quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu era tudo pra ela e ela me deixou


Diversão garantida do começo ao fim, os 70 minutos de duração passam voando com a peça Eu Era Tudo Pra Ela e Ela Me Deixou, que trás para o palco o grande comediante Marcelo Médici incorporando os mais diferentes e engraçados personagens.

A trama traz para a plateia a trajetória de Samuel (papel de Ricardo Ratsham, diretor do monólogo Cada um Com Seus Probrema, interpretado por Médici) que, após dez anos de casamento, é obrigado a se retirar de casa a “pedido” da mulher (interpretada por Marcelo Médici) que deseja o divórcio. Decepcionado e sem entender o motivo da separação, ele vagueia pelas ruas em busca de um lugar para ficar e, durante a trajetória, vai encontrando uma série de personagens diferenciados, como um amigo que se revela travesti, um bêbado, uma prostituta gaúcha e até um assassino, todos interpretados por Médici com excelência.

Confirmando seu grande talento para lidar com incorporações rápidas e momentâneas de papéis diferenciados, o humorista encara de forma muito divertida todos os nove personagens presentes na história. A plateia também se encanta com a rapidíssima troca de figurinos de Médici para cada personagem, em que ele sai de cena vestido de uma forma e, dentro de instantes, aparece nos palcos de outra forma totalmente diferente – proeza que ele também demonstrou ter quando atuou no espetáculo Irmã Vap.

Vale destacar a atuação de Ricardo Ratsham no papel de Samuel, ao representar muito bem seu personagem, alguém cujo total transtorno com a separação da mulher acompanha o desvendar de uma estranha personalidade - segredo revelado ao final do espetáculo.

Dirigido por Emilio Boechat Eu Era Tudo Pra Ela e Ela Me Deixou permanece em cartaz no Teatro Faap até o dia 29 de abril.

Por Mariana Mascarenhas

quinta-feira, 15 de março de 2012

Não uma pessoa

Em comemoração aos 50 anos da morte de uma das maiores atrizes que o cinema já apresentou ao mundo – Marilyn Monroe – a peça Não Uma Pessoa presta-lhe uma homenagem por meio de um monólogo que traz os sentimentos e angústias por ela vividos.

Daniela Schitini, autora e atriz do espetáculo, traz para os palcos uma Marilyn conturbada com seus pensamentos e emoções. A história foca a gravação de um depoimento da personagem para o seu psicanalista, já que ela tinha dificuldades em dialogar com ele pessoalmente.

Daniela capricha no texto e incorpora uma Marilyn dialogando entre o real e o imaginário, revelando à plateia uma faceta que nos dá impressão de ela ter sido alguém que apenas construiu uma aparência e a revelou para o resto do mundo. Mas o momento em que ela expõe seu verdadeiro ser interior se dá justamente durante a gravação na qual ela desabafa suas emoções e angústias.

No entanto, o texto perde um pouco de seu encanto no momento em que a atriz o apresenta à plateia. Apesar de tê-lo escrito com uma formidável riqueza de detalhes, o mesmo não se dá no momento em que a atriz incorpora Marlyn nos palcos, trazendo uma trama linear carente de expressões e entonações à altura da personagem e do texto. Daniela não confere expressividade e principalmente o desejo e o olhar sedutor considerados características imprescindíveis para interpretar a grande atriz do cinema, cuja respiração já transpirava sensualidade, o que foi expresso de forma pouquíssima acentuada em Não Uma Pessoa.

Não obstante, vale assistir quando o intuito é lançar um olhar diferente para a personagem.

Com aproximadamente 50 minutos de duração, a peça é dirigida por Vivien Buckup com fragmentos de texto de Juliano Pessanha.

Por Mariana Mascarenhas

quarta-feira, 14 de março de 2012

Medusa de Rayban

Escrito e dirigido por Mário Bortolotto, a peça Medusa de Rayban faz parte da mostra de comemoração dos 30 anos do grupo Cemitério de Automóveis.

O espetáculo gira em torno de um assassino profissional, interpretado por Bortolotto, que atua em diversas cenas com outros personagens ligados a violência urbana. Com 80 minutos de duração, o drama é envolvente do começo ao fim trazendo para plateia diversas cenas com diferentes personagens, que retratam de modo atraente como a sociedade lida com a crueldade humana.

Mesmo sem cenários, Medusa de Rayban prende a atenção pela intensa e expressiva atuação dos atores, além de efeitos luminosos que cumprem muito bem o papel de auxiliar na reprodução de uma situação, fazendo com que a plateia não sinta falta dos cenários.

Bortolotto soube trabalhar este complexo assunto ao retratar uma sociedade violenta com vários toques de humor satírico em um espetáculo impregnado de desejos de morte e vingança. Tal humor foi possível graças a seriedade com que os assassinos deste drama depositavam em sua profissão, indicando como a violência poderia ser escrota.

A peça foi aos palcos pela primeira vez em 1997 e rendeu, no mesmo ano, o prêmio Shell de melhor autor para Márcio Bortolotto. O espetáculo permanece em cartaz até o dia 1º de abril no Teatro Estação Caneca localizado na Rua Frei Caneca, 384.

Por Mariana Mascarenhas

domingo, 4 de março de 2012

Cabaret

“A VIDA É UM CABARET MEU BEM”, este é um dos trechos marcantes de Cabaret, quando a atriz Claudia Raia, que vive a protagonista da história, a prostituta Sally Bowles, entoa a canção ­­­­­­­­­­­­“A vida é um Cabaret” - canção adaptada para o português - no palco do Teatro Procópio Ferreira.

De Joe Masteroff, Jonh Kander e Fred Ebb, Cabaret foi lançada pela primeira vez em 1966 chegando a ir para os telões em 1972, sob a direção de Bob Fosse e participação de Liza Minelli no papel principal. Com adaptação de Miguel Falabella e direção de José Possi Neto, o musical, que se despede do Teatro Procópio Ferreira, traz a história da prostituta Sally Bowles que vive em Berlim e cuja vida se resume a fazer shows em um bordel.

A trama foca o envolvimento de Sally com Cliff Bratshaw (interpretado por Guilherme Magon), um escritor e professor de inglês norte-americano, recém-chegado de seu país de origem. A dançarina do bordel acaba indo morar no mesmo quarto de pensão que Cliff e eles passam a pensar em formas de conseguir mais dinheiro, já que a situação não andava nada bem para eles.

A história se passa no período de pré-ascensão do nazismo e também traz um caso de amor paralelo, entre uma alemã e um judeu, mas, em razão do temor da alemã de ambos sofrerem nas mãos de nazistas, o casal acaba se separando

O Mestre de Cerimônias do Cabaret é quem aparece durante quase toda a trama relatando os dramas vividos pelos personagens, além de atuar em vários números musicais. O personagem é interpretado pelo ator Jarbas Homem de Mello que, com uma excelente atuação, se torna um dos destaques do musical, como um grande cantor, dançarino e ator da peça.

A atriz Claudia Raia também confere uma excelente interpretação através de sua personagem Sally Bowles, além de uma brilhante voz em canções cantadas por ela. Vale ainda destacar a atuação de Guilherme Magon, que trabalha muito bem a mudança temperamental de Cliff: apesar de aparentar ser uma pessoa calma, seu personagem vai se estressando, principalmente quando Sally não entende algumas de suas decisões.

O espetáculo conta com um belo cenário constituído por um bordel, presente no palco durante todo o tempo da peça, com vários espelhos próximos aos atores e também sobre a plateia, proporcionando maiores efeitos luminosos e imergindo os espectadores para um bordel da década de 20. Os figurinos também são muito bem trabalhados, como os da protagonista Sally, sendo alguns repletos de cristais que encantam e causam efeitos de luminosidade em meio a refletores e espelhos que cercam o palco.

Vale a pena conferir as conturbações de Sally, Cliff e os demais personagens e entender por que “A vida é um Cabaret”.

Por Mariana Mascarenhas

sábado, 3 de março de 2012

Os Descendentes

Uma história de prender a atenção, mas que ainda poderia ter sido concretizada numa dramatização ainda mais envolvente em razão da riqueza histórica do filme. Talvez seja essa a razão de Os Descendentes ter conseguido 5 indicações ao Oscar, mas conquistado apenas uma estatueta para a categoria de roteiro adaptado.

Dirigida por Alexander Payne, a trama se passa no Havaí e traz a história do advogado Matt King (George Clooney) que, em razão do seu trabalho, passa muito pouco tempo com as filhas e a esposa, que sofre um acidente de lancha e fica em coma. Após saber que a mulher está com os dias contados, King fica muito abalado por não ter lhe dado a atenção devida durante todo o tempo em que eles estiveram juntos e resolve chamar os amigos e familiares para uma cerimônia de despedida.

Além de enfrentar a dor de perder a esposa, King ainda tem de lidar com as travessuras de sua filha, ainda menina, e com as rebeldias da outra filha adolescente. Como se não bastassem os problemas, o advogado ainda descobre, pela filha mais velha, que a esposa tinha um amante, o que acaba deixando-o desequilibrado emocionalmente à medida que a tristeza da perda da mulher vai se transformando em raiva.

Com o desenrolar da trama, o público vai percebendo que a situação do protagonista é bem mais complexa do que se podia imaginar, à medida que ele descobre um vínculo existente entre o amante de sua mulher e o possível comprador das terras milionárias herdadas, dos antepassados, por King e seus primos.

Além de uma história envolvente, que poderia ser mais bem explorada ao ser contada nos telões, de forma que o público ficasse mais atento a cada detalhe da trama, vale destacar a excelente atuação de George Clooney, vencedor do Globo de Ouro na categoria melhor ator, que consegue retratar um personagem rodeado de problemas extremamente pesados e, no entanto, interioriza para si os sentimentos e as emoções gerados por sua vida problemática. Clooney trabalha muito bem a expressão facial trazendo para os espectadores uma expressão sutil e muito mais interna do que externa, que caracteriza o personagem. O filme de Alexander Payne também foi o ganhador do Globo de Ouro de melhor filme drama.

Por Mariana Mascarenhas