Uma história emotiva, forte e
cheia de superações aos obstáculos que a vida pode nos proporcionar. Este é o
cenário que compõe o drama Indomável
Sonhadora. O filme é uma estreia do norte-americano Benh Zeitlin como
diretor cinematográfico.
O roteiro se baseia nas aventuras dramáticas da personagem
Hushpuppy, uma garotinha (interpretada pela atriz Quvenzhané Wallis, hoje com
nove anos e que tinha seis à época das filmagens) que vive com o seu pai (Dwight
Henry) em um alagado localizado no extremo sul da Louisiana, região
totalmente isolada da parte civilizada dos EUA e uma das mais miseráveis do
país. Ela vive conversando com os animais
e sempre procura enxergar positivismo e beleza onde não há. A menina encara
tudo transitando entre um mundo de fantasia e realidade, já que ela vive
criando em sua mente imagens fictícias associadas ao que ela vê na
vida real.
Essa pequena parte da Lousiana é
habitada por algumas famílias que residem em simples casas de madeira e se
encontram em situação de extrema miséria, se sustentando a base de animais que
elas matam para se alimentar. As condições de vida são semelhantes àquelas
enfrentadas pelo homem na Idade Pedra, quando ele precisava sair à caça para
garantir o seu alimento. Uma realidade que infelizmente ainda está perpetrada
em diversos cantos do mundo real.
Os vizinhos da pequena Hushpuppy, sem terem muito o que
fazer na região, ocupam a maior parte do tempo “enchendo a cara” com bebidas
alcoólicas para se sentirem um pouco mais felizes e tentarem imergir em um
mundo de ficção. Todavia, eles pretendem jamais abandonar suas moradias e
deixam claro suas aversões à rotina dos cidadãos do mundo dito civilizado que,
de acordo com a mentalidade deles, não passam de escravos do sistema.
O pai da protagonista da história
é quem mais ressalta sua paixão pela região e seus modos de vida “selvagens”,
ensinando a filha a se defender e garantir seu sustento, semelhante à forma
como os animais ensinam seus filhotes a sobreviverem na selva.
Porém, os pobres habitantes de Louisiana não contavam com
uma devastadora tempestade que destrói quase todas as casas do alagado,
deixando poucos sobreviventes. Após resistir à tormenta, Hushpuppy e seu pai
são obrigados a abandona o lar, ou melhor, os destroços que restaram dele, em
busca de outro abrigo. A partir de então a pequena garotinha enfrenta uma série
de aventuras e passa por novos intensos momentos – principalmente em relação ao
seu pai – que exigirão dela muita garra e força, como ele mesmo sempre a
ensinou, para encarar os obstáculos da vida, por pior que sejam, sem derramar
uma lágrima de tristeza sequer.
Além de um diretor novato – que por sinal faz um
excelente trabalho de direção e opta por planos de filmagens fechados, trabalhando
com a câmera em diversos travellings
(movimento de câmera que acompanha o deslocamento dos personagens e/ou o foco
principal da cena) proporcionando uma grande aproximação da plateia com o drama
vivido pelos personagens – o elenco conduz apropriadamente toda a trama, mesmo
sendo constituído por atores novatos em experiência cênica.
Os destaques vão para o ator Henry e a pequena Quvenzhané,
que surpreendentemente apresenta um crescimento explosivo em cena, à medida que
ela imerge gradativamente em seu papel. Não hã como não se comover com a força
que a personagem da garota trabalha dentro de si, tentando enfrentar as
dramaticidades de sua vida sem chorar, o que se revela uma tarefa bastante difícil,
principalmente para uma criança. Como muitos bons atores, que já têm anos de
experiência no mercado, a garota soube internalizar sentimentos e controlar
emoções, retratando brilhantemente o perfil psicológico da Hushpuppy. Não é à
toa que ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e, mesmo não tendo levado a
estatueta, algo raro de acontecer com alguém da idade dela, a indicação foi
merecida.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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