainda dá tempo de conferí-lo e descobrir que para ser feliz não é preciso ser normal, apenas quase normal.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas