quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Maria do Caritó




Dotada de um humor leve e bem trabalhado, a peça Maria do Caritó arranca gostosas risadas da plateia ao trazer para os palcos um pouco da cultura nordestina – que por si só, exala toda uma expressividade típica do povo da região – agregada a um teatro voltado muito mais para a exteriorização dos sentimentos, expressos no corpo e na face dos personagens de modo tão intenso que chega a ganhar toques surreais perfeitamente encaixados no contexto do enredo.

A trama narra a história de uma mulher virgem prestes a completar 50 anos, chamada Maria do Caritó (papel de Lilia Cabral), que foi prometida a “São Djalminha” após ter nascido de um parto difícil, segundo narra seu pai (Fernando Neves). Desesperada para encontrar um noivo que se apaixone por ela de verdade, a carismática solteirona se lança a todos os tipos de simpatia e promessas para Santo Antônio, a fim de encontrar sua cara metade.

Seu pai é quem acaba não gostando nada da história, alegando que a filha está cometendo uma espécie de “traição” com São Djalminha, ao pedir um marido para Santo Antônio. Além disso, ela é conhecida por toda a região onde mora como Santa Maria do Caritó por fazer “milagres” a todos que lhe pedem auxílio, mas ela mesma afirma não ser santa e que aqueles que a procuram são curados em razão da própria fé.

A suposta “santa” vê a chance de viver um grande amor quando conhece uma trupe circense que chega à cidade nordestina onde ela mora. Depois de ouvir de uma cartomante (também interpretada por Fernando Neves) que encontraria o seu “príncipe encantado” em um circo que passaria pela região, ela se apaixona por um dos artistas da trupe (papel de Eduardo Reyes) acreditando ser ele o homem de seus sonhos.

Para conquistá-lo, resolve participar do espetáculo atuando como palhaça, escondida de seu pai, que ficaria furioso se soubesse que a filha está enturmada com um grupo circense, o qual para ele é símbolo de baixaria e impureza. A partir de então, altas confusões acontecem envolvendo principalmente a protagonista, seu pai e toda a turma do circo.

Com um cenário simples, composto por vários apetrechos que fazem alusão a muitas cidades nordestinas repletas de humildes casas, cujos moradores seguem preceitos bem tradicionalistas e conservadores, o espetáculo revive essa cultura tão enraizada em nosso país através mesmo é do elenco, pois este incorpora perfeitamente os papéis, levando o público a viajar para essa humilde região nordestina habitada por personagens tão engraçados e encantadores.

Todas as inquietações sentimentais de Maria do Caritó e as confusões em que ela se mete são brilhantemente interpretadas por Lilia Cabral, que mantém o mesmo nível enérgico para o seu papel do começo ao fim, sem errar nas doses de atuação. Ela faz excelentes incorporações, encarando até mesmo imitações cômicas em determinado momento da peça, que chegam a arrancar aplausos do público.

Mas a grande atuação de Lilia não chega a ofuscar o trabalho dos demais atores que também não deixam a desejar e produzem uma atuação conjunta que se constitui no verdadeiro destaque do espetáculo. A atriz Dani Barros, por exemplo, que encara várias personagens que aparecem no caminho da protagonista durante a trama, dá um show de expressão corporal, interpretando até mesmo uma galinha desengonçada.

Escrita por Newton Moreno e dirigida por João Fonseca, a peça é uma excelente indicação para quem quiser se divertir com um humor leve e descontraído.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Hamlet




Interpretar um clássico teatral não é tarefa fácil, além de exigir de todo o elenco e direção um completo conhecimento dos personagens, enredo, contexto histórico e, principalmente, os sentimentos que surgem por trás da trama, é necessário saber identificar e transmitir ao público aquele toque especial que faz a história se consagrar por gerações e gerações alcançando a imortalidade, tamanho é o seu sucesso.

E obviamente não seria diferente com as obras de um dos maiores dramaturgos que o mundo já conheceu: William Shakespeare. Seu talento consistia em colocar o ser humano e suas fraquezas como o tema de muitas peças, passando mensagens morais de forma sutil, de acordo com os estilos classicistas e tradicionais daquela época, e, ao mesmo tempo, combinar imagens e ações que transmitiam e transmitem à plateia o verdadeiro objetivo da trama.

 É assim em Hamlet, um dos exemplos mais concretos de como Shakespeare era genioso ao expor a “podridão” da sociedade em uma mistura de ironia, mentiras, traições – entre outras fraquezas próprias do ser humano – que são suavizadas e intensificadas ao mesmo tempo.

Toda essa combinação sentimental que influencia gerações por séculos e séculos é representada nos palcos do Teatro Tuca, em São Paulo, onde Thiago Lacerda é Hamlet, o príncipe dinamarquês que, ao ser assombrado pelo fantasma do pai, (papel de Antonio Petrin) – que o alerta dizendo ter sido assassinado pelo seu próprio irmão Cláudio (Eduardo Smerjian), tio de Hamlet, para se tornar rei da Dinamarca – pensa numa forma de vingá-lo para alívio da alma de seu pai.

Ao se deparar com sua mãe (Selma Egrei) se casando com Cláudio, Hamlet se desespera ainda mais, pois não aceita que ela se case com o tio, passado tão pouco tempo da morte de seu verdadeiro marido. Então o príncipe pensa em uma forma de descobrir se Cláudio é realmente o assassino para, a partir daí, perpetrar sua vingança.

O genial toque shakesperiano ocorre quando o príncipe dinamarquês finge estar louco para confundir os integrantes do reino que convivem com ele, conseguindo assim revelar, frente à plateia, a verdadeira personalidade de muitos personagens que vivem sob aparências. Ele chega até mesmo a fingir estar apaixonado por Ofélia (Anna Guilhermina), a filha de Polônio (Roney Fachini), o conselheiro-chefe do rei Cláudio, para que enquanto os outros atribuam a sua insanidade ao amor não correspondido da garota, ele possa cumprir suas metas e revelar os segredos mais profundos escondidos naquele reino.

Hamlet é o exemplo típico de peça que exige de toda a equipe teatral o desafio de encontrar a dose certa de interpretação para se imergir nos personagens, de modo que porcentagens mínimas de excessos ou reduções interpretativas se desviam do propósito da peça e deixam de ter o caráter shakesperiano. Mas Lacerda parece ter encontrado o tom certo do seu Hamlet, revelando à plateia toda a intensidade e vivacidade do personagem.

Apesar de não ousar em cena, pois é perceptível que o ator cumpre a risca tudo que está traçado no roteiro, sem arriscar inovações que possam se encaixar ao personagem, o ator consegue se destacar e deixar nítido para o público o seu crescimento em cena à medida que a peça se desenrola.

Vale ainda destacar a excepcional atuação de dois integrantes do elenco: o primeiro é Antônio Petrin no papel do fantasma. O ator trabalha seu personagem de forma tão enérgica e intensa que chega até mesmo a roubar a atenção da plateia sobre Hamlet em alguns momentos que contracena com Lacerda.

Toques humorísticos bem aplicados no contexto couberam ao ator Roney Fachini, que descontraiu o público em diversos momentos ao interpretar Polônio e um coveiro, este que já traz dentro de si uma comicidade muito bem explícita no palco do teatro Tuca. É o segundo grande destaque da montagem.

Dirigido por Ron Daniels, o espetáculo se desvia um pouco da originalidade da obra ao contar a história em um período à frente daquele em que a trama é narrada por Shakespeare, mas não deixa de preservar momentos tão valiosos como o desfecho trágico da peça que leva a plateia para junto das ações ocorridas no palco.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Intocáveis




Produção francesa dirigida por Olivier Nakache e Eric Toledano, Intocáveis comove os espectadores ao mostrar a emocionante história de amizade e motivação que surge entre duas pessoas de estilo de vida completamente distintos: Driss (papel de Omar Sy) e Philippe (François Cluzet). Enquanto o primeiro é um homem negro vindo da periferia e com precárias condições sociais, o segundo é um milionário tetraplégico que até então vivia sem muitas perspectivas de vida. 

Este cenário muda completamente a partir do momento em que Driss é apresentado a Philippe pela primeira vez, quando este procura contratar um cuidador para ele. A aproximação dos dois denota o grande destaque desta produção em relação às comédias dramáticas convencionais. A forma como Driss lida com o problema de seu companheiro deficiente é dotada de um caráter emocional e ao mesmo tempo cômico.

Phillipe cria grande empatia pela forma como é tratado por Driss. O homem simples da periferia não o enxerga como um deficiente de cadeira de rodas que mal pode se locomover, mas sim como alguém que pode aproveitar a vida da melhor forma possível. Ao contrário do comportamento de muitos, Driss não tem pena de Phillipe e encara a situação normalmente. É justamente essa visão diferente que cria tanta afeição entre os dois.

A abordagem feita sobre a história se dá de forma espetacular por mesclar drama e comédia de modo sutil, eufemístico, com uma dosagem muito maior do segundo gênero do que o primeiro, já que em toda a trama é possível surpreender-se com divertidas cenas das trapalhadas de Driss tentando cuidar de seu companheiro.

Esta produção francesa quebra o paradigma de muitas comédias dramáticas que intensificam as histórias acrescentando um grande peso ao contexto apresentado, o qual, muitas vezes, se encerra em um trágico desfecho. Intocáveis apresenta diferentes pontos de vista de se encarar os grandes problemas do dia a dia de modo a criar uma linha motivacional dotada de felicidade. A lição tirada é que o agravamento dos problemas da vida dependem do tamanho da força de vontade e do sorriso que possuímos para recebê-los.

Com um trabalho técnico simples, claro e objetivo, composto de enquadramentos e jogos de plano e contraplano básicos, esta produção toca o coração de seus espectadores pela excelente história, que se destaca à frente de todos os demais aspectos cinematográficos – sem contar o incrível trabalho de Omar Sy, que está totalmente entregue ao personagem de Driss, passando com grande veracidade a imensurável amizade nutrida por Philippe. Baseado em fatos reais.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Hiperativo




Em uma apresentação única realizada no espaço do HSBC Brasil, o comediante Paulo Gustavo, conhecido por apresentar um programa de humor chamado 220 volts, exibido no Multishow, entreteve a plateia do começo ao fim do espetáculo.

Com cerca de 80 minutos de duração, Hiperativo trouxe para os palcos um pouco do trabalho retratado pelo ator em seu programa de TV. Apresentado em forma de stand-up comedy o monólogo teatral contou com diversas situações do cotidiano dotadas de excelentes toques de humor e muito bem trabalhadas por Paulo Gustavo.

Dirigido por Fernando Caruso, o monológo conta com um texto bem escrito, criativo e que, aliado à excelente atuação do ator, formaram uma combinação perfeita para que o público desse altas gargalhadas, destacando as várias inusitadas situações narradas que nos levam automaticamente ao riso, como nos momentos em que Paulo relata os sufocos vividos em viagens de avião com uma comicidade espetacular.

O improviso se deu de forma muito bem feita de maneira a ganhar fluidez e linearidade nas narrações das piadas. A destacada atuação de Paulo Gustavo deve ser creditada ao seu humor totalmente desvinculado de piadas humilhantes, agressivas ou preconceituosas – algo que vem se tornado cada vez menos frequente em muitos stand-ups, cujos humoristas, no auge da ignorância, se valem apenas de ofensas e de tiradas de conotação sexual, acreditando serem estas a verdadeira motivação humorística.

Diante deste cenário o ator Paulo Gustavo apresenta-se como um verdadeiro exemplo de trabalho cômico, ao mostrar que o humor não reside na prática preconceituosa e sim na capacidade intelectual de produzir piadas simples e que agradem a todos. Assim ele demonstra seu cuidado em elaborar piadas inteligentes produzidas para um público versado e de bom gosto.

Antes de passar pelo espaço do HSBC Brasil o espetáculo também permaneceu um bom tempo em cartaz no Teatro Frei Caneca.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 22 de setembro de 2012

Tropicália



Filme-documentário do diretor Marcelo Machado nos seus 90 minutos de duração aborda um dos mais importantes movimentos artísticos do país, surgido nos estertores da década de 1960, traçando um paralelo aos acontecimentos políticos da época, com foco nos seus precursores Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Com base numa profunda e trabalhosa pesquisa histórica em arquivos de jornais, revistas, shows e filmes, montado sobre uma sequência destes documentos com a produção executiva do consagrado diretor Fernando Meirelles, Tropicália se transforma numa romântica máquina do tempo, dando a oportunidade daqueles que testemunharam esse período histórico de reviverem as emoções, o desprendimento e o romantismo da música e da cultura popular brasileira, ao mesmo tempo que recordam as agruras do regime militar – ou despertando a consciência daqueles que, como eu, à época apenas uma criança, passavam à margem dos acontecimentos sem se aperceberem da gravidade e das consequências do momento histórico.

A meu ver, embora desprovido de grandes efeitos e do brilho comum aos filmes das grandes bilheterias, em virtude do material existente à época dos registros, a produção segue o pensamento exposto brilhantemente por Caetano na sua primeira aparição no filme, quando entrevistado pelos apresentadores portugueses: no exílio, perguntado sobre o sentimento anti-norte-americano demonstrado nas manifestações contra a ditadura militar, que ele não via a Tropicália como algo contra o americano, mas que em seu entender  devemos imitar aquilo que o povo dos Estados Unidos tem de mais positivo, ou seja, de valorizar sua própria história e cultura, num recado ao povo brasileiro.

A meu ver, embora desprovido de grandes efeitos e do brilho comum aos filmes das grandes bilheterias, em virtude do material existente à época dos registros, a produção segue o pensamento exposto brilhantemente por Caetano na sua primeira aparição no filme, quando entrevistado pelos apresentadores portugueses, no exílio, perguntado sobre o sentimento anti-norte-americano demonstrado nas manifestações contra a ditadura militar, que ele não via a Tropicália como algo contra o americano, mas que em seu entender que devemos imitar aquilo que o povo dos Estados Unidos tem de mais positivo, ou seja, de valorizar sua própria história e cultura, num recado ao povo brasileiro.

Embalados pelas canções de enorme movimento e musicalidade que se revezam com depoimentos de figuras proeminentes da cultura brasileira e fundamentais para seu crescimento, como Tom Zé, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), tive a oportunidade de assistir ao resgate de vídeos dos festivais da Record, a shows e entrevistas ligados ao histórico do movimento tropicalista e registros únicos como o do show happening de Caetano e Mutantes na boate Sucata, no Rio, e apresentação da Jovem Guarda, com Roberto Carlos. Além dos principais protagonistas Caetano e Gil, apresentações de Gal Costa, o filme foca com grande intensidade, como um marco para o movimento, a participação de Os Mutantes, com Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Batista, com as imagens divididas entre os anos de1967, 68 e 69.

Destaque para uma filmagem jamais divulgada, rara e sem igual do Festival da Ilha de Wight, no interior da Inglaterra, no mesmo ano em que tocaram artistas como Miles Davis, The Doors e Jimi Hendrix.

Na sessão a qual assisti, que contou com uma parte da grande equipe de produção, tive o privilégio de presenciar a abertura feita pelo diretor e duas produtoras do filme. Eles ressaltaram a importância do movimento para a construção da identidade da cultura nacional na música, cinema e artes plásticas.

E é isso que, a despeito de qualquer produção com o requinte dos grandes patrocinadores e da indústria cinematográfica, Marcelo Machado e sua equipe nos transmitem neste brilhante trabalho: mostrar o que a história e a cultura brasileira têm de mais rico. Vale a pena conferir e recordar – ou fazer uma viagem ao passado.

Por Sérgio Eduardo Nadur

domingo, 16 de setembro de 2012

360




Com direção de Fernando Meirelles 360 coloca os espectadores como meros observadores de uma série de conflitos emocionais envolvendo personagens de diferentes locais do mundo, os quais acabam se interligando e, de certa forma, fechando um círculo de relações.

Na trama Jude Law é Michael Daly, um executivo inglês que está prestes a ter uma aventura com uma prostituta eslovaca (Lucia Siposová) em Viena, enquanto a mulher dele (Rachel Weisz), residente em Londres, tenta por fim a um caso que está tendo com seu amante (papel do brasileiro Juliano Cazzaré), cuja namorada (interpretada pela também brasileira Maria Flor) descobre estar sendo traída e resolve voltar para o Rio de Janeiro. No caminho de volta ela conhece um senhor (Anthony Hopkins) que lhe faz companhia durante o voo e um ex-presidiário (Ben Foster) que havia sido preso por diversos crimes sexuais e a encontra no aeroporto de Miami.

Um muçulmano - que se apaixona perdidamente por uma russa que é casada, precisa lidar com a árdua dúvida de se entregar a este sentimento ou não, em razão dela ser comprometida e da religião dele possuir preceitos extremamente rigorosos condenando este tipo de amor - também integra esse envolvente círculo de conturbações amorosas entre os personagens do filme.

Meirelles não somente soube colocar o espectador como um observador próximo dos personagens – diante dos planos de filmagem em que a câmera enquadra as cenas focalizando as ações e pontos de vista sobre o ocorrido – nos inserindo dentro do ambiente sem participamos dele como, paradoxalmente, nos coloca no lugar do personagem em razão da sucessão de planos-detalhe e do movimento de câmera que acelera ou diminui na proporção da intensidade emocional das cenas.

Com uma menor parte das cenas filmadas em planos totalmente abertos, esta produção cinematográfica, além de permitir rodarmos 360 graus passando pelos conflitos dos personagens e também pelos países de onde eles se encontram – Eslováquia, Áustria, Inglaterra, França e Estados Unidos, com flashes de uma praia do Rio – inova em seu contexto de um jeito muito bem trabalhado e ressaltado por Meirelles.

Nesta trama, que envolve muitas traições, o diretor já nos apresenta logo de cara as situações embaraçosas em que os personagens estão envolvidos, de forma que muitos destes tentarão retornar para os hábitos considerados corretos ao se livrarem de seus amores proibidos e dos fatos que os prendem ao passado. Assim, o diretor traz aos telões uma linha oposta às apresentadas por muitas produções, já que ele começa com relações ou paixões não permitidas e procura convergir para o desprendimento destas ações atingindo um equilíbrio, o qual só pode ser alcançado depois de conhecerem os extremos do certo e do errado.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Família Addams



Baseada na criação do cartunista Charles Addams, que inspirou uma das séries de televisão norte-americana mais conhecidas mundialmente, A Família Addams chega agora aos palcos do Teatro Abril em forma de musical, cuja primeira versão estreou na Broadway em 2010.

Essa simpática, divertida e ao mesmo tempo atípica família, cujos gostos são extremamente anormais para qualquer outro cidadão comum e que envolvem o grande apreço deles por sofrimento, morte, trevas, entre outras coisas do gênero – é muito bem retrata neste musical dirigido por Cláudio Botelho: Gomez, interpretado por Daniel Boaventura, é o chefe da família que, apesar de aparentar extrema sisudez, esconde um coração mole que se revela principalmente diante dos pedidos feitos por sua esposa Mortícia (interpretado por Marisa Orth) e sua filha Vandinha (papel de Laura Lobo), os quais ele não consegue negar.

Vandinha, filha do casal, se apaixona por um menino comum (Beto Sargentelli) e os dois pretendem se casar. No entanto, hilárias confusões servirão de entrave para que os pombinhos fiquem juntos, a começar pelo momento em que os pais do namorado de Vandinha vão até a casa dos Addams para um jantar e as diferenças entre as famílias se tornam tão evidentes que os conflitos surgidos a partir daí proporcionam diversão garantida para a plateia do Teatro Abril.

A história muito bem conduzida e dotada de vários toques humorísticos, que entretém o público do começo ao fim, é apenas um dos aspectos que compõem o espetáculo em toda sua genialidade. A interpretação de Daniel Boaventura para o personagem Gomez se dá de forma envolvente, interativa e complexa, já que o ator oscila sua voz entre tons completamente diferentes por meio de uma brincadeira vocal muito bem trabalhada, além, é claro, da excelente voz de BoaVentura, tanto na entonação das falas quanto nas canções, conferindo-lhe um destaque tal que exige dos demais uma performance também exuberante.

A voz de Laura Lobo também soa maravilhosamente bem aos ouvidos da plateia durante as canções entoadas por Vandinha. Vale ainda destacar o trabalho de Nicholas Torres, conhecido por interpretar o personagem Jaime da atual novela Carrossel, que na peça encara o Feioso, irmão de Vandinha, papel também feito por mais dois atores mirins que se revezam nas apresentações.

Com um elenco formado por 27 atores e 12 instrumentistas, o musical se destaca não somente pela bela atuação e história, como pela composição de belíssimos e impecáveis cenários que se renovam durante todo o espetáculo , bem como pelo excelente trabalho corporal refletido no sincronismo perfeito das coreografias.

Pode-se dizer que Botelho – e sua equipe – acertou em todos os quesitos ao fazer com que esta peça – ao contrário de algumas outras produções musicais, que não deixam de conquistar plateias, mas investem em aspectos como história, coreografia, etc... de forma muito mais intensa do que nos demais – se consagre em todos eles, e por onde o público olhar e avaliar verá um excelente trabalho. Vale a pena conferir e se divertir com as confusões que tomam conta do castelo dos Addams em um musical considerado de extrema excelência por todo seu conjunto. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 26 de agosto de 2012

Rodriguianas: Tragédias Para Rir



Em comemoração aos 100 anos de Nelson Rodrigues - um dos maiores dramaturgos brasileiros que o país já conheceu, autor de obras que contribuíram para enriquecer culturalmente não apenas telinhas e telões das TVs e cinemas como também dos palcos nacionais, ao perpetrar um estilo no mundo teatral escrevendo peças tão complexas e analíticas  sobre a nossa realidade social – Rodriguianas: Tragédias Para Rir trata-se de uma montagem baseada em oito contos escritos pelo também jornalista Nelson Rodrigues e publicados na coluna “A vida como ela é” do jornal “A Última Hora” em 1950.

Dirigida por Luís Artur Nunes, a montagem faz uma criativa e inteligente adaptação da obra de Nelson ao personificá-la com toques humorísticos e satíricos, simultaneamente emprestando-lhe uma nova visão sobre o trabalho do dramaturgo sem se desvincular do contexto original.

O espetáculo também busca inovar, ao sair do plano real e preencher as histórias com atuações fantasiosas, representativas e até mesmo sensacionalistas, conferindo-lhe grande comicidade. O diretor acerta em cheio ao proporcionar um excelente trabalho de expressão corporal e facial realizado pelos atores, que contribuem fortemente para o sentido conotativo da peça e dão o ar da graça, fazendo com que o público se divirta do começo ao fim.

Cada conto é repassado de uma maneira diferente de modo que os exercícios cênicos de incorporação, brincadeira e troca de personagens, entre outros, estão fortemente presentes. A duração aproximada de 80 minutos nem chega a ser percebida pela plateia, que se entretém do começo ao fim com as histórias de Nelson,  muito bem conduzidas e apresentadas neste período.

Vale muito a pena se divertir e conferir como é possível trabalhar diferentes pontos de vista e formas de expressão sob uma mesma obra. O espetáculo permanece em cartaz em São Paulo até o dia 2 de setembro no Centro Cultural Banco do Brasil. 

Por Mariana Mascarenhas

domingo, 19 de agosto de 2012

Comício Gargalhada



Em única apresentação realizada no espaço do HSBC Brasil em 20 de julho,  o ator Rodrigo Santana, que se consagrou na comédia ao interpretar a famosa personagem Valéria Bandida no programa de TV “Zorra Total”, encarou diversos personagens no monólogo humorístico Comício Gargalhada.

Com duração aproximada de 65 minutos, o espetáculo não poderia deixar de apresentar à plateia os personagens que encantam os telespectadores durante todas as noites de sábado nas telinhas da Globo, no Zorra Total: a mendiga do metrô, Adelaide – que abriu a peça já se interagindo com algumas pessoas da plateia – e a personagem Valéria – que fez o desfecho do espetáculo de forma bem humorada.

Um homossexual, um sensitivo e até mesmo uma espevitada cantora de axé são alguns dos papéis interpretados por Rodrigo Santana na peça. Apesar de arrancar fortes risadas da plateia em momentos variados, o ator apresenta cada um de seus personagens de modo breve e sem prolongamento das piadas. Até mesmo a apresentação da personagem Valéria se dá de forma curta, sendo que poderia ser mais trabalhada, ter uma maior continuidade e interatividade com os espectadores.

Muitas piadas são divertidas e nos entretém, todavia os textos carecem de um maior conteúdo e enriquecimento para que cada personagem possa ser melhor apresentado, de forma que o espetáculo não acabe repentinamente, provocando uma quebra na expectativa do público, que talvez tenha ficado com um gostinho de “quero mais”.

Dirigido e escrito por Rodrigo Santana, Comício Gargalhada já passou por outros estados brasileiros, como Espírito Santo e Pernambuco, e pode voltar a realizar novas apresentações aqui em São Paulo.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Para Roma Com Amor




De forma descontraída e dotada de um humor leve, bem trabalhado e envolvente, a trama de Para Roma com Amor é mais uma produção do cineasta Woody Allen, que após ter filmado na Inglaterra, Espanha e França, escolhe a Itália como pano de fundo para este seu novo filme.

Como é de praxe em suas produções, Allen mescla a beleza da cidade filmada às situações embaraçosas e simultaneamente de caráter algo leviano nas quais os personagens se envolvem.

Sua participação no filme é um dos destaques humorísticos, ao entreter e divertir a plateia com suas tiradas. Neste último roteiro do diretor norte-americano, quatro histórias dotadas de aspectos surreais acontecem simultaneamente em tempos diferentes.

Na primeira trama ele interpreta um empresário musical norte-americano aposentado que não obteve muito sucesso em sua carreira e está em busca de uma nova chance, na esperança de se alavancar profissionalmente. Ao desembarcar na Itália junto com a mulher para conhecer seu mais novo genro, ele descobre no pai do noivo de sua filha a chance que queria quando o escuta cantando ópera no chuveiro e demonstra grande talento vocal.

Depois de o grande cantor fracassar em alguns testes vocais, o empresário descobre que o homem só consegue soltar sua voz de verdade debaixo do chuveiro e resolve montar até mesmo um espetáculo musical com o cantor sem que ele se separe de sua ducha.

O surrealismo também está fortemente presente em outra história, que traz uma sutil e bem trabalhada crítica às vidas rotineiras desprovidas de surpresas, através do monótono e metódico personagem que não passa de um cidadão comum, mas que, de um dia para o outro, é surpreendido por centenas de jornalistas à sua porta. O espanto do simples homem aumenta ainda mais à medida que ele dá entrevistas respondendo a perguntas totalmente fúteis, como o que comeu no café da manhã, se choverá ou não, o que faz com que ele aumente cada vez mais sua popularidade.

Outro segmento da trama nos mostra um rapaz recém-casado que aguarda pela chegada dos tios para que estes conheçam sua esposa. Enquanto ela vai ao cabeleireiro se arrumar, o homem é surpreendido pela chegada de uma prostituta em sua casa (interpretada por Penélope Cruz) a qual é confundida com a mulher do rapaz pelos parentes dele. Enquanto a garota de programa acaba sendo obrigada a se passar pela esposa dele, a verdadeira mulher também enfrenta altas confusões ao se encontrar pessoalmente com seu ator preferido, que a chama para jantar.

Talvez o segmento do filme mais desprovido de toques humorísticos e surpreendentes, conferindo até mesmo certa monotonia, seja a história de um casal de namorados cuja garota abriga a amiga na casa deles por um tempo e o rapaz (interpretado por Jesse Eisenberg, de A Rede Social) acaba se apaixonando loucamente pela amiga da namorada.

Vale a pena conferir e se divertir com os humores surreais trazidos por Allen enquanto nos deliciamos com as belezas históricas de Roma.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 22 de julho de 2012

Fame: o musical




Um clima jovial, com muita dança e animação, invade o palco do teatro Frei Caneca e leva a plateia a entrar no mundo das intensas e variadas emoções típicas da era da adolescência: é o musical Fame, que permanece em cartaz até o dia 29 de julho.

Inspirada na produção cinematográfica de 1980, a peça é montada pela primeira vez no Brasil e conta com um jovem elenco composto por 33 atores. Eles trazem para o palco a história de personagens adolescentes que se conhecem em uma escola de artes, onde encontrarão na dança, na música e no teatro o estímulo para lutarem por seus sonhos, desenvolverem seus talentos e enfrentarem os dramas pessoais.

Conforme o desenrolar da trama o público vai se envolvendo com os medos, dramas e angústias que afligem muitos dos personagens, que enfrentam problemas como drogas, o preconceito por ser pobre e disléxico, entre outros conflitos.

Em geral os atores conseguem prender a plateia muito mais pelos números musicais do que pela história em si, já que esta apresenta uma linearidade desprovida de surpresas e inovações no começo, meio e fim da trama.

O elenco comete pequenos deslizes em razão da falta de maior prontidão e agilidade na sincronização dos movimentos feitos nas coreografias, mas nada que quebre o encanto das cenas e disperse os olhos da plateia. Quanto ao trabalho vocal, apesar de alguns destaques, muitos atores se dedicaram a cantar de forma convencional, sem destacar a voz, demonstrando disposição de fazer apenas o que lhes foi proposto. Talvez a ausência de maior ousadia, entrega e crença nos personagens por parte do elenco tenha contribuído para tal.

Compete destacar o excelente trabalho de Giulia Nadruz como uma das exceções no quesito voz. Ao interpretar uma das protagonistas da trama, a atriz, além de estar totalmente entregue ao seu personagem na interpretação, também ‘imerge’ na história através de sua excelente voz, conseguindo passar para a plateia toda a emoção presente no palco através das canções cantadas por ela.

Também vale realçar as excelentes expressões corporais e vocais da atriz Corina Sabbas, que assumiu de vez o papel na peça, substituindo a atriz Paloma Bernardi. Corina confere um grande desfecho para a peça em uma cena que talvez seja a mais dotada de quebra de linearidade e de um ar surpreendente para o público.

Por Mariana Mascarenhas

domingo, 24 de junho de 2012

Violeta foi para o Céu




Baseado na obra homônima escrita por Ángel Parra (filho de Violeta Parra), o drama Violeta foi para o Céu traz para os telões a biografia de uma das mais completas e famosas artistas chilenas que este país já conheceu: Violeta Parra (1917-1967) - compositora, cantora, artista plástica e ceramista – considerada personalidade símbolo deste lindo, simpático e organizado país sul-americano. Seu talento não se resumiu a ser reconhecido apenas pela população chilena, mas se destacou por diversos países mundo afora, caracterizando-a como uma das maiores folcloristas latino-americana do século XX.

O filme traz toda a intensidade das emoções que marcaram a vida da cantora desde sua infância, quando ela teve de lidar com o pai alcoólatra e agressivo, passando por suas relações amorosas, o começo, auge e declínio da carreira artística, até o momento de seu trágico desfecho.

O diretor chileno Andrés Wood acerta em cheio ao filmar uma produção cinematográfica de caráter tão intenso, exatamente como foi a vida da protagonista, vivida brilhantemente pela atriz Francisca Gavilán. Wood consegue levar o público para os bastidores da vida de Violeta de forma enérgica, criando um vínculo afetivo entre espectadores e a artista ao transportá-los para um convívio tão próximo com as aflições desta grande folclorista chilena.

Ele também inova na forma de narrar a biografia de Violeta Parra, ao produzir cenas da vida da cantora de maneira totalmente desprovida de qualquer linearidade cronológica, sendo a produção inteiramente composta por diversos fragmentos da vida de Violeta que incluem a infância, a ascendência e a decadência profissionais, as paixões... enfim todas se misturam e se alternam nos telões de modo que o público avance e ao mesmo tempo retroceda na linha do tempo da cantora em diversas vezes, compartilhando de seus sentimentos e experiências.

No entanto, tal diferenciação em se narrar a biografia da folclorista não chega a confundir a cabeça da plateia, mas deixa algumas incógnitas sobre o desenrolar de certos fatos que aconteceram em sua vida e não são apresentados nos telões, já que o filme se assemelha a uma exposição de quadros individualistas que, como já dito, não necessariamente possuem uma ligação cronológica entre si.

Mas tal aspecto não empobrece a grandeza do filme, enriquecido principalmente pela magnífica atuação de Francisca Gavilán, incorporando a personagem de forma intensa e realística. A expressão facial da atriz é muito bem trabalhada de maneira que ela mantém a imagem melodramática de Violeta do começo ao fim da trama, passando todas as suas aflições internas através apenas do excelente trabalho de atuação corporal. Isso aliado também não só à brilhante trilha sonora que retrata a trajetória e o repertório da personagem, como a música mais tocada que o casa com a atriz que o interpreta, realçada ao final da trama.

Vale conferir esta surpresa nos telões, assim como emocionar-se com a vida desta grande folclorista que desde a infância teve uma vida humilde e pobre, adorava o campo e, principalmente, sentir o calor do povo que a aclamava em suas apresentações, sempre mantendo uma íntima e estreita proximidade com eles.

Em 2012, o filme venceu a competição internacional do Festival Sundance, ganhou o Prêmio do Público no Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, o "Grand Jury Discretionary Prize" no Festival de Cinema Internacional de Miami, além de vários outros que já lhe foram conferidos.


Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 20 de maio de 2012

Um Violinista no Telhado



Estamos em um vilarejo russo habitado por diversos moradores judeus, incluindo um humilde leiteiro que vive com a mulher e cinco filhas em uma simples casa. A tradição e o conservadorismo de décadas passadas estão fortemente presentes na trama, que se passa na época em que mulheres e homens não se misturavam em ambientes sociais e filhas eram prometidas em casamento pelos pais. Assim acontece no musical Um Violinista no Telhado que permanecerá em cartaz até 15 de julho no teatro Alfa.

O espetáculo conta com a participação de José Mayer vivendo o protagonista e se destacando com uma excelente atuação ao incorporar Tevye, o leiteiro judeu, um personagem dotado de trejeitos e falas que provocam altas risadas na plateia do começo ao fim da peça. Apesar de se mostrar rígido e conservador no dever de suas missões, o leiteiro revela ter um ótimo coração, principalmente quando se trata de suas filhas.

A trama foca os conflitos vividos pelo protagonista, sua mulher (interpretada brilhantemente pela atriz Soraya Ravenle) e as três filhas mais velhas do casal, que querem se casar com rapazes por quem se apaixonaram. A princípio essas decisões desagradam profundamente os pais, primeiro pelo fato das garotas estarem desrespeitando um regime tradicionalista de se casarem com aquele que o pai ou a mãe escolher e segundo pela condição de cada um deles (dois são de baixa renda e um não é judeu).

Composto por uma história dotada de simplicidade e desprovida de acontecimentos muito envolventes, Um Violinista no Telhado desperta os olhares da plateia muito mais pelos números musicais, repletos de coreografias bem encenadas, do que pela trama em si. A atuação de José Mayer também colabora para engrandecer o espetáculo, já que o ator encara o personagem de uma forma tão natural e atraente criando um vínculo afetivo entre o público e o divertido leiteiro.

Adaptado por Claudio Botelho, a peça foi encenada na Broadway pela primeira vez em 1964 e agora chega a São Paulo. Vale a pena conferir e descobrir a mensagem que a peça traz ao fazer uma analogia entre o regime tradicionalista, que imperava na época, e o que a cena de um violinista tocando no telhado pode representar em contrapartida a essa tradição vigorosa.

Por Mariana Mascarenhas
  

terça-feira, 8 de maio de 2012

Titanic em 3D




Um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema volta aos telões quinze anos depois de sua estreia, em 1997. A mega produção de Titanic procura agora – no ano em que se celebra o trágico acidente real ocorrido com o navio – se aproximar ainda mais do público ao ganhar uma tecnologia aprimorada e ser rodada na versão 3D.

O filme revive não apenas a tragédia realmente ocorrida no século passado, mas incorpora uma versão do clássico Romeu e Julieta trazendo a história de um improvável e ao mesmo tempo magnífico e envolvente amor entre Rose (Kate Winslet), uma dama da alta sociedade, e Jack (Leonardo Di Caprio), um homem simples e bon vivant das classes populares que se sustenta desenhando pessoas de forma esplêndida e vendendo suas obras. Os dois se conhecem em abril de 1912 durante a primeira embarcação do transatlântico Titanic, que parte da Inglaterra com destino a Nova York.

A união entre os dois fica prestes a ser abalada ao perceberem que um desastre está para acontecer, assim que o transatlântico se choca com um iceberg e começa a afundar, para o desespero dos 2200 passageiros que estavam a bordo.

Se o diretor James Cameron pretendia resgatar na plateia a emoção outrora provocada pelos grandes efeitos da trama, ele certamente conseguiu. Titanic até hoje emociona inúmeros espectadores com a sua dramática história e uma produção que, mesmo depois de vários anos, com tantos filmes que se aprimoraram e se beneficiaram pela evolução tecnológica, continua sendo referência para efeitos especiais cinematográficos.

Apesar de não possuir muitos efeitos em 3D, os avanços tecnológicos investidos no longa-metragem para a sua volta aos telões acrescentam grande vivacidade a cenas memoráveis da trama, como o afundamento do transatlântico e a luta de seus passageiros pela sobrevivência.
Portanto, o segredo do sucesso duradouro produzido pelo Titanic vai muito além de sua história de amor e tragédia e se concentra na mega produção de efeitos cinematográficos feitos na medida certa, de forma arrebatadora e totalmente envolvente.

Ao contrário de muitas produções atuais que se beneficiam do uso de tecnologia inovadora de modo excessivo, sem se preocupar com o contexto e muito menos com uma linearidade cronológica que dê coerência ao filme, o diretor James Cameron sempre soube explorar em seus longa-metragens os efeitos especiais da forma mais perspicaz possível.
Vale a pena conferir e resgatar nos telões essa trama emocionante que se tornou uma das maiores ganhadoras do Oscar – conquistou 11 estatuetas – ao lado das produções O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e Ben-Hur.

Por Mariana Mascarenhas

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Hair

Sucesso mundial que estreou nos palcos em 1967 e foi parar nos telões no ano de 1979, o musical Hair, dirigido e remontado por Charles Möeller e Claudio Botelho, veio para o Teatro Frei Caneca em São Paulo, depois de conquistar as plateias cariocas.

Hair garante emoção do começo ao fim contando a história de uma tribo de hippies de Nova York que integravam o movimento da contracultura do ano de 1968, marcado por diversos movimentos de mesmo gênero que se espalharam pelo mundo pregando o direito à liberdade, sempre no estilo paz e amor acompanhado de sexo, drogas e rock and roll.

O espetáculo prende a atenção logo no começo ao abrir a trama ao som de “Aquarius”, traduzido para a versão brasileira, apresentando todos os personagens que compõem essa linda e emocionante história que foca a vida de Claude (Hugo Bonemer), um dos integrantes da tribo hippie. Diante da convocação para lutar na Guerra do Vietnã e da pressão dos pais conservadores para que o filho vá defender sua pátria como um verdadeiro soldado, Claude se vê na difícil tarefa de escolher entre ficar com pessoas de quem ele realmente gosta ou mudar radicalmente de vida ao escolher servir ao exército dos EUA.

Diferente de muitos musicais, Hair se consagra não pela riqueza de cenários ou figurinos presentes na peça, mas sim por um intenso e incrível trabalho de expressão corporal dos atores que, não somente se destacam, mas conseguem concentrar toda a complexidade de um musical apenas na atuação cênica sem precisarem de recursos externos para arrebatarem o público.

Vale destacar as atuações dos atores Hugo Bonemer e Fernando Rocha, além da voz incrível da atriz Karin Hils que faz o teatro vibrar em canções como “Aquário” e “Deixa o Sol Entrar” que encerra o espetáculo em uma belíssima cena impedindo que muitos espectadores consigam conter as lágrimas.

Por Mariana Mascarenhas


sábado, 7 de abril de 2012

Xingu

O filme, produzido por Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e dirigido por Cao Hamburger (Castelo Rá-Tim-Bum e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) foi filmado no Alto Xingu, com algumas cenas gravadas na Reserva do Morro Grande em Cotia. Xingu resgata a fabulosa e corajosa saga dos Irmãos Villas Boas, cujos nomes representam internacionalmente sinônimo de proteção à cultura indígena e de preservação dos modos de vida dos primeiros brasileiros que habitaram originalmente nosso continente.

Tendo como pano de fundo a própria Selva Amazônica – patrimônio da humanidade – formando um maravilhoso e extasiante cenário, o misto de aventura, documentário e romance começa com Orlando (João Miguel) e o jovem Leonardo (Caio Blat) embarcando numa perigosa aventura para o Alto Xingu, seguido por Claudio (Felipe Camargo). Despertando curiosidade e suspense, os irmãos embrenham-se pela floresta e fazem os primeiros contatos com os índios Caiabis, participando ativamente de seu relacionamento com os caraíbas (homem branco). Esse contato, a princípio positivo, gera um dos momentos mais dramáticos do filme, prendendo os olhares e a respiração da plateia: a chegada do branco trouxe epidemias de doenças que os índios não conheciam, como a gripe, que acaba por dizimar metade de uma aldeia. Tudo isso é mostrado com beleza e realismo pela produção da O2 Filmes.

Durante seu desenrolar, além de revelar vários aspectos da cultura indígena e não apenas seu relacionamento entre as diversas tribos, mas também com a civilização branca, a trama expõe muitas das agruras às quais os povos indígenas foram submetidos, face à sanha de enriquecimento movida por interesse dos homens brancos em expandir suas fronteiras agrícolas e exploratórias e a auto-suficiência e arrogância de alguns dos militares de então.

Apesar disso, tais acontecimentos geraram grandes conquistas, pois, em 1961, o então presidente Jânio Quadros cria o Parque Nacional do Xingu, que se tornaria um dos maiores parques indígenas do mundo e habitat atual de 14 etnias diferentes, totalizando cerca de 5.500 índios. Além dos caiabis, os irmãos foram os primeiros brancos a fazer contato com os kreen-akarore, uma tribo que jamais havia conhecido um homem branco, sendo este um dos momentos mais surpreendentes do filme.

Em suma, essa produção, que teve sua pré-estreia no Cine Sabesp, uma de suas patrocinadoras, é um filme deslumbrante, num cenário belíssimo. Trata-se de uma história real que nos orgulha de sermos brasileiros e das nossas riquezas naturais, mostrando que o cinema nacional tem amplas condições para protagonizar histórias belíssimas e que resgatam a nossa cultura e a presença do público aos nossos filmes, bem como história de verdadeiros heróis que contribuíram para a construção de nossa identidade. Um filme que promete arrebatar plateias e acaba de estrear nos telões.

Por Sérgio Eduardo Nadur

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Priscilla, Rainha do Deserto

Apresentada nos telões em 1994, finalmente a história de Priscilla, Rainha do Deserto ganha uma versão para os palcos sendo realizada simultaneamente, pela primeira vez, na Broadway e também no Brasil.

A trama traz a divertida e envolvente aventura de três drag queens – Mitzi (Luciano Andrey), Felícia (André Torquato) e Bernadette (Ruben Gabira) - que embarcam em um ônibus apelidado de Priscilla rumo ao deserto australiano.

Com diversas trocas de cenário e coreografias muito bem trabalhadas, o espetáculo musical paralisa os olhos da plateia que se encanta com os personagens, as músicas e os figurinos deslumbrantes. Isso sem contar um dos momentos memoráveis da peça, que traz para os palcos um ônibus, orçado em 1,7 milhão de dólares, com uma iluminação diferenciada que se altera de acordo com as cenas apresentadas.

Quanto às atuações, se destacam o trabalho de André Torquato, que do começo ao fim da peça encara com brilho e muita energia a engraçada e badalada drag Felícia e Ruben Garbira, que confere entrega total ao personagem, trazendo para o público uma Bernadette emotiva, divertida e, ao mesmo tempo, que sabe lidar com os preconceitos impostos aos homossexuais por alguns setores da sociedade.

O espetáculo conta ainda com as participações de Simone Gutierrez – que foi destaque no espetáculo Hairspray (2009) entre outros e Saulo Vasconcelos – que se consagrou em musicais como O Fantasma da Ópera (2005), Os Miseráveis (2001), Cats (2010) entre outros.

Para não quebrar o encanto das mais famosas músicas dos últimos tempos como “I will survive”, “It’s Raining Men”, “I say a little prayer” e “Material Girl”, os atores cantam a versão original das canções despertando uma vontade de dançar nos espectadores, que têm a chance de entrar no clima, mexendo o esqueleto, ao final da peça.

Por Mariana Mascarenhas