Com
perfeita identidade de besteirol americano, o filme brasileiro O Concurso traz diversas piadas forçadas
e personagens estereotipados passando por várias situações inusitadas que, a
todo o momento, lembram os costumeiros roteiros humorísticos estadunidenses que
arrancam risos do público através das cenas mais absurdas. É possível enxergar
até mesmo certa similaridade com Se Beber
Não Case, ressaltando a diferença que esta produção soube trabalhar e
conduzir o roteiro com mais detalhes, um humor que divertia o público e criava
expectativas com histórias exageradas, mas ao mesmo tempo bem elaboradas.
Já em O Concurso, à medida que se transcorrem
os 86 minutos de filme, este caminha cada vez mais para o fiasco. A trama conta
a história de quatro candidatos que foram selecionados para fazer uma prova
referente à ultima etapa do processo de seleção para uma vaga de juiz federal
no Rio de Janeiro. São eles: um humilde cearense (Anderson Di Rizzi) que vive
com sua esposa (Carol Castro) que está grávida, um gaúcho (Fábio Porchat) que
esconde sua homossexualidade e tem um pai (Jackson Antunes), extremamente
rígido, que exige do filho a conquista da vaga de juiz, um rapaz (Rodrigo
Pandolfo) extremamente tímido do interior de São Paulo e um advogado (Danton
Mello) oportunista que consegue se safar de várias situações sempre com seu
famoso “jeitinho”.
Esses
quatro embarcam para o Rio de Janeiro a fim de realizar a última prova que dará
o título de juiz a um deles e passam por distintas situações antes do teste. A
abertura da trama mostra os candidatos deitados de forma completamente
inusitada em uma rocha, indicando que os rapazes tiveram uma noite “daquelas”.
Em seguida, o filme volta no tempo, mostrando a partida de cada um para o Rio e
como eles chegaram àquela situação.
O que
parecia uma história com uma trajetória cheia de obstáculos e expectativas
criadas ao redor dos personagens antes que eles pudessem fazer a temida prova,
acaba culminando num roteiro estático e dotado de pouquíssimas cenas
surpreendentes ou realmente cômicas.
Nem a
desenvoltura dos quatro atores que tentavam crescer dentro dos seus respectivos
personagens com seus dotes cômicos, que vez ou outra arrancavam algumas risadas
da plateia, foi páreo para a pobreza do roteiro.
O ator
Fábio Porchat, que depois de deslanchar seu talento entre milhares de
internautas por meio dos diversos vídeos humorísticos exibidos no canal do
Youtube chamado “Porta dos Fundos” e ainda ser chamado para atuar no programa
“A Grande Família”, além de marcar presença em vários comerciais, certamente foi
uma das principais apostas desta produção para fazer jus ao seu gênero comédia
e divertir o público.
É certo
que, dada a caracterização do seu personagem, o ator está bem, interpretando um
gaúcho que tenta conter seu jeito afeminado para não revelar sua
homossexualidade, no entanto ele fica muito aquém de sua capacidade artística
por se prender a um roteiro que está abaixo de seu talento.
O Brasil
vem se destacando por um leque de humoristas como Marcelo Adnet, Fábio Porchat,
Ingrid Guimarães e Paulo Gustavo, os quais simplesmente arrebentam quando estão
em situações cômicas, das quais eles mesmos têm o total domínio da cena. Mas,
querendo abocanhar todas as grandes estrelas para si, a Rede Globo acabou por
roteirizar e, assim, prejudicar a espontaneidade cômica de alguns artistas,
como foi o caso de Adnet, que teve de seguir o fraquíssimo roteiro de O Dentista Mascarado, cuja baixa
audiência foi responsável pelo pouquíssimo tempo de duração da série.
Enfim, o
mercado artístico brasileiro está repleto de grandes estrelas que sabem
entreter e conquistar a admiração do público, mas, principalmente no que tange
ao aspecto cinematográfico, é necessário investir em roteiros mais trabalhados
que estejam compatíveis com o ritmo e o talento dos atores.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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