sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cinquenta Tons de Cinza


Considerado por muitos o filme mais esperado do ano – dado o tremendo sucesso mundial do best-seller da escritora E.L. James, no qual ele se baseia, constituindo o primeiro livro de uma trilogia que já ultrapassou 100 milhões de cópias vendidas mundialmente – Cinquenta Tons de Cinza parece ter agora o mesmo desempenho nos telões ao levar diversos espectadores para os cinemas.

No Brasil, desde sua estreia em 12 de março de 2015, quase quatro milhões de espectadores já foram conferir a produção do diretor Sam Taylor-Johnson e que tem como uma das produtoras a própria autora do livro. Assim como ocorreu com o público de leitores da obra, entre a numerosa plateia que já esteve e estará presente nos cinemas para conferir esta trama, as mulheres certamente constituem a imensa maioria.

Isso vem ocorrendo em razão do encanto e a atração que o famoso bilionário Christian Grey – personagem principal da história – vem causando na mulherada, além de mexer e aguçar a imaginação feminina face a sua forma nada convencional de se relacionar com as mulheres.

Cinquenta Tons de Cinza acontece em torno de Anastasia Steele (Dakota Johnson) – uma estudante recém-formada, virgem e bastante tímida. Sua vida começa a mudar acentuadamente quando ela cruza o caminho de Christian Grey (Jamien Dornan) – um empresário extremamente poderoso, charmoso e conquistador, que ela conhece no dia em que faz uma entrevista com ele.

Desde a primeira troca de olhares entre Anastasia e Grey fica nítido o mútuo interesse. Conforme o tempo passa, a tímida estudante cruza com o empresário outras vezes e começa a se envolver por ele até descobrir seu grande segredo: Grey gosta de ter relações sexuais de uma forma nada ortodoxa. Ele apresenta a Anastasia então o seu mundo particular e secreto repleto de apetrechos que ele gosta de usar com quem ele se relaciona, causando uma mescla de dor e prazer.

Mesmo surpresa com tais revelações, a jovem se submete aos desejos do bilionário sendo sempre a submissa, enquanto ele se mostra o dominador, sendo esta a condição que ele sempre impõe para assumir um “relacionamento” com alguém.

Mesmo surpresa com tais revelações e sob a imposição de total submissão e o uso de tais apetrechos pelo dominador bilionário para assumir um “relacionamento” com alguém, a jovem se submete.

Apesar de ter recebido várias críticas quanto ao conteúdo erótico que tal produção poderia ter, até mesmo em razão da forma como o relacionamento do casal é descrito nos detalhes mais íntimos e tórridos em várias páginas do livro, a produção acabou suavizando tais descrições e o longa conseguiu contar a história na medida certa, sem sair do contexto da obra.

Mas o filme acaba pecando num aspecto fundamental que poderia ter dado muito mais vivacidade e realismo a sua história: a atuação, especialmente do ator e ex-modelo irlandês Jamien Dornan. Ele traz para os telões um Grey algo robotizado e limitado ao que o roteiro lhe impõe, sem se entregar mais ao personagem e sem viver a explosão de sensualidade e sexualidade aflorada que seu papel requer.

Já a atriz Dakota Johnson consegue crescer em seu papel e interpretar de modo bem claro sua transformação gradativa, principalmente depois que sua personagem perde a virgindade com Grey e ela se submete aos sádicos desejos do parceiro. No entanto, a falta de maior entrosamento entre ela e Dornam não convence muito e mesmo nas cenas mais íntimas entre os dois cada movimento parece estar muito demarcado e só ganha ares mais sedutores e envolventes graças as músicas como Crazy In Love e Haunted, de Beyoncé, que ajudam e muito a deslanchar as cenas.

Há quem tenha criticado o filme pelo encurtamento das cenas mais íntimas do casal, as quais se estendem demoradamente no livro. Mas o que prejudica a produção não é a falta ou o prolongamento de tais cenas, mas sim a falta de intensidade, envolvimento e sedução entre o casal. Afinal, quando o forte desejo sexual de um pelo outro, implícito em cada um, consegue ser passado pela simples troca de olhares ou por um mero gesto de cumprimento dos atores, a cena pode se tornar até muito mais atraente para a plateia do que uma cena de intimidade explícita por criar a expectativa do que virá depois. Se tudo isso tivesse se concretizado na produção, ela certamente prenderia muito mais a atenção.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sem surpresas, “Birdman” encerra festa do Oscar com prêmio de Melhor Filme

Junto com o “Grande Hotel Budapeste”, produção liderou o número de estatuetas vencendo em quatro indicações


Não foi novidade e muito menos uma surpresa quando o ator Sean Penn anunciou, na noite deste domingo (22), uma das premiações mais aguardadas todos os anos na história do mercado cinematográfico: o Oscar de Melhor Filme. Liderando o número de indicações (9), a produção Birdman foi a grande premiada da noite, encerrando a 87ª festa de premiações da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ocorrida no Dolby Theatre, em Los Angeles.

Além do prêmio principal, Birdman também levou o Oscar de Melhor Diretor (Alexandre González Iñarritu), Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia. Premiações essas que também não se revelaram nenhuma surpresa, já que o longa veio como um forte candidato e se destacou de seus concorrentes ao se mostrar bastante criativo na forma como contou sua história, acompanhada de um verdadeiro jogo de câmeras e planos-sequência – que nos remete à genialidade do trabalho do cineasta Alfred Hitchcok (1899 – 1980), além da envolvente atuação do elenco.

Apesar de ter levado as principais estatuetas da Academia, Birdman não liderou sozinho como a produção mais premiada da noite. O Grande Hotel Budapeste – que também liderou em indicações (9) – recebeu quatro prêmios: Melhor Design de Produção (antigamente denominado como Direção de Arte), Melhor Maquiagem, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora. Mais uma vez as premiações não se revelaram surpreendentes, pois a produção de Wes Anderson trouxe para os telões uma história inusitada e ao mesmo tempo encantadora, que ganhou ainda mais destaque com a vivacidade de cores utilizadas nos cenários e figurinos, os quais por si só já contam muito sobre a trama.

Mas o tão aclamado pelos americanos, Boyhood – da Infância à Juventude, que inclusive conquistou o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático e teve seis indicações ao Oscar, levou apenas uma estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante para Patrícia Arquette, que fez por merecê-la ao praticamente carregar a produção nas costas. A trama foi muito comentada por ter levado 12 anos para ser concluída, já que o diretor Richard Linklater quis filmar o crescimento e amadurecimento dos atores em cena na interpretação de seus personagens, porém trouxe uma história rotineira e cujas quase três horas de duração tornou-se extensa e cansativa – o que pode ter justificado apenas uma premiação.

Whiplash: Em Busca da Perfeição – que conta a história de um garoto baterista fortemente pressionado pelo seu instrutor, que o humilha e jamais o elogia na tentativa de transformá-lo no melhor – também teve seus momentos de glória na noite do Oscar ao levar as merecidas estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante (J. K. Simmons), Melhor Edição e Melhor Mixagem de Som.

Já o prêmio de Melhor Ator foi entregue para o jovem Eddie Redmayne em sua primeira indicação ao Oscar. Ele encarou com perfeição a atuação de um dos mais renomados físicos da atualidade, Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo e, assim como Patrícia Arquette em Boyhood, carregou a produção nas costas.  

Como já esperado, Julianne Moore foi quem levou a estatueta de Melhor Atriz por sua atuação em Para Sempre Alice, onde ela interpreta uma mulher acometida pelo Mal de Alzheimer. A produção tem previsão de estreia no Brasil em 12 de março de 2015.

Neste ano, o ator Neil Patrick Harris foi o escolhido para apresentar a premiação do Oscar 2015. Apesar de sua abertura memorável na cerimônia – que ao contrário dos anos anteriores foi marcada neste por um número musical em homenagem a grandes gênios e obras do cinema – seu desempenho foi fraco e muitas de suas piadas mal arrancaram risadas da plateia.

Outros momentos memoráveis da festa foram a presença de Lady Gaga cantando The Sound of the Music – a canção de A Noviça Rebelde, cuja protagonista Julie Andrews, hoje com 79 anos, também esteve presente no palco do Dolby Theatre – e a apresentação da canção Glory, do filme Selma – Uma Luta Pela Igualdade – que ganhou o Oscar de Melhor Canção Original e foi aplaudida em pé, arrancando lágrimas de muitos atores e atrizes presentes na plateia.

Selma retrata a luta de Martin Luther King para que os negros tivessem um lugar digno na sociedade e fossem respeitados. A história se passa na cidade de Selma, no Alabama. O fato do filme ter concorrido apenas nas categorias Melhor Canção e Melhor Filme levantou queixas de alguns críticos, que disseram que tal produção poderia ter tido destaque muito maior.

Confira abaixo a lista completa dos ganhadores do Oscar 2015:


Melhor Diretor: Alejandro González Iñarritu (Birdman)

Melhor Ator: Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)

Melhor Atriz: Julianne Moore (Para Sempre Alice)

Melhor Ator Coadjuvante: J. K. Simmons (Whiplash - Em Busca da Perfeição)

Melhor Atriz Coadjuvante: Patricia Arquette (Boyhood - Da Infância à Juventude)

Melhor Roteiro Original: Birdman

Melhor Roteiro Adaptado: O Jogo da Imitação 

Melhor Filme Estrangeiro: Ida (Polônia)

Melhor Animação: Operação Big Hero

Melhor Documentário: Citizenfour 

Melhor Canção Original: "Glory" (Selma)

Melhor Trilha Sonora Original: O Grande Hotel Budapeste

Melhor Direção de Fotografia: Emmanuel Lubezki (Birdman)

Melhor Edição: Whiplash - Em Busca da Perfeição 

Melhor Figurino: O Grande Hotel Budapeste

Melhor Maquiagem e Penteado: O Grande Hotel Budapeste 

Melhor Design de Produção: O Grande Hotel Budapeste

Melhor Mixagem de Som: Whiplash - Em Busca da Perfeição 

Melhor Edição de Som: Sniper Americano

Melhores Efeitos Visuais: Interestelar

Melhor Curta-Metragem: The Phone Call

Melhor Curta-Metragem de Documentário: Crisis Hotline: Veterans Press 1

Melhor Curta-Metragem de Animação: O Banquete

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Birdman


Um turbilhão de emoções fomentadas pela raiva, egoísmo, frustrações e uma vontade incessante de se destacar acima de tudo e todos é que compõe o roteiro desta produção, tornando-a tão agitada e envolvente durante os seus 120 minutos de duração.

Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância) – sim, tudo isto forma o nome do filme – trama que gira em torno de um artista chamado Riggan Thomson (Michael Keaton), cujo passado grandioso acabou se transformando num presente marcado pela busca desesperada de se tornar um grande astro novamente. Thomson era uma das maiores estrelas do cinema, por sua interpretação do super-herói Birdman, papel que ele se recusou a fazer no quarto filme da série, após já ter participado dos três longas anteriores.

Desde então, o famoso “homem-pássaro” acaba caindo no esquecimento do público e não é chamado para fazer mais nenhum papel importante nos telões. Numa tentativa desesperada de alavancar sua carreira artística, Thomson resolve então montar e encenar uma peça teatral no Teatro St. James, em Nova York. Mas a tarefa não se revela nada fácil para ele que, quanto mais quer atingir a perfeição em seu projeto, mais entraves encontra.

Depois que um spot de luz despenca sobre a cabeça do pior ator do elenco, que abandona a peça por conta do incidente, Thomson se vê obrigado a lidar com uma série de outros entraves: as impertinências de Mike Shiner (Edward Norton) – ator que substitui o que sofreu o acidente e que passa a se intrometer e criticar a forma como Thomson está conduzindo a peça, desafiando-o o tempo todo – os surtos da namorada (Andrea Riseborough) – que diz estar grávida dele –, a presença constante da ex-mulher (Amy Ryan) e a filha adolescente (Emma Stone) – que se sente incomodada por não ter a devida atenção do pai e que já esteve internada numa clínica por consumo de drogas.

Mas o entrave maior de todos jamais o abandonou, trata-se dele mesmo, ou melhor, uma voz que fala o tempo todo dentro de sua cabeça e o faz se sentir culpado por ter abandonado o personagem de herói que o consagrou nos telões. Esta voz aparece algumas vezes para o protagonista em formato do próprio Birdman, permitindo que ele transite entre a ilusão e a realidade, imaginando-se como o super-herói.

Dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, esta comédia dramática acerta numa série de requisitos que a fizeram ser aclamada pela crítica e liderar o número de indicações ao Oscar (9), juntamente com O Grande Hotel Budapeste, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (Michael Keaton), Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton) e Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone).

O diretor parece brincar com a câmera em cena de modo a aproximar o público cada vez mais da realidade vivida pelos personagens. A série de planos-sequência que ele adota, nos quais a câmera transita pelos corredores e camarins dos bastidores do Teatro St. James – onde ocorre a maior parte das cenas de Birdman – quase sem cortes, ou com cortes muito sutis, contribui para transformar o espectador em um personagem, o qual é levado para a coxia e camarins do teatro de Nova York.

Quem já assistiu ao grandioso filme Festim Diabólico, dirigido pelo gênio do cinema Alfred Hitchcock – em que o diretor chegou a gravar cenas de 10 minutos sem nenhum corte, o qual, quando acontecia, era feito quase que imperceptivelmente aos olhos do público, transformando a cena cinematográfica num verdadeiro “palco teatral” para os olhos da plateia e conferindo uma nova perspectiva de se fazer cinema – certamente notará tais semelhanças de filmagem em Birdman.

As atuações de Keaton, Norton e Emma são elogiáveis e merecedoras das indicações ao Oscar, especialmente pela forma como se entregam às cenas que exigem a expressão de uma forte carga emocional dos atores para interpretar personagens de personalidades tão distintas e fortes ao mesmo tempo.

Outro requisito de destaque é o roteiro que, recheado de humor negro, nos provoca uma reflexão sobre até que ponto as pessoas se sujeitam a chegar em busca da fama e do reconhecimento e como tudo não passa de uma manipulação da mídia que transforma todos em fantoche. Agora é esperar a cerimônia do Oscar, no dia 22 de fevereiro de 2015, e ver quem leva a melhor.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas


domingo, 8 de fevereiro de 2015

A Teoria de Tudo


Desde os primórdios da humanidade o homem tenta entender a origem do universo, buscando comprovações que possam explicar nossa existência e tudo o que nos envolve. Até o momento, a teoria mais aceita pela comunidade científica é a Teoria do Big Bang – anunciada pelo cientista russo George Gamow (1904 – 1968) e pelo padre e astrônomo belga Georges Lemaître (1894 – 1966) – que afirma que o universo teria surgido após uma grande explosão cósmica (liberação de energia, criando o espaço-tempo) há cerca de 10 ou 20 bilhões de anos.

São incontáveis os números de estudiosos que se desdobraram e se desdobram sob esta teoria em busca de novas revelações. Entre eles um dos mais consagrados cientistas da atualidade, o inglês Stephen William Hawking. Nascido em Oxford, no ano de 1942, Hawking, atualmente com 73 anos, é físico teórico e cosmólogo que ficou conhecido no mundo todo pelo seu extenso trabalho sobre as leis básicas que governam o universo. Autor do livro Uma Breve História do Tempo, ele afirmou há pouco tempo que uma nova teoria sobre a origem de tudo está chegando.

Conhecida como A Teoria de Tudo, esta teoria virou nome do filme que chegou recentemente nos telões narrando a vida de Stephen Hawking e que concorre a cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Eddie Redmayne) e Melhor Atriz (Felicity Jones). No longa, o público conhece o lado mais pessoal de Hawking (Eddie Redmayne) desde o período em que ele é um estudante da Universidade de Cambridge, onde ele conhece uma estudante de poesia ibérica chamada Jane (Felicity Jones), que também demonstra interesse por ele.

A vivência deste amor é colocada à prova quando o físico descobre sofrer de uma rara doença degenerativa motora, que culminaria em sua morte dentro de dois anos. Mesmo assim, Jane se dispõe a encarar tamanho desafio e assume um namoro com ele, com quem posteriormente se casa e tem filhos saudáveis. Passam-se mais de dois anos e Hawking percebe o engano do médico, pois continua vivo, porém sua doença se agrava cada vez mais, de modo que ele vai perdendo todo o movimento do corpo gradativamente, até o período em que ele mexe apenas os olhos e passa a se comunicar com os demais por meio de um sintetizador de voz.

Com direção de James March e baseado no livro homônimo da ex-esposa de Hawking, Jane, A Teoria de Tudo ganha uma visão muito mais suavizada e romântica do que foi a relação do físico com sua ex-mulher – focando quase que inteiramente nisto – sem dar muita abertura aos espectadores para conhecerem melhor o lado intelectual do físico e suas descobertas.

Mas o prisma escolhido para contar a vida do físico é forte o suficiente para encher a plateia de lágrimas. Além do excelente roteiro, as atuações dignas de Oscar tanto de Redmayne quanto de Felicity são de congelar os olhos. O ator que encara o protagonista não interpreta Hawking, ele vive Hawking, o que é perceptível em seu comportamento, em sua respiração, em seu olhar e nas poucas cenas nas quais ele defende sua teoria, demonstrando real compreensão do que seu personagem fala e não uma simples decoreba, o que certamente desviaria a atenção do público.

Felicity também se revela incrível, conseguindo transmitir perfeitamente a dura missão de uma mulher que, além de cuidar da casa, dos estudos e dos filhos, precisa dedicar-se em tempo integral ao marido à medida que ele vai ficando completamente paralisado. Ela ainda se vê num imbróglio quando conhece um músico (Charlie Cox), que balança seu coração.

A Teoria de Tudo é um filme que comove muito mais pelos gestos, silêncio e olhares dos personagens do que pelas próprias palavras, como em uma das cenas na qual o físico se arrasta pelas escadas de sua casa por não conseguir andar e troca olhares com seu filho, ainda bebê, como se ele estivesse voltando a ser uma criança que ainda mal consegue falar.  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas


domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Homem de La Mancha


Crédito: João Caldas

Quem é que nunca ao menos já ouvir falar em Dom Quixote de La Mancha e seu companheiro Sancho Pança – os famosos personagens de uma consagrada obra literária de Miguel de Cervantes? Difícil achar alguém.

Pois é para este mundo de Cervantes recheado de fantasia e ilusão que o Teatro do Sesi leva o seu público, ao apresentar o espetáculo musical O Homem de La Mancha. Produzido em comemoração aos 50 anos do Teatro Popular do Sesi, o musical faz parte de um projeto que pretende democratizar a cultura oferecendo musicais gratuitos.

Depois do sucesso de A Madrinha Embriagada, dirigido por Miguel Falabella, aplaudido por milhares de pessoas no Teatro do Sesi, o projeto vem agora com este segundo musical gratuito, também dirigido por Falabella e com adaptação do texto de Dale Wassermanom.

A peça se passa num sanatório da década de 30, onde um homem, que se apresenta como Miguel de Cervantes (Cleto Baccic), muda a vida dos internos assim que chega ao local transformando-os em personagens da peça de teatro que ele passa a encenar ali dentro. Cervantes apresenta então a história de Dom Quixote de La Mancha: um homem cujo nome verdadeiro é D. Alonso Quijana e que escolheu viver num mundo fantasioso de cavaleiros e criaturas imaginárias, sendo por isso taxado de louco por sua família. Dom Quixote sai ao mundo em busca de aventuras, sempre acompanhado de seu fiel amigo e escudeiro Sancho Pança. O próprio Cervantes é quem vive Dom Quixote.

Toda a inocência e esperança de um mundo melhor implícitos no comportamento de Quijana são claramente traduzidos para a plateia graças à brilhante atuação de Cleto Baccic. Além da forma como está totalmente entregue aos seus personagens, transmutando-se em pleno palco de um jovem Cervantes para um velho Dom Quixote, Baccic também se destaca pela excelente expressão corporal e vocal, que contribuem para enriquecer ainda mais o roteiro – que por si só já se revela encantador. O auge do espetáculo ocorre quando Baccic, no papel de Quixote, canta a música Sonho Impossível, chegando a causar arrepios na plateia e ser ovacionado por ela.

Em meio a vários atores talentosos, o ator Jorge Maya arranca gostosas gargalhadas do público no papel de Sancho Pança e também se revela um ator de grande talento pela naturalidade com que consegue encarar na medida certa seu personagem. Outro destaque é a atriz Sara Sarres, que interpreta a prostituta Aldonza – mas que para os olhos inocentes de Dom Quixote é uma linda dama chamada Dulcinéia. Sara encanta os ouvidos da plateia ao entoar as canções do espetáculo com sua voz suave e cativante, assim como sua vibrante atuação no palco.

Produzido pelo Atelier de Cultura para o SESI – SP, O Homem de La Mancha foi premiado na categoria Melhor Espetáculo Teatral de 2014 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), que também concedeu o prêmio de Melhor Ator a Cleto Baccic.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas