sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capitão Phillips


Quem gosta de acompanhar bons momentos de tensão nos telões não poderá deixar de ver Capitão Phillips. Dirigido pelo inglês Paul Greengrass, o filme é um prato cheio para quem gosta de ação mesclada a suspense, já que se trata de uma produção de tirar o fôlego durante praticamente todos os seus 134 minutos de duração.

E mesmo quem não é muito fã de cenas dramáticas certamente ficará com os olhos vidrados na tela, não querendo perder nenhum minuto do apavorante sufoco vivido pelos personagens. Baseada numa história real, a trama acontece em torno do Capitão norte-americano Richard Phillips (Tom Hanks), que em 2009 recebe a missão de comandar um navio de contêineres do país árabe Omã até a Somália, acima do Quênia, como parte das atividades da Marinha Americana que leva suprimentos alimentícios para as regiões africanas cujas condições de vida são subumanas.

Justamente por isso é elevado o número de piratas somalis que atacam as embarcações roubando comida, dinheiro e outros bens obedecendo aos grandes chefes, que os incubem de tal missão e podem acabar até mesmo matando os piratas que não roubarem a quantia determinada por eles. Logo no começo da trama, portanto, o navio de Phillips é tomado por quatro ladrões somalis que fazem a tripulação refém. Sempre muito esperto, Phillips tenta o tempo todo enganar os ladrões como, por exemplo, no momento em que alega que o navio está com problemas no sistema de energia, mas na verdade ele que  ordenou seu desligamento para dificultar a locomoção dos piratas pelo navio.

No entanto, Phillips não consegue se safar e acaba sendo sequestrado pelos somalis que embarcam com ele no próprio bote salva-vidas do navio rumo à Somália. Se uma forte tensão já foi gerada até aqui, saiba que ela apenas tende a se agravar a partir de então, já que Phillips vive momentos desesperadores nas mãos dos piratas, dispostos a matá-lo a qualquer instante, ao menor desapontamento que sentirem por alguma reação do capitão.

Cenas memoráveis marcam esta grande produção, especialmente a tensa relação entre Phillips e o capitão dos piratas somalis Muse (Barkhad Abdi) que parecem se comunicar diversas vezes apenas pelo olhar. A sequência de planos fechados, incluindo a variação de closers, que focam apenas a face nervosa do protagonista e a enfurecida dos sequestradores, colaboram e muito para criar um nervosismo no ar e deixar a plateia com a respiração suspensa.

Como de praxe, Hanks está ótimo em seu personagem, mostrando continuamente durante a trama o paradoxo entre o aparente autocontrole frente à situação vivida e paralelamente o nervosismo e a tensão contidas e prestes a fazê-lo explodir a qualquer momento, como acontece com muitas vítimas submetidas a uma situação traumática que mal conseguem esboçar alguma reação externa, interiorizando toda a bomba de sentimentos para si.

Também não há como não notar e elogiar a formidável participação do ator somali Barkhad Abdi, que inclusive está sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, um grande colaborador encarando seu personagem perfeitamente, de modo a criar ainda mais tensão no filme, que ora parece ser compreensível e ora está disposto a por um fim na vida de Phillips, deixando os espectadores sempre apreensivos.

Capitão Phillips ainda concorre ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Montagem, Edição e Mixagem de Som.   


Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

domingo, 26 de janeiro de 2014

A Última Sessão


É com muito bom humor e descontração que um elenco de verdadeiras feras da televisão e do teatro brasileiro chega ao palco do Teatro Frei Caneca para encenar A Última Sessão, peça escrita e dirigida por Odilon Wagner, que retrata o jeito extrovertido e ao mesmo tempo experiente da terceira idade – que nos dias de hoje parece estar dando um baile na juventude em razão de sua vivacidade plena, seu humor imbatível e a capacidade de muitos idosos de lidar com as dificuldades da vida sem se deixar abater.

Com Laura Cardoso, Nívea Maria, Etty Fraser, Gésio Amadeu, Miriam Mehler, Sônia Guedes, Yunes Chami, Gabriela Rabelo, Marlene Collé e Sylvio Zilber, o espetáculo conta a história de amigos da terceira idade que costumam se encontrar semanalmente no Clube Inglês para almoçar e compartilhar lembranças e segredos. Em meio às conversas, uma boa dose de humor e também críticas desafiadoras entre os próprios personagens – que, confiantes em suas sábias palavras, já se dão ao luxo de atacar uns aos outros sem medo de represálias, pois não temem falar a verdade – conferem a comicidade da peça, fazendo a alegria da plateia.

Durante os 80 minutos de apresentação, o público poderá se divertir e se encantar com as diferentes histórias contadas por cada um dos personagens e as revelações surpreendentes – que podem se tornar ainda mais surpreendentes ao desenrolar da trama, já que muitas não são o que parece ser.

Com este grande elenco, é difícil dizer quem mais se destaca na peça, já que se trata de atores dotados de anos de experiência cênica e que se destacaram muito cada um a seu modo no ramo artístico e por isso acabam até humilhando os melhores atores mais jovens de hoje. É totalmente perceptível como cada um respeita o seu tempo cênico e fica totalmente à vontade com o seu papel, numa mescla de atuação e a própria realidade do ator conferida ao personagem, são verdadeiros Mestres da Arte que ensinam como praticá-la com a paciência profissional e a entrega sem medo aos papéis incorporados, resultado de anos de experiência acumulada e atuações que foram se aprimorando gradativamente com o passar dos anos.

Mesmo assim há que se destacar a atuação de Laura Cardoso que, do alto dos seus 86 anos, rouba a cena e arranca aplausos do público, criando um envolvimento cênico que conduz os outros atores para uma verdadeira sinergia teatral – já que em teatro é muito comum que atores muito bons acabem por levar o elenco em seu rítmico cênico, pois não existe individualismo nos palcos.

Também há que se exaltar os papéis de Nivea Maria, encarando perfeitamente uma personagem que aparenta ser a mais madura do grupo, e Etty Fraser, que com toda sua espiritualidade e carisma confere ao papel uma atuação enérgica e encantadora, conquistando os espectadores desde o início.

Todavia, apesar de cada personagem apresentar determinado estereótipo que revela certa comicidade em algum momento, se profissionais tão empenhados não compusessem o elenco de A Última Sessão talvez a peça não prendesse tanto a atenção, pois chega a ficar um pouco extensiva ao final da trama, já que o contexto histórico mostra certa fragilidade devido a sua linearidade; entretanto, acaba sendo preenchida pela atuação singular de cada ator, que confere seus talentos próprios a seus respectivos papeis, sem sair do personagem.  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O Hobbit - A Desolação de Smaug


Quem achou o filme O Hobbit – Uma Jornada Inesperada (primeiro filme da trilogia O Hobbit, inspirado no livro de J. R. R. Tolkien) tedioso e inativo não terá do que se queixar em O Hobbit – A Desolação de Smaug, já que o que não falta nesta segunda trama da trilogia são cenas de tirar o fôlego durante quase todos os 161 minutos de duração da produção. Desta vez o novo longa do diretor Peter Jackson está mais próximo da genialidade presente em sua sequência de filmes O Senhor dos Anéis, cujo terceiro filme foi um dos recordistas em número de estatuetas do Oscar conquistadas até hoje.

Nesta mais nova produção o público acompanhará a continuação da saga do rei anão Thorin (Richard Armitage), junto com seus companheiros anões e o hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), que enfrentará uma série de inimigos, de orcs a elfos, até finalmente chegar ao reino de Erebor e retomá-lo para si. Lá eles precisarão entrar na Montanha Solitária, que abriga imensos tesouros e também esconde a Pedra de Arken, que permitirá que Thorin possa retomar seu reino e reconquistar o respeito de todos os anões. Mas para isso terão de enfrentar o imenso dragão Smaug, que está adormecido sobre o tesouro, e acabam destinando a missão para o pequeno hobbit, que a princípio entrará sozinho na montanha em busca da pedra.

Uma mescla de narrativa, efeitos especiais espetaculares e uma sequência de cenas de ação – que quase não possuem pausa entre si, sem ao menos dar um descanso para os personagens, que são surpreendidos a todo o momento por novos desafios e inimigos – ocorrem na medida certa e tornam este filme muito mais atraente do que o primeiro de sua trilogia, conquistando não apenas os fãs desta ficção, como o público em geral, principalmente aqueles que grudam os olhos no telão, envoltos por suspense e ação.

Cenas como o momento em que os anões e o hobbit descem uma correnteza dentro de barris de madeira, ou o desfecho composto pela luta do dragão contra o hobbit, e em seguida também contra os anões, ganham efeitos extraordinários que nos fazem esquecer por um momento se tratar de uma ficção e nos prendem a atenção, como no final, principalmente, que poderia se tornar extenso face ao tempo dedicado à luta dos aventureiros contra Smaug, porém acaba “absorvendo” as horas, que nem são percebidas pela plateia, dada à sucessão de estratégias mirabolantes e dotadas de ação que os pequenos homens acabam inventando contra o imenso dragão, que sai voando e cuspindo fogo pela Montanha, indicando parecer ser o fim de Bilbo e seus companheiros.

E não há como não exaltar os papéis de Ian McKellen e Orlando Bloom que interpretam respectivamente o mago Gandaf e o elfo Legolas – personagens já tão conhecidos da trilogia O Senhor dos Anéis e que conquistaram os espectadores há tempos devido as suas características e importância na história, acompanhados das excelentes atuações de McKellen e Bloom.

O final de O Hobbit – A Desolação de Smaug acontecerá num momento decisivo para Bilbo e seus acompanhantes, gerando grande ansiedade entre os telespectadores, que só conseguirão saber o grande desfecho dos personagens em dezembro deste ano, quando estreará a última trama da trilogia: O Hobbit – Lá e de Volta Outra Vez.

É esperar para ver!

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Gravidade


Poucas palavras e muita respiração ofegante. É praticamente esta a sonoridade presente em Gravidade, produção de apenas 90 minutos que consegue paralisar os olhos dos espectadores em função de um suspense muito bem trabalhado cujo cenário é o espaço sideral.

A trama envolve a experiência traumática vivida pelos astronautas Ryan Stone (Sandra Bullock), que é médica, e Kowaslki (George Clooney) que, enquanto tentam consertar um ônibus espacial pelo lado de fora, são notificados pela Nasa que pedaços de satélite estão vindo em suas direções.

Segundos após o alerta, o ônibus é destruído pelos destroços de satélites e, de todos os tripulantes presentes, apenas o experiente Kowaslki e Ryan, novata em conhecimentos espaciais, sobrevivem ao acidente e ficam dispersos pelo espaço, sem nenhum contato com a Terra. Para desespero ainda maior de Stone, ela acaba se distanciando de seu único companheiro sobrevivente e, com apenas as instruções dadas por ele – já que ela quase não possui noção do que fazer no espaço, especialmente em tal situação – ela precisa encontrar outra estação espacial para entrar numa cápsula de fuga e se deslocar para a Terra, momento em que o suspense toma conta dos telões, pois se inicia uma tentativa desesperada de Stone de conseguir uma cápsula para tal objetivo.

Praticamente todo o filme é preenchido pelos diversos obstáculos que ela enfrenta, como a dificuldade de respirar, os pedaços de satélites e meteoritos que ela encontra em seu caminho e o próprio desconhecimento espacial que atrapalha e muito seu possível retorno ao planeta, tornando a falta de gravidade apenas um mero incômodo, se comparado aos outros problemas.

Uma sucessão de cenas gravadas em plano fechado confere ao espectador o mesmo ponto de vista do personagem que, dentro de sua roupa de astronauta, mal consegue enxergar o que está ao redor e mantém uma respiração ofegante, em razão da pouca quantidade de oxigênio disponível. A quase inexistência de planos abertos, que propiciam a totalidade visual da cena – com algumas exceções como no momento em que os personagens se veem diante do planeta Terra – ajuda a tirar o ar não só dos personagens como do público, que também não consegue ter a visão completa sobre o que acontecerá com a Dra. Stone e qual será seu desfecho.

A produção vem arrancando aplausos de público e de crítica e já é considerada uma das favoritas ao Oscar 2014. O filme vem ganhando tamanho destaque principalmente por trabalhar os recursos cinematográficos de modo a produzir a sensação mais realística possível entre o homem e o espaço. Trata-se praticamente de 90 minutos de suspense congelante, resultado dos efeitos gerados pelos inúmeros closers e primeiros planos que procuram focar o rosto apavorado de Stone.   

Há quem já tenha correlacionado esta produção com a grandiosa 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, apesar de ambas as tramas terem apenas em comum o aspecto cenográfico do homem no espaço, já que Kubrick faz um espetacular trabalho artístico voltado à evolução humana, enquanto que Alfonso Cuarón, diretor de Gravidade, ressalta a relação homem /espaço sideral.

De qualquer forma, Gravidade é de arrancar aplausos, mas pode surpreender na noite do Oscar, já que o filme não preenche todos os requisitos cinematográficos que são considerados na avaliação do prêmio Melhor Filme, por exemplo, por focar-se principalmente apenas nos efeitos especiais e no trabalho de câmeras e planos sequenciais que denotam o suspense ao filme, sem ser preenchido por um contexto histórico.

A trama ainda concorre ao Globo de Ouro em categorias como Melhor Filme, Melhor Atriz (Sandra Bullock) e Melhor Diretor (Alfonso Cuarón). 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas