segunda-feira, 17 de março de 2014

Philomena


Você seria capaz de perdoar alguém que lhe tirou o seu filho, ainda bebê, causando-lhe um sofrimento interminável por não saber mais o paradeiro dele, mesmo depois de muitos anos? Este é um dos profundos e emocionantes questionamentos que Philomena nos convida a fazer ao nos depararmos com uma sofrível e profunda história sobre até que ponto uma mãe pode ir para reencontrar seu filho.

Baseada numa história real documentada num livro lançado em 2009 pelo jornalista Martin Sixmith, esta trama conta a história de Philomena, uma jovem irlandesa católica (Sophie Kennedy Clark) que, no ano de 1952, se apaixonou por um rapaz e acabou engravidando dele. Mas o conservadorismo e o tradicionalismo fortemente presentes na época não permitiam jamais sexo fora do casamento – muito menos se resultasse em gravidez, o que significaria um grande vexame para as famílias religiosas da grávida, levando muitos pais a abandonar suas filhas dizendo aos demais que ela havia morrido.

Assim ocorre com a protagonista da história que, após ser dada como morta por seus próprios pais, acaba trancafiada num convento junto a diversas outras meninas que vivenciaram a mesma experiência de Philomena e, justamente por isso, são punidas pelas freiras, sendo forçadas a limparem e lavarem durante excessivas horas, tendo o direito de verem seus filhos por apenas uma hora ao dia – isso sem contar que estes bebês nasciam no próprio convento, sem qualquer ajuda médica, também “como castigo pelas meninas serem impuras”, segundo alegavam as irmãs, o que resultava na morte de muitas mães cujos corpos eram enterrados por ali mesmo.

Mas o que Philomena não contava era que, passado um ínfimo tempo do nascimento de seu filho, ele seria levado para bem distante dela pelas próprias irmãs da casa, que vendiam os filhos destas mães solteiras para famílias norte-americanas que estavam em busca de crianças para adoção.
Passados 50 anos, a protagonista (agora interpretada por Judie Dench) já é uma senhora residente em Londres e um pouco fragilizada pela idade avançada, que ainda expressa o mesmo ar sofrível de quando presenciou seu filho sendo levado embora – e não pôde fazer nada por impedimento das próprias freiras que não a deixaram sair dali. Ela então vê novamente a chance de reencontrar seu filho, quando sua filha (Sally Mitchell) conhece um jornalista desempregado, Martin Sixmith (Steve Coogan), que está tentando concluir um livro, cuja história não parece ser tão atraente assim.

Ao saber das experiências vividas por Philomena por meio de sua filha, Martin resolve ajudar a protagonista na busca de pistas que possam levá-las ao seu filho, contando com o patrocínio de uma editora que se vale de histórias cotidianas e o pressiona a documentar tudo em seu novo livro que pretende escrever – o qual, inclusive, é o que originou este filme.

Uma riqueza cênica muito presente nesta trama está no conflito de personagens entre o extremamente racional e calculista jornalista – que também é ateu, o que é visível até mesmo na forma ansiosa em como ele aguarda o desfecho da história de Philomena, apenas preocupado, inicialmente, em escrever uma boa obra que gere audiência – e a protagonista – uma doce senhora que procura colocar Deus à frente de tudo e sempre ver ao menos uma parcela de bondade nas pessoas com quem encontra.  

Este paradoxo presente na dupla principal da trama faz com que os personagens caminhem em paralelo e, à medida que aumentam o grau de envolvimento na descoberta do paradeiro do filho de Philomena, torna-se perceptível uma sinergia entre ambos.

Já a sinergia e também a grande interação entre os atores Judie Dench e Steve Coogan mostram-se excepcionais durante todos os 98 minutos de duração deste filme, dirigido por Stephen Fears, o que permite o sucesso da trama e nos leva a uma identificação com os personagens, gerando uma dúvida: O que será mais válido: dizer tudo o que vem à mente, sem controlar o tom, ou vencer o difícil obstáculo de conceder o perdão a quem nos prejudicou e, assim, sentir-se liberto para sempre?  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 



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