Um filme que
já arrecadou mais de US$ 300 milhões, desde sua estreia no final de março até
agora, em bilheterias de todo o mundo e um dos mais anunciados e esperados neste
ano de 2014, Noé agradou uns e
desagradou outros, porém continua atraindo inúmeros espectadores principalmente
em razão da grande publicidade anunciada para sua estreia.
A trama – que inclusive
se revela um paradoxo por se basear numa história bíblica e ser conduzida pelo
diretor ateu Darren Aronofsky, diretor do espetacular Cisne Negro, ovacionado por público e crítica – traz a história do
descendente de Set, filho de Adão e Eva, chamado Noé. Depois de ter alguns sonhos
que acredita ser um aviso, o protagonista resolve construir uma arca de madeira
para enfrentar um dilúvio que inundará toda a Terra.
Para isso, Noé (Russel Crowe) contará com a ajuda de
guardiães, anjos caídos mandados pelo Criador, como ele sempre se refere a
Deus, que no filme aparecem em formato de rochas gigantescas que se movimentam,
conversam e ajudam a construir a arca e proteger Noé de alguns perigos que ele
enfrenta. Noé então embarca na arca, acompanhado da mulher (Jennifer Connelly),
dos três filhos (Logan Lerman, Douglas Booth e Leo McHugh Carroll), de uma órfã
(Emma Watson) adotada por eles e de um par de cada espécie de animal presente
na Terra.
Se você conhece bem a
história bíblica envolvendo Noé, esqueça-a por um momento quando for assistir a
esta produção, que limita sua fidelidade à Bíblia apenas em mostrar o
protagonista construindo uma arca e embarcando nela junto com sua família e os
animais para enfrentar o dilúvio. Todos
os demais elementos trabalhados nesta trama revelam muito mais o toque ousado
do diretor em preencher a produção com muitos efeitos fictícios do que investir
nas relações humanas entre os personagens.
O filme quase não
possui um contexto histórico enriquecido por diálogos e interações humanas, mas
sim uma série de efeitos especiais envolvendo guerras, tempestades e outros
truques cinematográficos trabalhados no mundo digital. Apesar de todo alarde
feito em torno desta produção de Aronofsky, ela não se sobressai na encenação
da história, se limitando a ser apenas mais uma das inúmeras famosas produções estadunidenses
repletas de explosões, gritos, correria, em que o ruído destas cenas constitui
a principal e quase única sonoridade da trama, que mal preza os diálogos apresentados.
Tudo bem se
a trama não se apresenta quase nem um pouco fiel à história bíblica – como, por
exemplo, no momento em que Noé sonha com o Dilúvio – porém, segundo a Bíblia,
ele recebe um chamado de Deus – ou a tentativa de invasão à arca que só
acontece no filme, e ainda a gritante cena de rochas digitais representando
anjos se
movimentando ao lado de Noé, algo inexistente na Sagrada Escritura – mas a
ousadia do diretor poderia se aplicar num trabalho mais enriquecedor no que
tange ao contexto histórico. No entanto, Aronofsky se dedica apenas aos grandes
efeitos especiais que, apesar de serem muito bem elaborados, mal compõem uma
sequência atraente para os espectadores, que não precisarão grudar os olhos na
tela durante todo o tempo de filme para saber o que se passa, facilitando assim
a dispersão.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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