Imagine ser chifrado
pela mulher, perder a casa e o emprego logo em seguida, passar oito meses num
sanatório – após ser acometido por um surto de transtorno bipolar em razão de tantos
conflitos – e, depois, ter como único destino a casa dos pais, que será o ponto
de partida para a construção de uma nova vida. Todos esses males recaem
intensamente sobre o personagem Pat (Bradley Cooper), protagonista de O Lado Bom da Vida.
Extraído do livro homônimo
de Matthew Quick, esta comédia dramática conta a história de um professor
chamado Pat que, após flagrar a mulher fazendo amor com o amante debaixo do
chuveiro – e ainda ao som da música tocada no casamento dela com Pat – entra em
transe psicótico, perde o emprego e acaba indo para o sanatório sendo diagnosticado
como bipolar. Após oito meses internado, ele vai morar com seus pais (papeis de
Robert de Niro e Jacki Weaver).
Ainda obcecado pela esposa,
logo nos primeiros dias após sua saída do hospital psiquiátrico, Pat passa
madrugadas acordado chamando pela mulher dele, a quem ele demonstra amar muito,
e em busca de vídeos de casamento deles. Para piorar a situação, ele foi
proibido pelo juiz de se aproximar dela.
Enquanto isso, o
professor tenta se esquivar de seu pai, quando este está sempre disposto a
passar horas com o filho conversando sobre esportes, numa tentativa desesperada
de se aproximar dele. Apesar disso não ficar tão perceptível de forma explícita,
face à sutileza nas ações do pai, é possível observar um sentimento interior
muito latente explodindo internamente em seu coração, desejo esse que o filho
passe mais tempo com ele.
Os fortes transtornos
bipolares do professor começam a se atenuar a partir do momento em que ele
conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem viúva que, assim como Pat, fica
em estado psicótico abalado também por causa de uma perda – no caso dela, a do
marido – e, semelhante ao protagonista da história, não tem equilíbrio
suficiente para reprimir seus impulsos e desejos, além de falar o que pensa
para as pessoas. A garota já estava mal falada na região em que morava por ter
feito sexo com várias pessoas após a morte do esposo.
No entanto, a situação
também parece mudar para ela quando conhece Pat. A princípio, surge uma grande
amizade entre os dois e a aproximação gradativa deles parece gerar uma ajuda
mútua para que cada um aprenda a lidar com seus respectivos transtornos.
Sem perceber, Pat – que
mesmo após a saída do sanatório pareceu continuar a viver em um mundo recluso
da sociedade, totalmente obcecado por sua mulher, de modo a ficar imerso apenas
em pensamentos que a envolvessem – começa a redescobrir, ao lado de Tiffany, os
prazeres da vida em simples atividades do dia a dia, como andar pelas ruas, rir
sem motivo e dançar.
Um sentimento muito
mais intenso que a amizade começa a aflorar entre os dois, principalmente por
parte da viúva, que deixa claro, pelo seu comportamento, o interesse em Pat. Já
este ainda continua a falar da esposa, mas fica perceptível o carinho tão
grande que ele tem pela nova amiga, o qual vai crescendo sem que ele mesmo
perceba.
Com um contexto forte e
dotado de alguns diálogos inteligentes e reflexivos, a história de O Lado Bom da Vida é fundamentada em
como superar os problemas do dia a dia que muitas vezes parecem não ter solução,
dada a gravidade de determinadas situações. Por tratar um tema tão enriquecedor
– que certamente leva e levará muitos espectadores a refletirem um pouco sobre
como aprender a resgatar forças inimagináveis para superar os grandes
obstáculos existenciais e a como se levantar do chão, com força muito maior
para combater as outras quedas que ainda estarão por vir – o diretor da trama, David
O. Russell, poderia ter explorado e trabalhado melhor o assunto na
interpretação e incorporação dos personagens pelo elenco.
Os atores-destaque do
filme, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, estão bem em seus papéis e conseguem
entrar no perfil de seus personagens, passando as respectivas mensagens de cada
um, porém ambos, assim como os coadjuvantes, parecem apenas cumprir a função determinada
no roteiro sem arriscar uma ousadia cênica, que poderia ser muito bem-vinda
dada a caracterização da história.
Mesmo assim, as duas
horas de trama acabam se tornando envolventes e criando até mesmo certa
expectativa na plateia para saber qual será o futuro de Pat e Tiffanny. A
produção foi indicada a oito estatuetas do Oscar e levou apenas o prêmio de
Melhor Atriz para Jennifer Lawrence, de 22 anos – premiação cuja escolha talvez
tenha ocorrido de modo inusitado pelos jurados da Academia. Para tirar as
próprias conclusões, vale assistir o filme e descobrir tudo que envolve o lado
bom da vida.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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