Baseado na obra homônima escrita por Ángel Parra (filho de Violeta Parra),
o drama Violeta foi para o Céu traz
para os telões a biografia de uma das mais completas e famosas artistas
chilenas que este país já conheceu: Violeta Parra (1917-1967) - compositora,
cantora, artista plástica e ceramista – considerada personalidade símbolo deste
lindo, simpático e organizado país sul-americano. Seu talento não se resumiu a
ser reconhecido apenas pela população chilena, mas se destacou por diversos países
mundo afora, caracterizando-a como uma das maiores folcloristas
latino-americana do século XX.
O filme traz toda a intensidade das emoções que marcaram a vida da cantora
desde sua infância, quando ela teve de lidar com o pai alcoólatra e agressivo,
passando por suas relações amorosas, o começo, auge e declínio da carreira
artística, até o momento de seu trágico desfecho.
O diretor chileno Andrés Wood acerta em cheio ao filmar uma produção
cinematográfica de caráter tão intenso, exatamente como foi a vida da protagonista,
vivida brilhantemente pela atriz Francisca Gavilán. Wood consegue levar o
público para os bastidores da vida de Violeta de forma enérgica, criando um
vínculo afetivo entre espectadores e a artista ao transportá-los para um
convívio tão próximo com as aflições desta grande folclorista chilena.
Ele também inova na forma de narrar a biografia de Violeta Parra, ao
produzir cenas da vida da cantora de maneira totalmente desprovida de qualquer
linearidade cronológica, sendo a produção inteiramente composta por diversos
fragmentos da vida de Violeta que incluem a infância, a ascendência e a
decadência profissionais, as paixões... enfim todas se misturam e se alternam
nos telões de modo que o público avance e ao mesmo tempo retroceda na linha do
tempo da cantora em diversas vezes, compartilhando de seus sentimentos e
experiências.
No entanto, tal diferenciação em se narrar a biografia da folclorista
não chega a confundir a cabeça da plateia, mas deixa algumas incógnitas sobre o
desenrolar de certos fatos que aconteceram em sua vida e não são apresentados
nos telões, já que o filme se assemelha a uma exposição de quadros individualistas
que, como já dito, não necessariamente possuem uma ligação cronológica entre
si.
Mas tal aspecto não empobrece a grandeza do filme, enriquecido
principalmente pela magnífica atuação de Francisca Gavilán, incorporando a
personagem de forma intensa e realística. A expressão facial da atriz é muito
bem trabalhada de maneira que ela mantém a imagem melodramática de Violeta do
começo ao fim da trama, passando todas as suas aflições internas através apenas
do excelente trabalho de atuação corporal. Isso aliado também não só à brilhante
trilha sonora que retrata a trajetória e o repertório da personagem, como a
música mais tocada que o casa com a atriz que o interpreta, realçada ao final
da trama.
Vale conferir esta surpresa nos telões, assim como emocionar-se com a
vida desta grande folclorista que desde a infância teve uma vida humilde e
pobre, adorava o campo e, principalmente, sentir o calor do povo que a aclamava
em suas apresentações, sempre mantendo uma íntima e estreita proximidade com
eles.
Em 2012, o filme venceu a competição internacional do Festival Sundance,
ganhou o Prêmio do Público no Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, o "Grand Jury Discretionary Prize" no Festival de Cinema Internacional de Miami, além de vários outros que já lhe foram conferidos.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
Por Mariana da Cruz Mascarenhas