quarta-feira, 26 de junho de 2013

Dama da Noite


Escrita por Caio Fernando de Abreu (1948 – 1996) – um dos grandes escritores e dramaturgos brasileiros, famoso por retratar a sociedade sob um prisma dramático, sempre abordando temas como morte, sexo e solidão – a peça Dama da Noite é um monólogo que traz a história de uma mulher da noite que resolve trocar a vida noturna pelo dia e sofre arduamente por se sentir excluída do mundo em que vive.

O ator Luiz Fernando Almeida é quem se destaca no papel da protagonista, encarando uma personagem cercada de angústias e aflições por enxergar tudo ao seu redor como uma grande roda gigante, composta por seres humanos obstinados a viverem uma rotina pacata e totalmente privada de liberdade, se valendo de falsidade, moralismos e estereótipos discriminatórios, para se equilibrarem na roda e conquistarem uma alta posição.

Realizado no Espaço Cultural Pinho de Riga, o espetáculo acontece em um ambiente composto por poucos lugares, o que facilita para a concretização de um dos propósitos da peça que é proporcionar total interação com cada integrante do público. Durante os 50 minutos de apresentação, a personagem retrata suas angústias e visões realísticas e pesadas da sociedade em um cenário que indica ser sua casa, mas também pode ser qualquer outro lugar na imaginação da plateia. A proximidade do ator com o público permite que ele converse e interaja com vários expectadores durante todo o tempo de espetáculo.

Por se tratar de um roteiro baseado numa dramaticidade intensa e polêmica, o ator faz questão de transmitir todo esse clima pesado para os momentos de conversa e interação com alguns integrantes da plateia de modo bem invasivo, até mesmo para não quebrar a linearidade dramática trazida pelo espetáculo.

Luiz Fernando está espetacular na incorporação de seu personagem que se dá, logo de início, de maneira grandiosa e envolvente chegando a transmitir para a plateia os sentimentos melancólicos vividos pela protagonista. Com cenário simples, quase desprovido de efeitos, é o ator quem conquista os expectadores ao conseguir, por si só, transmitir geniosamente tudo o que Caio Fernando de Abreu quis repassar ao escrever esta peça.


Portanto, vale conferir esta obra de Abreu encenada no palco do Espaço Cultural Pinho de Riga. Com direção de André Leahun, Dama da Noite é uma peça para se assistir desprovido/a de qualquer preconceito e com uma mente totalmente aberta diante das interações e exposições que a plateia se sujeita a estar.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 16 de junho de 2013

Thriller Live Brasil Tour

Foto Caio Gallucci

Espetáculo musical que traz a trajetória de um dos maiores artistas pop de todos os tempos (Michael Jackson), Thriller Live Brasil Tour está em São Paulo desde o dia 10 de maio e permanecerá em cartaz no Credicard Hall até o dia 23 de junho. Idealizado pelo inglês Adrian Grant, biógrafo de Michael Jackson, ao chegar ao Brasil essa produção londrina adaptou cantores e dançarinos brasileiros à equipe estrangeira.

O show se fundamenta basicamente em apresentar os grandes sucessos musicais que marcaram a carreira do Rei do Pop desde a época em que o pequeno Michael, ainda menino, revelou ao mundo a genialidade artística que existia dentro de si – genialidade esta que estava, simplesmente, muitíssimo além do que grandes artistas seriam e são capazes de fazer – passando pelo auge e chegando aos últimos sucessos lançados por ele. Durante as quase três horas de show, as músicas apresentadas vêm acompanhadas de pequenas narrações sobre trechos da vida de Michael, intercaladas entre os números musicais.

Para muitos fãs de carteirinha do ícone pop, o simples fato de assistir a um espetáculo como Thriller Live, que relembra momentos memoráveis do rei e em algumas partes os convida a cantar e dançar os sucessos musicais que cativaram o planeta, é motivo suficiente para que esta produção seja avaliada como excelente. Todavia, certamente para alguns fãs e o público em geral, é visível que esta produção peca em alguns quesitos.

Os efeitos especiais, por exemplo, que eram concebidos nos shows de Michael por uma riquíssima composição técnica de luzes, sons e explosões, quase não marcam presença nesta produção – é óbvio que não devemos exigir para este espetáculo o mesmo nível técnico trabalhado nas apresentações do Rei do Pop. Porém, a simplicidade de efeitos – que se resumem a algumas luzes em combinações visuais, duas escadas que levam a uma passarela e um telão ao fundo do palco, para mostrar ilustrações que interagem com as canções cantadas – revelam que o show pretende focar muito mais no talento do elenco, tendo o cenário como mero complemento.

Além disso, a produção demora certo tempo para mostrar que prisma escolheu para contar a trajetória do rei, já que mistura narrações, encenações e danças sem deixar claro qual é a estrutura do roteiro. A apresentação inicial traz cantores e dançarinos que interpretam alguns sucessos da banda Jackson 5, na qual Michael iniciou sua carreira, sem estar totalmente envolvidos na desenvoltura espetacular trazida pelo rei e também pelos seus irmãos, quando cantavam junto com Michael.

Entretanto, com o desenrolar do show, fica visível o crescimento gradativo dos artistas no palco, principalmente após o intervalo, em que eles passam a interpretar as principais canções que estremeceram o mundo e foram destaques na carreira solo de Michael Jackson. Há que se destacar alguns momentos memoráveis de Thriller Live, como a encenação da música Smooth Criminal, que traz excelentes performances corporais acompanhadas de um ótimo trabalho vocal, despertando na plateia uma vontade de entrar no ritmo da dança junto com os intérpretes.

Enfim, à medida que o show se aproxima do fim, é cada vez maior o envolvimento que todo o elenco cria na plateia, diante da bela incorporação dos números musicais, porém, justamente por se tratar de uma homenagem ao Rei do Pop, cujo talento era praticamente inatingível em corpo e voz (e não é à toa que ele conquistou fãs nos cinco continentes, incluindo todas as gerações e ainda causa hoje muita euforia entre os fãs através de suas músicas, mesmo passados quase 4 anos de sua morte), é que o show deixa a desejar um pouco na falta de maior grandiosidade artística no palco do Credicard Hall.    


Thriller Live Brasil Tour também já esteve no Rio e em Brasília, antes de vir a São Paulo.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas