Apagam-se as luzes do
cinema, todos se acomodam nas poltronas e o telão começa a exibir apenas sons
de pessoas que indicam estar em desespero, sem nenhuma imagem. Trata-se da
reprodução da tragédia vivida por muitas vítimas do atentado terrorista
realizado, em Nova York, nas Torres Gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001,
deixando um saldo de quase três
mil mortos.
Esta é apenas a abertura de A Hora
Mais Escura, produção baseada em fatos reais, que trata de toda a
trajetória de uma agente da CIA na incessante busca pela captura e morte do
líder do grupo fundamentalista islâmico Al Qaeda, em maio de 2011: Osama Bin
Laden. Na trama Jéssica Chastain é Maya,
uma novata agente da CIA extremamente centrada em sua missão de tentar
encontrar o esconderijo de Bin Laden que, segundo supõe o serviço de
inteligência, se refugiou em algum lugar do Paquistão depois do atentado em
Nova York.
Após a abertura do
filme passam-se dois anos e a plateia agora é colocada diante de uma cena de tortura, ocorrida
no Paquistão, cometida por alguns dos agentes da CIA contra um prisioneiro
ligado à Al Qaeda. Enquanto este é torturado e repreendido violentamente, em
uma pequena sala, para confessar o que sabe sobre o paradeiro de Bin Laden,
Maya apenas observa de longe a cena, aparentando estar convicta de que tal
agressão não servirá de nada para arrancar uma palavra sequer da boca do
prisioneiro.
A persistência e
eficiência da protagonista em concretizar seu objetivo começam a ganhar,
gradativamente, um destaque imensurável na trama. Maya passa oito anos de sua
vida empenhada em investigações sigilosas e detalhadas que possam levá-la a
pistas concretas sobre a localização de Bin Laden. Neste período ela encontra
diversos entraves que atordoam cada vez mais sua mente, de modo que, em alguns
momentos, ela mesma chega a crer que não conseguirá realizar a missão de
encontrar o líder da Al Qaeda e jamais será feita a devida justiça à morte dos
quase três mil norte-americanos no atentado às Torres Gêmeas, conforme lhe foi atribuida a
autoria.
Uma luz no fim do túnel
surge quando ela descobre que um mensageiro de Bin Laden, dado como morto, está
vivo e pode ser a “pista-ouro” para que os agentes da CIA cheguem até o líder
da Al Qaeda. O espetacular e esplendoroso profissionalismo de Maya cresce
explosivamente no momento em que as pistas do paradeiro de Bin Laden levam a
uma casa, toda cercada por muros altos. A agente então passa a cobrar
persistentemente dos demais agentes, incluindo seus chefes, para que eles tomem
uma atitude e possam invadir a
fortaleza.
Mas muitos deles relutam em tomar qualquer ação, temendo que Bin Laden
não esteja na casa – apesar das provas indicarem imensas chances dele estar lá
– e inocentes sejam sacrificados, o que não seria nada bom para a imagem dos
EUA,
principalmente porque o país estava em ano de eleição e o presidente Obama
almejava ser reeleito – o que acabou
ocorrendo.
Com quase três horas de duração, a produção pode se mostrar um pouco
extensiva no começo – o que é perfeitamente normal, já que se trata de um filme
histórico em que o contexto precisa ser devidamente apresentado e explicado
para o entendimento da plateia – mas envolve sobremaneira os espectadores conforme
a trama se desenrola e os conduz à expectativa de que Maya está prestes a
cumprir o objetivo pelo qual lutara por tantos anos.
O desfecho é sensacional! Mesmo já sabendo qual será o destino de Bin
Laden, o longa acaba prendendo o fôlego de muitos espectadores, pois os planos
cinematográficos – compostos unicamente por planos fechados e movimentos de
câmera – nos proporcionam o mesmo ponto de vista da equipe da Marinha
Americana, que invadiu a fortaleza para capturar o líder da Al Qaeda, trazendo
muito mais realidade para as cenas durante minutos que se parecem horas diante
da tensão constante.
O longa foi
brilhantemente dirigido por Kathryn Bigelow – primeira mulher a ganhar o Oscar
de Melhor Direção, em 2010, pela sua produção Guerra ao Terror, que levou mais cinco estatuetas incluindo Melhor
Filme, desbancando o favorito da época Avatar,
do diretor James Cameron, ex-marido de Kathryn. A diretora de A Hora Mais Escura trabalha a trama
desprovida de emoções, narrando a história como ela realmente é, o que acaba se
aproximando ainda mais dos fatos verídicos. A frieza dos terroristas em matar
não-muçulmanos e ocidentais e a neutralidade presente na face dos agentes da CIA
enquanto torturam terroristas, como se estivessem fazendo qualquer outro tipo
de trabalho, contribuem para deixar o público ainda mais familiarizado com as
realidades apresentadas.
Vale ressaltar que, ao contrário de muitos longas norte-americanos, que
retratam grandes feitos cometidos pelos EUA, enaltecendo e enfeitando os atos
heroicos destes, muito além do que realmente foram na história real, o filme de
Kathryn retrata com realidade a triste violência cometida tanto pelos terroristas
quanto pelos agentes da CIA, dispostos a sacrificar os primeiros da forma mais
bruta possível.
Uma das cenas mostra
uma gravação verídica do próprio presidente Barack Obama, dando uma declaração
à mídia sobre a inexistência de atos de tortura pelos agentes da CIA, enquanto
alguns destes assistem à entrevista pela TV, direto do Paquistão, com certo ar
de surpresa. Não obstante nada
seja dito, a mensagem já fica subentendida.
O filme acabou gerando
polêmica nos EUA justamente pela forma como a CIA foi retratada, mas o
roteirista da trama, Mark Boal, foi atrás de testemunhas da vida real para recriar a história da forma mais
fiel possível.
A Hora Mais Escura concorre à cinco estatuetas do Oscar,
incluindo Melhor Direção, Filme e Atriz (Jessica Chastain). A produção tem tudo
para acirrar ainda mais uma das mais competitivas disputas aos prêmios da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos últimos anos. A não ser é
claro que a filmagem de uma história tão polêmica cause certo “incômodo” em alguns críticos da Academia, numa cerimônia
que ainda é muito “norte-americanizada”.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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