domingo, 13 de julho de 2014

A Culpa é das Estrelas


Prepare a caixa de lenços! Mesmo os mais insensíveis poderão ser pegos de surpresa com os olhos lacrimejantes diante desta forte e emocionante história que, apesar de não ser baseada em fatos reais, tem todos os elementos para envolver e sensibilizar qualquer tipo de espectador.

Baseado no best-seller escrito pelo norte-americano John Green, que só no Brasil teve mais de 2 milhões de cópias vendidas, A Culpa é das Estrelas – história de dois jovens apaixonados, vítimas do câncer, que aprenderão a lidar com a doença juntos – chega aos telões.

A trama traz a história da personagem Hazel (Shailene Wodley), uma jovem de 16 anos que sofre de um câncer terminal na tireoide desde os 13 anos, o qual já se espalhou para a sua região pulmonar. Sua vida ganha cores quando ela conhece Gus (Ansel Elgort), um rapaz que precisou amputar a perna em razão de um câncer nos ossos, o qual ele acredita já estar curado. Após se conhecerem num grupo de apoio para jovens, vítimas da doença, Hazel e Gus sentem-se atraídos um pelo outro e aos poucos vão se conhecendo cada vez mais até se tornarem namorados.

Gus acaba mudando totalmente a vida de Hazel ao se mostrar um verdadeiro companheiro, disposto a fazer o que estiver ao seu alcance para ajudar a namorada a superar seus momentos difíceis, como arrancar sempre um belo sorriso da garota com seu jeito cômico e piadista de ser.

Não obstante, o destino prepara surpresas nada agradáveis para os dois, em razão de suas doenças, e ambos terão que buscar forças um no outro e especialmente em si mesmos para enfrentar os obstáculos que surgem ao longo da trama, provocando até mesmo gemidos de choro em alguns espectadores, diante da bela e ao mesmo tempo complicada história de amor vivida pelo casal do filme.  

Tanto o ator Ansel Elgort quanto a atriz Shailene Wodley estão brilhantes em seus papéis, principalmente pelo peso dramático que cada personagem interpretado por eles trazem. Ambos são jovens atores que trabalham muito bem a maturidade precoce imposta a Hazel e Gus por suas doenças e ainda a aceitação e superação de passar momentos tão difíceis em plena juventude, justamente a fase em que os jovens se acham capacitados para fazer o que quiserem e o que mais desejam é desfrutar de sua independência, curtindo com os amigos, namorando, e, enfim, aproveitando a vida. Mas, infelizmente, Hazel possui uma série de limitações, especialmente em razão da sua dificuldade de respirar, que a obriga a carregar um aparelho respiratório aonde for.

Todavia é perceptível o drama vivido pela personagem e como ela encontra forças de superação em Gus, principalmente por estar na fase das descobertas e talvez este seja um dos piores momentos para lidar com o câncer, já que as crianças com câncer ainda não têm a plena consciência do que está se passando com elas e os adultos já possuem maior maturidade para lidar com a doença.  

Apesar de algumas cenas serem incoerentes com a rotina de pacientes cancerígenos, como o momento em que Hazel e Guz têm relações sexuais ou ainda bebem champagne – algo que não poderia ser feito por um paciente como Hazel, em razão de sua doença e das medicações que toma – ou ainda a pele perfeita da personagem – que na vida real sofreria os efeitos colaterais dos remédios – vale a pena conferir esta linda e emocionante história, que traz consigo o peso de lidar com uma doença terminal e, ao mesmo tempo, encarar o sofrimento daqueles a quem amamos muito.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 


domingo, 6 de julho de 2014

Meu Deus!


Imagine que você está em sua casa e de repente é surpreendido (a) pela chegada de alguém que, a princípio, aparenta um ser humano comum, mas logo em seguida ele próprio desfaz esta ideia dizendo coisas que você estranha e então se revela ser Deus. Obviamente, a reação natural de muitos, mesmo que acreditem na existência de Deus, será duvidar e achar que o visitante não passa de um louco, porém, conforme Ele vai descrevendo detalhadamente cenas de sua vida desde a infância, você começa a se convencer que está diante do Criador.

É assim que acontece em Meu Deus!, comédia teatral elaborada pela escritora israelense Anat Gov (1953 – 2012) e que está em cartaz em São Paulo desde março, no teatro FAAP, com direção de Elias Andreato. Na peça, a atriz Irene Ravache interpreta Ana, uma psicóloga divorciada que mora com seu filho autista (Pedro Cardoso). Num determinado dia Ana está em sua casa reclamando com seu filho da falta de chuva, que ela não vê há tempos, enquanto aguarda pela chegada de um novo paciente misterioso (Dan Stulbach), que não lhe revelou sua identidade ao agendar a consulta.

Logo que ele chega, ela acaba assustando-se por não vê-lo entrar. A partir de então dá-se início a um profundo e reflexivo diálogo entre Ana e seu paciente, que não é ninguém menos que o próprio Criador do Universo. Depois de se convencer, com muito custo, de que estava conversando com o próprio Deus, a psicóloga tenta resolver o seu problema, o que não se revela nada fácil: tomado por uma depressão que começou há 2000 anos, Ele está pensando em se suicidar, mas sabe que isso acarretará em uma consequência drástica para toda a humanidade.

Em busca de ajuda, Deus vê em Ana a pessoa que pode acudi-lo, porque, como Ele mesmo ressalta, ela nunca foi uma de suas maiores fãs e, na maioria das vezes que mencionava o nome de Deus, era para insultá-lo e culpá-lo pelas suas dificuldades na vida. Apesar de ser uma peça fantasiosa, com uma série de incoerências como o próprio fato de Deus querer se suicidar, o público deve ater-se às mensagens trazidas pelo diálogo entre psicóloga e paciente que acaba levantando uma série de reflexões sobre o comportamento do ser humano na sociedade atual, como o fato dele habituar-se a botar a culpa no Criador para amenizar a gravidade de suas ações.

Sendo assim, mesmo tratando-se de uma comédia que em diversos momentos arranca muitas risadas da plateia – especialmente no início, quando Ana se vê totalmente atrapalhada com o inusitado da situação e relata ser difícil conversar com alguém que não teve pai e nem mãe, pois não terá quem culpar pelo comportamento – a peça pode emocionar e despertar reflexões na plateia, como já ressaltado.

Tanto Irene Ravache quanto Dan Sutlbach estão muito bem em seus papéis, atingindo a exata sintonia para que o diálogo entre os personagens possa ocorrer de forma tão envolvente neste espetáculo. Tanto que até mesmo o cenário muito bem trabalhado fica em segundo plano, diante da atuação dos experientes atores que se bastam para cativar o público.


Stulbach, por exemplo, mostra-se extremamente à vontade para interpretar Deus, que ganha contornos bem humanizados, inclusive, ao demonstrar suas fraquezas e indignação com a forma como os humanos se relacionam com Ele sempre para pedir algo, para culpá-lo ou para se lembrarem Dele apenas porque conseguiram o que desejavam. São 80 minutos de espetáculo que passam desapercebidos pela plateia, envolvida com as reflexões e descontrações propostas por Meu Deus!

Por Mariana da Cruz Mascarenhas