O que é
normal para você? Será que existe um conceito unificado que possa explicar esse
questionamento? Numa sociedade repleta de diversidades comportamentais, na qual
ninguém é igual a ninguém, fica praticamente impossível formular uma única
definição para a palavra “normal”. Baseado
neste quesito e nos inúmeros conflitos que assolam o psicológico de muitas
famílias, o espetáculo musical Quase
Normal traz para os palcos uma complexidade de fortes emoções dramáticas,
repletas de mensagens que nos convidam a fazer uma análise pessoal interna de
como lidamos com nossos problemas.
A peça se
desenvolve em torno de Diana (Vanessa Gerbelli Ceroni), uma mulher que é
frequentemente atormentada por transtornos bipolares e visões de seu filho
primogênito jovem (Olavo Cavalheiro) – na realidade ele morreu ainda bebê. A
dificuldade em aceitar a morte do neném é que faz com que Diana vá agravando
seus transtornos psíquicos. Decorridos 17 anos da tragédia, ela continua
atormentada com a perda e mal consegue dar atenção à sua filha, que nasceu
pouco tempo depois da morte do menino.
A garota
cresce então revoltada com a repulsa da mãe por ela, enquanto seu pai (Cristiano
Gualda) tenta a todo o momento tranquilizar a esposa Diana e ensiná-la a ser
forte. Todavia, diante da piora comportamental da protagonista, ele decide levá-la
a um terapeuta (André Dias) e, a partir de então, inicia-se uma série de
sessões de tratamentos diversos, incluindo uma pilha de remédios a serem
tomados e até mesmo sessões de eletrochoque.
O
espetáculo nos convida a fazer uma série de reflexões sobre as conturbações
sentimentais que afligem o interior dos personagens, como o drama vivido não só
por Diana em não conseguir aceitar a morte do filho, como do próprio esposo que
se reveste de uma “armadura” para mostrar que superou a tragédia, quando na
verdade ele faz de tudo para não tocar no assunto e desabar em prantos como a
mulher.
Uma das
lições tiradas por este grande drama é que, às vezes, a cura para determinadas doenças está em simples soluções, como
um bom diálogo entre os membros da própria família, ao contrário de tratamentos
medicinais que podem curar os males do corpo, mas jamais os da alma.
Com direção
cênica de Tadeu Aguiar, o espetáculo revela o complicado desafio que é produzir
um roteiro do gênero, tamanho o peso de seu contexto e ainda aliado ao formato
musical, que geralmente trabalha em cima de temas mais voltados para a comédia
e o romance com final feliz.
Quase Normal é uma adaptação da
Broadway e sua versão original foi ovacionada por público e crítica, ganhando três prêmios Tony e um
Pulitzer. A riqueza deste roteiro é tão grandiosa que, na versão brasileira
encenada no Teatro FAAP, dá impressão de ser maior que o próprio elenco que
encena o espetáculo. Mas a brilhante atuação da atriz Vanessa Ceroni é
espetacular. Ela consegue transmitir perfeitamente seus conflitos psíquicos ao
público e ainda encarar muito bem a difícil missão de cantar em tom pesado e
dramático.
Sua atuação é a que mais parece estar realmente envolta na grande
dramaticidade existente por trás do roteiro, ofuscando o papel de outros atores,
como Carol Futuro e Victor Maia (que interpreta o namorado de Natalie), que se
limitam a fazer apenas o que é delineado, sem ousar mais e sem mergulhar de cabeça
no papel, que exige uma grande entrega. Vale ainda destacar a atuação de André
Dias interpretando os terapeutas que cuidam de Diana.
No que
tange à produção musical, que tem direção de Liliane Secco, a mistura de clássico,
jazz, heavy metal e, principalmente, rock britânico (que se encaixa
perfeitamente com o contexto “ilustrando musicalmente” a tensão da situação
vivida no palco), se dá de forma espetacular. Em cartaz no Teatro FAAP, em São Paulo , a peça
permanece apenas até o dia 12 de maio, por isso ainda dá tempo de conferí-lo e
descobrir que para ser feliz não é preciso ser normal, apenas quase normal.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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