domingo, 30 de novembro de 2014

Rita Lee Mora ao Lado


A noite do último domingo (23/11/14) foi muito especial para a atriz Mel Lisboa e mais 15 atores que se emocionaram neste dia. Eles integraram o elenco do espetáculo musical Rita Lee Mora ao Lado, que ficou em cartaz durante oito meses no palco do Teatro das Artes, em São Paulo, e encerrou sua temporada no dia 23 de novembro.

Adaptado do livro Rita Lee Mora ao Lado – Uma Biografia Alucinada da Rainha do Rock, de Henrique Bartsch, a peça traz para o palco alguns trechos da vida de Rita Lee (Mel Lisboa) misturados com cenas fictícias da vida de uma vizinha da cantora (Carol Pontes) que acredita ser vítima de uma maldição e que faz o seu destino e o de Rita sempre se cruzarem de alguma forma.

Com o desenrolar do roteiro gradativamente a peça ganha energia, mas acaba se destacando muito mais pelo repertório musical – que por si só é o suficiente para embalar o público, dada sua riqueza sonora – do que pela própria história, que traz fragmentos aleatórios da vida da cantora, misturados ao fraco contexto que envolve a vida da “vizinha” de Rita.

No entanto, são memoráveis as coreografias de todo o elenco, sempre muito bem sincronizado com os ritmos musicais e cuja energia contagia os espectadores – principalmente os fãs de Rita Lee que cantam junto com os atores as músicas da artista.


Não há como não elogiar a atuação e figurino da atriz Mel Lisboa, que praticamente fica irreconhecível nos palcos e encarna a Rita Lee com perfeição, não apenas fisicamente, como também incorpora todos os trejeitos e formas de andar da cantora. O ator Fabiano Augusto também se destaca num dos momentos do espetáculo, quando interpreta o famoso cantor Ney Matogrosso, incorporando seus trejeitos de forma bem naturalista, sem se deixar levar pelo caricato. Rita Lee Mora ao Lado teve direção de Débora Dubois e Márcio Macena. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

sábado, 15 de novembro de 2014

Gandhi, Um Líder Servidor


Desapego! Quantas vezes nós já ouvimos essa palavra em nossas vidas e sobre o bem que a sua prática pode nos fazer? Desapego às coisas materiais, ao egoísmo, aos atos violentos, enfim, a tudo aquilo que pode nos envolver em um grande e perigoso círculo vicioso, o qual nos faz enxergar apenas a nós mesmos, como seres dispostos a fazer de tudo para chegar ao topo – seja do sucesso, da riqueza, etc – sem se importar com os demais.

É preciso se desapegar de tudo que nos faz mal! Dizer essa frase é fácil, mas difícil mesmo é cumpri-la em sua totalidade. Afinal, infelizmente, o mundo está repleto de seres humanos que se afundam em vícios dos mais prejudiciais possíveis e se recusam a sair deles. Estas e muitas outras questões reflexivas que mexem com nosso emocional são levantadas no monólogo dramático Gandhi, Um Líder Servidor, em cartaz no Teatro Ruth Escobar.

Com direção de Paulo Moretti, texto de Miguel Filiage e Bene Catanante, a peça se passa num pequeno teatro de arena, onde o ator João Signorelli interpreta Mohandas Karamchand Ghandi (1869 - 1948), líder espiritual e pacifista indiano que influenciou e continua influenciando gerações do mundo todo com seus ideais em prol de um mundo mais pacífico e fraterno. 

Nascido na cidade indiana de Bombaim, Gandhi - que recebeu o título de "Mahatma", que significa "grande alma" em sânscrito - passou a infância e a adolescência na Índia, onde foi educado, e, ao tornar-se adulto, foi estudar Direito em Londres. Em 1914, após ter atuado como advogado em defesa da minoria hindu, na África do Sul, ele retorna à Índia iniciando uma campanha de paz entre hindus e muçulmanos, que sempre estavam em conflito. Ele também se posicionou contra a dominação britânica sobre a Índia, jamais apelando para a violência, mas por meio de ideias brilhantes que são contadas no monólogo.

Este grande líder espiritual se destacou muito por pregar sempre formas pacíficas de manifestação por meio de greves, passeatas, jejuns e retiros espirituais - ele mesmo costumava jejuar com frequência para se purificar. Gandhi persuadiu povos e políticos a aceitarem seus ideais de não violência, sendo uma das principais figuras na independência da Índia. Ele conseguiu perpetrar a paz entre muçulmanos e hindus, mas acabou sendo assassinado, em 1948, justo por um extremista hindu.

Durante os 50 minutos de duração de Gandhi, Um Líder Servidor, o público faz uma verdadeira terapia espiritual com as belas palavras que eram pregadas pelo líder indiano, proclamadas pelo ator Signorelli. A peça transcende a época em que Gandhi viveu, narrando algumas de suas passagens, e alcança a época atual na qual o ser humano sofre com a falta de água, os conflitos no Oriente Médio e muitas outras questões que mostram que, mesmo com o passar dos anos, as pessoas ainda têm muito o que aprender sobre o verdadeiro significado da vida.

Não há palavras que descrevam o brilhantismo de Signorelli em sua atuação, resgatando com profundidade este grande influenciador indiano tanto na aparência física como na entonação das palavras. O ator incorpora o personagem, demonstra sentir dentro de si cada mensagem dita por ele, de modo que ela não é apenas proclamada da boca para fora, mas sim de seu coração para tocar o coração de quem o assiste. E ele consegue muito bem fazer isso.

Há momentos inclusive nos quais é difícil segurar as lágrimas, dada a emoção verdadeira contida em muitos de seus diálogos, que também lembram a vida deste homem indiano, que alcançou a plenitude por ter encontrado a sua paz interior sem precisar de qualquer riqueza material para viver e assim encontrar a verdadeira felicidade, que se mostra duradoura e nunca se acaba. Felicidade esta que se reflete em seu rosto sorridente e sereno, o qual, ao ser interpretado por Signorelli, também consegue transmitir uma calmaria e um bem-estar a todos que acompanham o monólogo. O tempo passa sem percebermos.

Trata-se um espetáculo com cenário simples cujo foco está no poder das palavras que ganham vida na boca do ator e que nos fazem refletir como o ser humano muitas vezes busca a verdadeira felicidade pelo mundo todo e não a encontra, pois esquece de procurá-la num lugar essencial: dentro de si mesmo.

“Só o amor cura, nutre, une, entusiasma, faz nascer, alivia, materializa, motiva... possibilita a vida!” Mahatma Gandhi

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

domingo, 9 de novembro de 2014

Cada Dois Com Seus Pobrema


Conhecido por levar inúmeros espectadores a gargalhar nos teatros – onde ele se revela um verdadeiro astro da comédia teatral brasileira – e famoso também nas telinhas – por ter feito inúmeras novelas destacando-se, por exemplo, em Belíssima, como o açougueiro gago chamado Fladson e atualmente interpretando o espírito de um médico cirurgião em Alto Astral – o ator, autor e diretor Marcelo Médici volta para os palcos no Teatro Shopping Frei Caneca com o espetáculo Cada Dois Com Seus Pobrema, com direção de Paula Cohen.

Após dez anos da estreia de Cada Um Com Seus Pobrema, peça produzida e encenada por Médici que foi um tremendo sucesso de público, neste novo espetáculo o ator resgata seus diferentes personagens encenados nos palcos há dez anos e que conquistaram espectadores de todas as idades com seus trejeitos e discursos originais e bem elaborados.

A peça não é uma continuação de Cada Um Com Seus Pobrema, mas sim um resgate não só dos seus personagens como de grande parte de suas falas. No entanto, esta revelação só ocorre na segunda metade da peça, já que ela se inicia com dois personagens que são atores, feitos por Médici e o ator Ricardo Rathsam, que estão encenando uma divertida comédia cujo cerne é uma entrevista de um jornalista a uma atriz completamente amalucada e que vive reclusa. Enquanto Rathsam encara o repórter, Médici diverte a plateia encarando a atriz maluca e também a governanta, que trabalha para esta atriz e que de normal também parece não ter nada.

Depois de um tempo, a cena é interrompida por um conflito entre os personagens atores e a seguir o público é levado a relembrar ou conferir pela primeira vez os famosos personagens encarados por Médici em Cada Um Com Seus Pobrema, como o Mico Leão Dourado, a apresentadora de programa infantil que não se simpatiza muito com criança, Tia Penha, e o motoboy corintiano Sanderson – personagem que também teve algumas participações no seriado televisivo Vai Que Cola, exibido pelo Multishow, e que foi sucesso de audiência – entre outros.

Quem já conhece estes cômicos personagens talvez já não ache tanta graça, até mesmo pelo fato de muitas falas já serem repetidas, ainda assim é válido relembrar e conferir novamente o talento deste grande humorista que é o Marcelo Médici, que consegue envolver o público com seu humor diferenciado e cativante, com um domínio e uma naturalidade que poucos humoristas brasileiros possuem. 

Mas quem quiser conferir o espetáculo deve se apressar, pois ele permanecerá em cartaz apenas até o dia 26 de novembro e já está com quase todas as sessões esgotadas.

Por Mariana da Cruz  Mascarenhas 

domingo, 2 de novembro de 2014

Caros Ouvintes


O ano é 1968 e estamos diante de um estúdio de rádio, onde será transmitido o último capítulo de um dos folhetins mais aguardados pelo seu público. Este é o cenário da peça Caros Ouvintes, comédia dirigida por Otávio Martins e que faz referência à história das radionovelas no Brasil, relembrando este período para alguns espectadores e imergindo quem não viveu ou não se lembra desta época no mundo das novelas transmitidas apenas pelo rádio.

 No palco do Teatro MASP, os atores encaram um grupo de personagens que compõe o elenco das radionovelas de uma emissora, cada um com personalidades fortemente expressivas. Vicente (Petrônio Gontijo) é um agitado produtor dos folhetins que possui um caso com uma das atrizes, Conceição (Natallia Rodrigues).  

Vespúcio (Alexandre Slaviero) é o publicitário cujo cliente patrocina a radionovela e que também patrocinará a primeira telenovela brasileira, indicando o possível fim das radionovelas, pois é a era da chegada da TV. Um sonoplasta meio amalucado e hiperativo (Alex Gruli), um galã que já trabalha há anos na rádio, uma cantora decadente (Amanda Acosta), entre outros, também são alguns dos integrantes do elenco da radionovela.

Prestes a apresentar o último capítulo do folhetim, desta vez ao vivo, o elenco enfrenta uma série de complicações, como o sumiço de um dos seus integrantes – que é justamente o protagonista da radionovela –, as intervenções sem sentido do publicitário – que se acha o dono do elenco simplesmente pelo fato de seu cliente patrocinar a radionovela – e a grande confusão gerada nas ruas do país pelas manifestações contra a ditadura militar na época – que acabam gerando certos manifestantes próximos à rádio.

Uma história rica em cultura, sensibilização e que soube contar um período marcante para o Brasil, seja em relação à política brasileira, seja em relação a chegada da televisão, prenunciando o fim das radionovelas, e cujo drama acaba sendo atenuado em Caros Ouvintes com piadas muito bem elaboradas e inteligentes que fazem a plateia se apaixonar por esta comédia.

A deliciosa sutileza com que esta história é contada suaviza a percepção e a seriedade de algumas reflexões levantadas pela peça, como o drama dos personagens cuja carreira parece estar prestes a ser enterrada junto com o fim da radionovela, diante da chegada da TV e a perseguição pelo regime militar a muitas pessoas que mal podiam expressar suas opiniões.

Chega a causar comoção entre o público uma das cenas em que o galã é humilhado pelo publicitário por ser mais velho e não ser realmente bonito, conquistando as fãs apenas em razão de sua voz atraente, o que não mais seria possível com a chegada da TV, mostrando que apenas os mais jovens e belos sobreviveriam no mundo artístico, como é o caso de Conceição – realidade cruel que foi enfrentada por muitos atores de radionovela na época, os quais perderam seus empregos.

Além da riqueza do roteiro, todo o elenco está praticamente impecável no palco, contribuindo para um sincronismo perfeito para todas as cenas. Ainda assim vale ressaltar o papel de Alex Gruli, cujo personagem expressivo e ao mesmo tempo desengonçado conquista o carinho da plateia desde os primeiros segundos em que aparece em cena.

Ovacionada pelos espectadores no final, Caros Ouvintes causa uma mistura de sentimentos, arrancando da plateia risadas e lágrimas emocionadas, culminando em um final brilhante. O espetáculo conta com 100 minutos de duração, digno de ser apreciado mais de uma vez por quem desejar.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas