domingo, 24 de março de 2013

A Busca



Um pai entra em desespero quando seu filho anuncia que passará o fim de semana na casa do amigo e simplesmente desaparece sem dar sinal de vida. Este é o cenário de A Busca, filme dirigido pelo estreante Luciano Moura.

No enredo Wagner Moura é Theo, um médico que vive discutindo com sua esposa (papel de Mariana Lima), com quem está em vias de separação. O casal tem um filho de 15 anos (interpretado por Brás Moreau Antunes). Num certo dia, Theo trava uma ferrenha discussão com o filho – em razão de uma cadeira dada ao menino pelo avô, pai do médico – e se exalta explosivamente com o garoto.

O conflito entre os dois detona o estopim para uma decisão do menino: ao sair de casa dizendo à mãe que passaria o final de semana na casa de um amigo, na verdade ele preparou a própria fuga.

Após constatarem que ele havia mentido e estava desaparecido, Theo e sua esposa entram em total desespero. Enquanto a mãe do menino fica em casa, por recomendação do próprio marido, para o caso de receber ligações que possam avisar sobre o paradeiro do jovem sumido, Theo sai numa busca desenfreada na esperança de encontrar o rapaz.

A partir de então ele vai encontrando uma série de pistas sobre os lugares em que o menino esteve. Com um tema interessante e que poderia ser bem mais explorado – inclusive para trabalhar melhor o raciocínio dos espectadores ao proporcionar um verdadeiro quebra-cabeça na elaboração de indícios que revelem progressivamente o paradeiro do filho de Theo – a forma como o protagonista é levado pelas circunstâncias a tentar achar o seu filho se dá de modo bastante previsível e linear, sem qualquer variação que possa gerar na plateia um tom de suspense, gênero muito bem-vindo e praticamente requerido neste tipo de trama.

O ator Wagner Moura, como de praxe, possui uma excelente atuação e consegue passar mais do que a composição de seu personagem requer no roteiro. No entanto, quem acompanha sua trajetória cinematográfica pode observar que ele já esteve ainda mais brilhante em produções como O Homem do Futuro, Vips e, é claro, o genial Tropa de Elite 2, que bateu recordes de bilheteria nacional. Todavia, o próprio contexto ameno do roteiro pode ter contribuído para a atuação mais comedida de Moura em A Busca.

Outro ponto de destaque é o fato de tanto ele quanto a Mariana Lima representarem de modo muito próximo à realidade o afloramento das emoções que se tornam mais intensas à medida que seus respectivos personagens vão permanecendo mais tempo sem saber notícias do filho.

O longa-metragem tem duração de 96 minutos e conta com a participação especial do ator Lima Duarte. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 9 de março de 2013

Indomável Sonhadora



Uma história emotiva, forte e cheia de superações aos obstáculos que a vida pode nos proporcionar. Este é o cenário que compõe o drama Indomável Sonhadora. O filme é uma estreia do norte-americano Benh Zeitlin como diretor cinematográfico.

O roteiro se baseia nas aventuras dramáticas da personagem Hushpuppy, uma garotinha (interpretada pela atriz Quvenzhané Wallis, hoje com nove anos e que tinha seis à época das filmagens) que vive com o seu pai (Dwight Henry) em um alagado localizado no extremo sul da Louisiana, região totalmente isolada da parte civilizada dos EUA e uma das mais miseráveis do país. Ela vive conversando com os animais e sempre procura enxergar positivismo e beleza onde não há. A menina encara tudo transitando entre um mundo de fantasia e realidade, já que ela vive criando em sua mente imagens fictícias associadas ao que ela vê na vida real. 

Essa pequena parte da Lousiana é habitada por algumas famílias que residem em simples casas de madeira e se encontram em situação de extrema miséria, se sustentando a base de animais que elas matam para se alimentar. As condições de vida são semelhantes àquelas enfrentadas pelo homem na Idade Pedra, quando ele precisava sair à caça para garantir o seu alimento. Uma realidade que infelizmente ainda está perpetrada em diversos cantos do mundo real.

Os vizinhos da pequena Hushpuppy, sem terem muito o que fazer na região, ocupam a maior parte do tempo “enchendo a cara” com bebidas alcoólicas para se sentirem um pouco mais felizes e tentarem imergir em um mundo de ficção. Todavia, eles pretendem jamais abandonar suas moradias e deixam claro suas aversões à rotina dos cidadãos do mundo dito civilizado que, de acordo com a mentalidade deles, não passam de escravos do sistema.

O pai da protagonista da história é quem mais ressalta sua paixão pela região e seus modos de vida “selvagens”, ensinando a filha a se defender e garantir seu sustento, semelhante à forma como os animais ensinam seus filhotes a sobreviverem na selva.

Porém, os pobres habitantes de Louisiana não contavam com uma devastadora tempestade que destrói quase todas as casas do alagado, deixando poucos sobreviventes. Após resistir à tormenta, Hushpuppy e seu pai são obrigados a abandona o lar, ou melhor, os destroços que restaram dele, em busca de outro abrigo. A partir de então a pequena garotinha enfrenta uma série de aventuras e passa por novos intensos momentos – principalmente em relação ao seu pai – que exigirão dela muita garra e força, como ele mesmo sempre a ensinou, para encarar os obstáculos da vida, por pior que sejam, sem derramar uma lágrima de tristeza sequer.

Além de um diretor novato – que por sinal faz um excelente trabalho de direção e opta por planos de filmagens fechados, trabalhando com a câmera em diversos travellings (movimento de câmera que acompanha o deslocamento dos personagens e/ou o foco principal da cena) proporcionando uma grande aproximação da plateia com o drama vivido pelos personagens – o elenco conduz apropriadamente toda a trama, mesmo sendo constituído por atores novatos em experiência cênica.

Os destaques vão para o ator Henry e a pequena Quvenzhané, que surpreendentemente apresenta um crescimento explosivo em cena, à medida que ela imerge gradativamente em seu papel. Não hã como não se comover com a força que a personagem da garota trabalha dentro de si, tentando enfrentar as dramaticidades de sua vida sem chorar, o que se revela uma tarefa bastante difícil, principalmente para uma criança. Como muitos bons atores, que já têm anos de experiência no mercado, a garota soube internalizar sentimentos e controlar emoções, retratando brilhantemente o perfil psicológico da Hushpuppy. Não é à toa que ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e, mesmo não tendo levado a estatueta, algo raro de acontecer com alguém da idade dela, a indicação foi merecida.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 3 de março de 2013

O Lado Bom da Vida



Imagine ser chifrado pela mulher, perder a casa e o emprego logo em seguida, passar oito meses num sanatório – após ser acometido por um surto de transtorno bipolar em razão de tantos conflitos – e, depois, ter como único destino a casa dos pais, que será o ponto de partida para a construção de uma nova vida. Todos esses males recaem intensamente sobre o personagem Pat (Bradley Cooper), protagonista de O Lado Bom da Vida.

Extraído do livro homônimo de Matthew Quick, esta comédia dramática conta a história de um professor chamado Pat que, após flagrar a mulher fazendo amor com o amante debaixo do chuveiro – e ainda ao som da música tocada no casamento dela com Pat – entra em transe psicótico, perde o emprego e acaba indo para o sanatório sendo diagnosticado como bipolar. Após oito meses internado, ele vai morar com seus pais (papeis de Robert de Niro e Jacki Weaver).

Ainda obcecado pela esposa, logo nos primeiros dias após sua saída do hospital psiquiátrico, Pat passa madrugadas acordado chamando pela mulher dele, a quem ele demonstra amar muito, e em busca de vídeos de casamento deles. Para piorar a situação, ele foi proibido pelo juiz de se aproximar dela.

Enquanto isso, o professor tenta se esquivar de seu pai, quando este está sempre disposto a passar horas com o filho conversando sobre esportes, numa tentativa desesperada de se aproximar dele. Apesar disso não ficar tão perceptível de forma explícita, face à sutileza nas ações do pai, é possível observar um sentimento interior muito latente explodindo internamente em seu coração, desejo esse que o filho passe mais tempo com ele.

Os fortes transtornos bipolares do professor começam a se atenuar a partir do momento em que ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem viúva que, assim como Pat, fica em estado psicótico abalado também por causa de uma perda – no caso dela, a do marido – e, semelhante ao protagonista da história, não tem equilíbrio suficiente para reprimir seus impulsos e desejos, além de falar o que pensa para as pessoas. A garota já estava mal falada na região em que morava por ter feito sexo com várias pessoas após a morte do esposo.

No entanto, a situação também parece mudar para ela quando conhece Pat. A princípio, surge uma grande amizade entre os dois e a aproximação gradativa deles parece gerar uma ajuda mútua para que cada um aprenda a lidar com seus respectivos transtornos.

Sem perceber, Pat – que mesmo após a saída do sanatório pareceu continuar a viver em um mundo recluso da sociedade, totalmente obcecado por sua mulher, de modo a ficar imerso apenas em pensamentos que a envolvessem – começa a redescobrir, ao lado de Tiffany, os prazeres da vida em simples atividades do dia a dia, como andar pelas ruas, rir sem motivo e dançar.

Um sentimento muito mais intenso que a amizade começa a aflorar entre os dois, principalmente por parte da viúva, que deixa claro, pelo seu comportamento, o interesse em Pat. Já este ainda continua a falar da esposa, mas fica perceptível o carinho tão grande que ele tem pela nova amiga, o qual vai crescendo sem que ele mesmo perceba.

Com um contexto forte e dotado de alguns diálogos inteligentes e reflexivos, a história de O Lado Bom da Vida é fundamentada em como superar os problemas do dia a dia que muitas vezes parecem não ter solução, dada a gravidade de determinadas situações. Por tratar um tema tão enriquecedor – que certamente leva e levará muitos espectadores a refletirem um pouco sobre como aprender a resgatar forças inimagináveis para superar os grandes obstáculos existenciais e a como se levantar do chão, com força muito maior para combater as outras quedas que ainda estarão por vir – o diretor da trama, David O. Russell, poderia ter explorado e trabalhado melhor o assunto na interpretação e incorporação dos personagens pelo elenco.

Os atores-destaque do filme, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, estão bem em seus papéis e conseguem entrar no perfil de seus personagens, passando as respectivas mensagens de cada um, porém ambos, assim como os coadjuvantes, parecem apenas cumprir a função determinada no roteiro sem arriscar uma ousadia cênica, que poderia ser muito bem-vinda dada a caracterização da história.

Mesmo assim, as duas horas de trama acabam se tornando envolventes e criando até mesmo certa expectativa na plateia para saber qual será o futuro de Pat e Tiffanny. A produção foi indicada a oito estatuetas do Oscar e levou apenas o prêmio de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence, de 22 anos – premiação cuja escolha talvez tenha ocorrido de modo inusitado pelos jurados da Academia. Para tirar as próprias conclusões, vale assistir o filme e descobrir tudo que envolve o lado bom da vida.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas