terça-feira, 25 de setembro de 2012

Hiperativo




Em uma apresentação única realizada no espaço do HSBC Brasil, o comediante Paulo Gustavo, conhecido por apresentar um programa de humor chamado 220 volts, exibido no Multishow, entreteve a plateia do começo ao fim do espetáculo.

Com cerca de 80 minutos de duração, Hiperativo trouxe para os palcos um pouco do trabalho retratado pelo ator em seu programa de TV. Apresentado em forma de stand-up comedy o monólogo teatral contou com diversas situações do cotidiano dotadas de excelentes toques de humor e muito bem trabalhadas por Paulo Gustavo.

Dirigido por Fernando Caruso, o monológo conta com um texto bem escrito, criativo e que, aliado à excelente atuação do ator, formaram uma combinação perfeita para que o público desse altas gargalhadas, destacando as várias inusitadas situações narradas que nos levam automaticamente ao riso, como nos momentos em que Paulo relata os sufocos vividos em viagens de avião com uma comicidade espetacular.

O improviso se deu de forma muito bem feita de maneira a ganhar fluidez e linearidade nas narrações das piadas. A destacada atuação de Paulo Gustavo deve ser creditada ao seu humor totalmente desvinculado de piadas humilhantes, agressivas ou preconceituosas – algo que vem se tornado cada vez menos frequente em muitos stand-ups, cujos humoristas, no auge da ignorância, se valem apenas de ofensas e de tiradas de conotação sexual, acreditando serem estas a verdadeira motivação humorística.

Diante deste cenário o ator Paulo Gustavo apresenta-se como um verdadeiro exemplo de trabalho cômico, ao mostrar que o humor não reside na prática preconceituosa e sim na capacidade intelectual de produzir piadas simples e que agradem a todos. Assim ele demonstra seu cuidado em elaborar piadas inteligentes produzidas para um público versado e de bom gosto.

Antes de passar pelo espaço do HSBC Brasil o espetáculo também permaneceu um bom tempo em cartaz no Teatro Frei Caneca.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

sábado, 22 de setembro de 2012

Tropicália



Filme-documentário do diretor Marcelo Machado nos seus 90 minutos de duração aborda um dos mais importantes movimentos artísticos do país, surgido nos estertores da década de 1960, traçando um paralelo aos acontecimentos políticos da época, com foco nos seus precursores Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Com base numa profunda e trabalhosa pesquisa histórica em arquivos de jornais, revistas, shows e filmes, montado sobre uma sequência destes documentos com a produção executiva do consagrado diretor Fernando Meirelles, Tropicália se transforma numa romântica máquina do tempo, dando a oportunidade daqueles que testemunharam esse período histórico de reviverem as emoções, o desprendimento e o romantismo da música e da cultura popular brasileira, ao mesmo tempo que recordam as agruras do regime militar – ou despertando a consciência daqueles que, como eu, à época apenas uma criança, passavam à margem dos acontecimentos sem se aperceberem da gravidade e das consequências do momento histórico.

A meu ver, embora desprovido de grandes efeitos e do brilho comum aos filmes das grandes bilheterias, em virtude do material existente à época dos registros, a produção segue o pensamento exposto brilhantemente por Caetano na sua primeira aparição no filme, quando entrevistado pelos apresentadores portugueses: no exílio, perguntado sobre o sentimento anti-norte-americano demonstrado nas manifestações contra a ditadura militar, que ele não via a Tropicália como algo contra o americano, mas que em seu entender  devemos imitar aquilo que o povo dos Estados Unidos tem de mais positivo, ou seja, de valorizar sua própria história e cultura, num recado ao povo brasileiro.

A meu ver, embora desprovido de grandes efeitos e do brilho comum aos filmes das grandes bilheterias, em virtude do material existente à época dos registros, a produção segue o pensamento exposto brilhantemente por Caetano na sua primeira aparição no filme, quando entrevistado pelos apresentadores portugueses, no exílio, perguntado sobre o sentimento anti-norte-americano demonstrado nas manifestações contra a ditadura militar, que ele não via a Tropicália como algo contra o americano, mas que em seu entender que devemos imitar aquilo que o povo dos Estados Unidos tem de mais positivo, ou seja, de valorizar sua própria história e cultura, num recado ao povo brasileiro.

Embalados pelas canções de enorme movimento e musicalidade que se revezam com depoimentos de figuras proeminentes da cultura brasileira e fundamentais para seu crescimento, como Tom Zé, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) e o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), tive a oportunidade de assistir ao resgate de vídeos dos festivais da Record, a shows e entrevistas ligados ao histórico do movimento tropicalista e registros únicos como o do show happening de Caetano e Mutantes na boate Sucata, no Rio, e apresentação da Jovem Guarda, com Roberto Carlos. Além dos principais protagonistas Caetano e Gil, apresentações de Gal Costa, o filme foca com grande intensidade, como um marco para o movimento, a participação de Os Mutantes, com Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Batista, com as imagens divididas entre os anos de1967, 68 e 69.

Destaque para uma filmagem jamais divulgada, rara e sem igual do Festival da Ilha de Wight, no interior da Inglaterra, no mesmo ano em que tocaram artistas como Miles Davis, The Doors e Jimi Hendrix.

Na sessão a qual assisti, que contou com uma parte da grande equipe de produção, tive o privilégio de presenciar a abertura feita pelo diretor e duas produtoras do filme. Eles ressaltaram a importância do movimento para a construção da identidade da cultura nacional na música, cinema e artes plásticas.

E é isso que, a despeito de qualquer produção com o requinte dos grandes patrocinadores e da indústria cinematográfica, Marcelo Machado e sua equipe nos transmitem neste brilhante trabalho: mostrar o que a história e a cultura brasileira têm de mais rico. Vale a pena conferir e recordar – ou fazer uma viagem ao passado.

Por Sérgio Eduardo Nadur

domingo, 16 de setembro de 2012

360




Com direção de Fernando Meirelles 360 coloca os espectadores como meros observadores de uma série de conflitos emocionais envolvendo personagens de diferentes locais do mundo, os quais acabam se interligando e, de certa forma, fechando um círculo de relações.

Na trama Jude Law é Michael Daly, um executivo inglês que está prestes a ter uma aventura com uma prostituta eslovaca (Lucia Siposová) em Viena, enquanto a mulher dele (Rachel Weisz), residente em Londres, tenta por fim a um caso que está tendo com seu amante (papel do brasileiro Juliano Cazzaré), cuja namorada (interpretada pela também brasileira Maria Flor) descobre estar sendo traída e resolve voltar para o Rio de Janeiro. No caminho de volta ela conhece um senhor (Anthony Hopkins) que lhe faz companhia durante o voo e um ex-presidiário (Ben Foster) que havia sido preso por diversos crimes sexuais e a encontra no aeroporto de Miami.

Um muçulmano - que se apaixona perdidamente por uma russa que é casada, precisa lidar com a árdua dúvida de se entregar a este sentimento ou não, em razão dela ser comprometida e da religião dele possuir preceitos extremamente rigorosos condenando este tipo de amor - também integra esse envolvente círculo de conturbações amorosas entre os personagens do filme.

Meirelles não somente soube colocar o espectador como um observador próximo dos personagens – diante dos planos de filmagem em que a câmera enquadra as cenas focalizando as ações e pontos de vista sobre o ocorrido – nos inserindo dentro do ambiente sem participamos dele como, paradoxalmente, nos coloca no lugar do personagem em razão da sucessão de planos-detalhe e do movimento de câmera que acelera ou diminui na proporção da intensidade emocional das cenas.

Com uma menor parte das cenas filmadas em planos totalmente abertos, esta produção cinematográfica, além de permitir rodarmos 360 graus passando pelos conflitos dos personagens e também pelos países de onde eles se encontram – Eslováquia, Áustria, Inglaterra, França e Estados Unidos, com flashes de uma praia do Rio – inova em seu contexto de um jeito muito bem trabalhado e ressaltado por Meirelles.

Nesta trama, que envolve muitas traições, o diretor já nos apresenta logo de cara as situações embaraçosas em que os personagens estão envolvidos, de forma que muitos destes tentarão retornar para os hábitos considerados corretos ao se livrarem de seus amores proibidos e dos fatos que os prendem ao passado. Assim, o diretor traz aos telões uma linha oposta às apresentadas por muitas produções, já que ele começa com relações ou paixões não permitidas e procura convergir para o desprendimento destas ações atingindo um equilíbrio, o qual só pode ser alcançado depois de conhecerem os extremos do certo e do errado.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Família Addams



Baseada na criação do cartunista Charles Addams, que inspirou uma das séries de televisão norte-americana mais conhecidas mundialmente, A Família Addams chega agora aos palcos do Teatro Abril em forma de musical, cuja primeira versão estreou na Broadway em 2010.

Essa simpática, divertida e ao mesmo tempo atípica família, cujos gostos são extremamente anormais para qualquer outro cidadão comum e que envolvem o grande apreço deles por sofrimento, morte, trevas, entre outras coisas do gênero – é muito bem retrata neste musical dirigido por Cláudio Botelho: Gomez, interpretado por Daniel Boaventura, é o chefe da família que, apesar de aparentar extrema sisudez, esconde um coração mole que se revela principalmente diante dos pedidos feitos por sua esposa Mortícia (interpretado por Marisa Orth) e sua filha Vandinha (papel de Laura Lobo), os quais ele não consegue negar.

Vandinha, filha do casal, se apaixona por um menino comum (Beto Sargentelli) e os dois pretendem se casar. No entanto, hilárias confusões servirão de entrave para que os pombinhos fiquem juntos, a começar pelo momento em que os pais do namorado de Vandinha vão até a casa dos Addams para um jantar e as diferenças entre as famílias se tornam tão evidentes que os conflitos surgidos a partir daí proporcionam diversão garantida para a plateia do Teatro Abril.

A história muito bem conduzida e dotada de vários toques humorísticos, que entretém o público do começo ao fim, é apenas um dos aspectos que compõem o espetáculo em toda sua genialidade. A interpretação de Daniel Boaventura para o personagem Gomez se dá de forma envolvente, interativa e complexa, já que o ator oscila sua voz entre tons completamente diferentes por meio de uma brincadeira vocal muito bem trabalhada, além, é claro, da excelente voz de BoaVentura, tanto na entonação das falas quanto nas canções, conferindo-lhe um destaque tal que exige dos demais uma performance também exuberante.

A voz de Laura Lobo também soa maravilhosamente bem aos ouvidos da plateia durante as canções entoadas por Vandinha. Vale ainda destacar o trabalho de Nicholas Torres, conhecido por interpretar o personagem Jaime da atual novela Carrossel, que na peça encara o Feioso, irmão de Vandinha, papel também feito por mais dois atores mirins que se revezam nas apresentações.

Com um elenco formado por 27 atores e 12 instrumentistas, o musical se destaca não somente pela bela atuação e história, como pela composição de belíssimos e impecáveis cenários que se renovam durante todo o espetáculo , bem como pelo excelente trabalho corporal refletido no sincronismo perfeito das coreografias.

Pode-se dizer que Botelho – e sua equipe – acertou em todos os quesitos ao fazer com que esta peça – ao contrário de algumas outras produções musicais, que não deixam de conquistar plateias, mas investem em aspectos como história, coreografia, etc... de forma muito mais intensa do que nos demais – se consagre em todos eles, e por onde o público olhar e avaliar verá um excelente trabalho. Vale a pena conferir e se divertir com as confusões que tomam conta do castelo dos Addams em um musical considerado de extrema excelência por todo seu conjunto. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas