domingo, 28 de julho de 2013

Rock In Rio - O Musical


Baseado num dos maiores festivais de música realizados no Brasil, o musical Rock in Rio – O Musical conta um pouco da história do evento e do contexto político em que estava inserido, mas se atém principalmente a mostrar as músicas dos grandes cantores brasileiros e internacionais que fizeram sucesso e continuam a ter grande repercussão entre as diversas gerações, sendo idolatradas por todas elas.

A trama se foca na história fictícia de Aleph, um jovem rapaz que decide ficar mudo após a morte de seu pai e só se conecta com o mundo através da música, para desespero de sua mãe (Lucinha Lins), que já enfrentou 15 anos sem ouvir uma sílaba do filho e quer convencê-lo a falar a todo o custo.  Além disso, Aleph (Hugo Bonemer) é extremamente tímido e passa a maior parte do tempo conectado ao mundo musical através de seus fones de ouvido.

A situação começa a mudar um pouco para o rapaz quando ele conhece Sofia (Yasmin Gomlevsky), filha de um empresário musical (Cláudio Lins) que irá produzir a primeira versão do Rock in Rio no Brasil, e seu encantamento pela garota faz com que ele perca um pouco da timidez e consiga até mesmo expressar algumas palavras e cantar em voz alta. Enquanto a garota ajuda o protagonista a se tornar alguém mais comunicativo, este, por sua vez, desperta na nova amiga um amor pela música, já que Sofia só gostava de falar e mal podia ouvir alguém cantando desde o desaparecimento de sua mãe, que ela acreditava ser culpa da música.

Na abertura do espetáculo podemos ver as representações de diversos ícones musicais, como Rita Lee, Cazuza, Ozzy Osbourne, Axl Rose, Freddie Mercury, Stevie Wonder e Britney Spears, entre outros, cantando a música tema do festival. A cena de abertura cria uma empatia na plateia logo de início, permitindo que ela se envolva totalmente com esta superprodução rapidamente – afinal, quando a peça usa de recursos cênicos extremamente atraentes para os espectadores se conectarem a ela logo de início, o espetáculo tem tudo para crescer em cena em conjunto com a plateia.

E assim acontece neste musical, cuja empatia criada no começo cresce gradativamente com o desenrolar da trama. Tanto em termos de cenografia quanto coreografia, Rock In Rio – O Musical é extremamente detalhista e retrata muito bem toda a mistura de estilos musicais, que foi ganhando força num festival que, a princípio, focava nos astros do rock.

Um dos momentos mais deslumbrantes da peça ocorre justamente na reprodução desta mescla de estilos, ao fazer um compacto por diversos sucessos nacionais e internacionais incluindo rock, pop, axé, forró, entre outros de modo intenso e instantâneo, ao mesmo tempo criando uma imensa vontade de dançar e cantar junto com o elenco. Pincela a apresentação também alguns costumes, como a moda vigente e alguns jargões de época.

Apesar de ter uma identidade completamente jovial, o espetáculo conquista todas as gerações por trazer os diversos sucessos musicais que transitaram entre 1985 (quando ocorreu a primeira edição do Rock In Rio) e hoje, como “Pro Dia Nascer Feliz”, “Freedom”, “Tempo Perdido”, “Será”, “Ovelha Negra”, “Pessoa Nefasta” e “Fear of the Dark” despertando, certamente, boas lembranças em quem já passou pelos tempos dos primeiros festivais e, principalmente, participou deles, e também chamando os mais jovens para curtir sucessos que encantaram e encantam a todos, face à sua inefável musicalidade.

Todas as canções são entoadas de modo tão profundo, acompanhadas de brilhantes interpretações e coreografias crescendo grandiosamente a cada nova troca cenográfica, que chegam até mesmo a ser maiores do que a própria história da trama em si, cuja simplicidade se ofusca por trás da reprodução do festival que, por si só, toma conta da cena.

O ator Hugo Bonemer, que faz o protagonista da trama, por exemplo, está muito bem em seu papel do rapaz tímido, mas passa por uma explosão cênica instantânea em todos os momentos em que canta, tamanha a intensidade interpretativa que ele confere para cada estrofe, cantado e levando a plateia para o cenário descrito na letra da música. A atriz Yasmin Gomlevsky também se destaca pelo seu vozeirão na entonação das canções.

Outros atores como Lucinha Lins, Ícaro Silva (que se destaca no papel de amigo de Alef) e Luiz Pacini (que faz o dono de uma loja de discos) também demonstram seu talento musical como cantores solo.

Com direção de Delia Fischer e João Fonseca, o musical ainda usa de ótimos recursos para, por exemplo, promover um diálogo apenas com as letras de músicas já conhecidas. Rock In Rio tem três horas de duração que passam quase despercebidas pela plateia, tamanho o envolvimento criado por toda a superprodução.

Este é mais um musical totalmente brasileiro que faz sucesso no país. Diante do repertório de produções da Broadway que ganham versão nacional, o crescimento do número de musicais criados aqui como Tim Maia – Vale Tudo, o musical e Milton Nascimento – Nada Será como Antes, só reforça a capacidade do país em também elaborar espetáculos baseados em grandes tesouros nacionais, em especial aqueles baseados na nossa própria cultura.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Rei Leão


Título de maior bilheteria da Broadway, recebido em 2012, com arrecadação de U$ 835,8 milhões desde sua primeira apresentação no local, ocorrida em 13 de novembro de 1997 e que ficou conhecido como O Rei Leão: O Marco da Broadway, e um dos musicais de maior sucesso na história do teatro, chega ao Brasil no Teatro Renault (antigo Teatro Abril), localizado em São Paulo.

A trama, baseada num dos mais famosos filmes produzidos nos estúdios da Disney, que encantou gerações e continua a encantar até hoje, traz a história do simpático leãozinho Simba (o papel revezado em cada apresentação pelos atores mirins Gustavo Bonfim, Henrique Filgueiras, Matheus Braga e Yudchi Taniguti) – filho do Rei da Selva: o Leão Mufasa (papel de César Mello) – passando por uma série de aventuras e perigos logo após a morte do seu pai, pois o filhote é orientado pelo malvado tio Scar (Osvaldo Mil) a fugir, o que faz seu sobrinho acreditar ser o culpado pela morte do pai, quando na verdade o tio é o responsável pela tragédia, visando assumir o posto do irmão e todo seu poder.

Após fugir, Simba encontra os simpáticos e divertidos Timão (Ronaldo Reis) e Pumba (Marcelo Klabin), um suricato e um javali, que vão acompanhá-lo enquanto o pequeno cresce e entra na fase da puberdade (e passa a ser interpretado pelo ator Tiago Barbosa). Nesse período, ele também reencontra Nala (Josi Lopes), uma amiga de infância, quando um clima de romance pinta no ar.

Quem já viu e reviu o filme, seja nos telões ou nas telinhas, certamente perceberá que ele foi totalmente reproduzido no palco quase sem alterações, com o destaque que a animação da Disney praticamente ganha vida ao ser transformada em uma superprodução que faz total jus a esse título, vislumbrando o olhar da plateia do Teatro Renault.

Logo de início, a emocionante abertura composta pela passagem de diversos animais para assistirem ao nascimento do filho do Rei Leão já arranca suspiros emocionantes dos espectadores, pois o musical não se contenta em restringir um espetáculo de luzes, malabares, figurinos e cenários impecáveis aos limites do palco. Aplicando uma técnica circense, a entrada é marcada pela passagem destes personagens pelos corredores do teatro, interagindo, encantando e divertindo o público.

Passam pelas escadas da plateia atores fantasiados, que se movimentam com os braços e pernas apoiados em pernas de pau formando imensas girafas de pano, outra parte do elenco se junta para compor um elefante, cujo tamanho e formato é semelhante ao animal verdadeiro, entre muitos outros habitantes da floresta que, não apenas no início, como em vários outros momentos, interagem com os espectadores, deixando o espetáculo muito mais lúdico e dinâmico.

Há que se destacar também a atuação e desenvoltura dos três atores (Juliana Peppi, Jorge Neto e Felippe Moraes) que interpretam as famosas hienas, seguidoras do Leão Scar que, a pedido dele, o ajudam a preparar a armadilha que culminará na morte de Mufasa.  Momentos memoráveis do longa-metragem da Disney, como a aparição de Timão e Pumba cantando “Hatuna Matata” são reproduzidos impecavelmente no palco arrancando aplausos do plateia, contribuindo demasiadamente para despertar imensa empatia na público, pois quem não se encanta com estes engraçadíssimos personagens e a brilhante atuação e incorporação dos atores Ronaldo Reis e Marcelo Klabin, que interpretam o suricato e o javali?

Em termos de atuação, o destaque vai para o ator Cesar Mello, que interpreta o Mufasa. Mello consegue passar todas as características do seu personagem de forma clara e cativante, pois o ator está tão envolto em seu papel que, mesmo se estivesse desprovido de figurino, conseguiria fazer com que a plateia acreditasse no Rei Leão, que muitas vezes rouba toda a atenção do público para si no palco.  Já no quesito voz, o destaque vai para a atriz sul-africana Phindile Mikhize (que inclusive já cantou ao lado de Michael Jackson), que faz o papel da babuína Rafiki, e tem uma das vozes mais brilhantes do espetáculo emocionando o público ao entoar as canções.

Em termos de produção não há o que discordar: a mistura de efeitos cênicos e circenses por meio de malabares, simulação de pássaros que voam, cenários que se alternam instantaneamente e surgem de modo completamente distinto do anterior e repleto de objetos que parecem surgir magicamente levam a plateia para o exotismo selvagem africano, cenário da história. O próprio musical poupa a imaginação do público, pois o perfeccionismo na reprodução da selva, com a ajuda do excepcional trabalho de expressão corporal do elenco, é quase tão concreto que não há muito que imaginar diante de tamanho espetáculo, pois a realidade da trama parece acontecer ali no palco.

Não há como ficar indiferente, por exemplo, a uma das cenas mais deslumbrantes do musical, quando Simba vê a imagem de seu pai refletida na água e surge então repentinamente, ao fundo do palco, fragmentos que formam o rosto de Mufasa num tamanho gigantesco que chega a emocionar quem assiste. 

O sincronismo nas coreografias de dança, tão famoso por ocorrer de modo impecável nas produções norte-americanas, ganha cada vez mais fôlego nos palcos brasileiros como, por exemplo, nos números apresentados nesta peça e que acontecem em total sintonia.

O Rei Leão tem canções de Elton John e Tim Rice e tradução e autoria para a versão nacional de Gilberto Gil. A direção é de Julie Taymor.  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas