segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Django Livre



Personagens sarcásticos, uma boa dose de humor irônico, cenas de violência dotadas de muito sangue e uma mescla de gêneros que faz a plateia envolver-se instantaneamente em um filme que lança mão de suspense, drama e comédia: assim são as produções dirigidas por Quentin Tarantino, considerado um verdadeiro mestre da violência moderna cinematográfica.

Depois de se consagrar dirigindo grandes produções como Kill Bill (2003), Pulp Fiction (1994) e Bastardos Inglórios (2009), ele volta aos telões com Django Livre, que tem tudo para ser mais um sucesso e apenas confirma uma grande injustiça cometida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que excluiu Tarantino da indicação ao Oscar de Melhor Direção deixando cinéfilos e não cinéfilos boquiabertos.

A trama se passa nos tempos de escravidão estadunidense, em 1858, três anos antes da Guerra Civil Americana. Django (papel de Jammie Fox) é um escravo que se torna companheiro do Dr Schultz (Christoph Waltz) – caçador de recompensas – a partir do momento que este o compra, prometendo-lhe a liberdade se aquele o ajudar a encontrar três delinquentes com as cabeças postas a prêmio.

Cumprida a tarefa, Django pretende resgatar sua mulher Broomhilda (Kerry Washington), que é escrava do poderoso fazendeiro Calvin Candie (interpretado por Leonardo di Caprio), famoso por promover lutas fatais entre negros. Para isso, o protagonista da história e o Dr Schultz se tornam parceiros inseparáveis na busca e concretização desta missão. Assim que a dupla chega à fazenda onde se encontra a esposa de Django, os dois executam um plano estratégico a fim de enganar Candie e tentar comprar a liberdade de Broomhilda.

Mas vários são os obstáculos para que tudo não saia conforme o planejado, entre eles a intromissão de um escravo de confiança (Samuel L. Jackson) de Candie que desconfia de Django e Schultz desde o primeiro momento em que os vê.

Com um elenco impecável, o talentoso Christoph Waltz é quem rouba a cena em toda a primeira parte do filme, interpretando um caçador de recompensas extremamente perspicaz, sarcástico e desafiador. O ator está incrível em seu papel, conseguindo incorporar um personagem cômico e que enfrenta quem for preciso, usando para isso não apenas suas armas letais, como palavras sábias e confrontadoras. Não é a toa que Waltz ganhou o Globo de Ouro como melhor ator coadjuvante e concorre ao Oscar na mesma categoria.

Outro ator que não deixa a desejar e está completamente entregue ao papel é Leonardo di Caprio, cujo personagem é dotado de um sarcasmo similar ao presente no caçador de recompensas. Caprio parece mesmo se destacar muito mais quando moldado pelos grandes diretores – um exemplo foi sua brilhante interpretação em A Ilha do Medo, de Martin Scorcese – e com Tarantino não faz diferente.

Não se pode deixar de ressaltar a destacada atuação de Samuel L. Jackson, quem também rouba a cena em vários momentos centralizando toda a atenção da plateia para si.

Django Livre não é somente um filme que retrata a escravidão e a diferença de comportamentos entre os próprios escravos conforme sua condição serviçal, mas também se classifica como faroeste espaguete – termo atribuído à forma como os italianos fazem filmes western com base na própria leitura hollywoodiana. E cenas clássicas do cinema como o beijo romântico de felizes para sempre, a conversa de figurões sentados em suas poltronas tomando drinques e fumando cigarros – entre outros – fazem jus ao termo.

Aliada à grande atuação do elenco, a produção também conta com efeitos especiais de explosões e tiroteios que surpreendem e divertem a plateia ao estilo Tarantino de fazer cinema. Outro ponto forte é trilha sonora, que mescla vários gêneros musicais passando de clássicos marcantes aos estilos pop atuais.

Vencedor do Globo de Ouro nas categorias Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro, o longa recebeu 5 indicações ao Oscar incluindo Melhor Filme , Roteiro Original e Ator Coadjuvante.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi




Baseado na obra literária do escritor canadense Yann Martel, As Aventuras de Pi traz uma combinação de momentos emocionantes e efeitos visuais deslumbrantes que deixam os telespectadores com um olhar travado diante das telas.

O filme narra a história de Pi, um homem de meia idade que vive no Canadá e conta suas aventuras para um escritor, que pretende escrever um livro sobre elas. O escritor não acredita em Deus, mas dizem a ele que a história de Pi seria tão surpreendente e inacreditável que ele poderia até mesmo mudar seus conceitos sobre a existência divina. Então ele passa a ouvir atentamente tudo o que Pi descreve sobre sua infância e adolescência.

Nascido no sudeste da Índia, Pi morava com seus pais e um irmão mais velho e foi obrigado a se mudar com a família para o Canadá por decisão de seu pai, quem, após ser avisado pela prefeitura que não receberia mas incentivos fiscais para cuidar do zoológico do qual ele era proprietário, toma a decisão da mudança.

O garoto então embarca com a família em um navio cargueiro junto com uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre que viviam no zoológico e seriam vendidos no Canadá. Mas a tragédia toma conta da família de Pi quando a embarcação naufraga em razão de uma tempestade e apenas o protagonista da história consegue  se salvar, junto com o tigre em um bote salva-vidas.

Entretanto, as aventuras trágicas estão apenas começando, uma vez que o garoto passa dias em alto mar sem avistar ninguém, completamente abalado por ter perdido sua família e ainda se vê obrigado a elaborar diversas estratégias para dividir o mesmo espaço com seu companheiro felino, que parece estar prestes a querer devorá-lo a qualquer momento.

Com certos toques surrealistas presentes, como por exemplo, tanto na vivacidade das cores, como no intenso azul que quase não delimita a divisão entre céu e mar, o espetáculo visual se torna inesquecível como poucas produções o fazem. O diretor da trama, o tailandês Ang Lee - de O Segredo de Brokeback Mountain (2005), filme que narra a história de um romance homossexual entre dois jovens vaqueiros e teve oito indicações ao Oscar levando os prêmios de melhor direção, roteiro adaptado e trilha-sonora – acerta não só na reprodução das imagens do naufrágio, sobrevivência de Pi e a digitalização de um tigre, como nas comoventes mensagens trazidas pela narração, que envolvem preceitos religiosos e o poder da crença em Deus.

As revelações feitas no final da trama levam os espectadores a refletir profundamente sobre os acontecimentos. Para enriquecer a imersão do público no naufrágio de Pi, o filme foi muito bem projetado em 3D de modo até mesmo a causar sustos na plateia .

As Aventuras de Pi é o segundo colocado na lista de indicações ao Oscar. A produção concorre em 11 categorias incluindo melhor filme.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Argo




Um filme de tirar o fôlego da plateia com mescla de ação e suspense em cenas muito bem produzidas. Assim é Argo, trama baseada no livro de Antônio Mendez, que narra sua própria história real: ele foi um agente da CIA indicado em 1979 para uma dificílima missão: salvar seis embaixadores norte-americanos ameaçados de morte pelo povo iraniano. O motivo da ameaça se deve ao fato dos Estados Unidos concederem asilo político a Reza Pahlevi - foi Xá do Irã, entre 16 de Setembro de 1941 e 11 de Fevereiro de 1979.

Tal atitude despertou uma fúria nos cidadãos iranianos fazendo com que vários deles invadissem a embaixada norte-americana, localizada em Teerã – capital do Irã. Diante da tamanha euforia, seis dos embaixadores dos EUA conseguiram fugir para a casa do embaixador canadense.

Palco vivo da trama, o Irã foi, em grande parte do século XX, aliado das nações ocidentais, que se voltaram ao Oriente Médio interessadas no petróleo. O ouro negro, que deveria ser fonte de riqueza e desenvolvimento do povo, foi o pomo da discórdia que levou a população explorada e miserável a revoltar-se, depondo o líder iraniano, Xá Reza Pahlevi, e elegendo o progressista primeiro ministro Mohamed Mossadegui, que conduziu o povo a uma série de conquistas e benefícios, que contrariaram o lucro fácil baseado na exploração do Irã pelas petrolíferas inglesas e americanas.

Com ampla articulação do governo imperialista inglês e da CIA, estes financiaram um golpe de estado que reconduziu Pahlevi ao poder iraniano até 1978, quando - insatisfeitos com a crise econômica que assolava o país, a repressão política, a crescente corrupção e as reformas pró-Ocidente - esquerdistas, liberais e muçulmanos tradicionalistas uniram-se ao aiatolá Khomeini para derrubar o governo do Xá Reza Pahlevi. Desde então o país tornou-se uma República Islâmica.

Para salvar os cidadãos norte – americanos presos no Irã, membros da alta cúpula de poder dos EUA se reúnem em busca de uma solução. É neste momento que entra em cena Mendez (interpretado, no filme, por Bem Afleck, que também dirige a produção). - O agente da CIA sugere se passar por um produtor de cinema para recuperar os refugiados do Irã.

Entre a descrença de muitos quanto ao sucesso do plano e a falta de alternativas viáveis para a execução da missão, a ideia de Mendez é aceita e ele vai até Hollywood para conseguir as parcerias e levantar todo o material necessário que o ajudará a assumir o papel de um produtor cinematográfico canadense de um falso filme de ficção científica chamado Argo.

Depois de conseguir tudo o que precisa, ele embarca para o Irã sob pretexto de avaliar cenários para gravar algumas cenas do filme no país e consegue encontrar os refugiados norte-americanos. Mendez explica a eles quem é e o objetivo de sua missão e tenta convencê-los a assumirem falsos papeis na equipe de preparação da produção do filme Argo e assim poderem deixar o país. Após certa resistência de alguns deles temendo que o agente da CIA fosse um iraniano tentando capturá-los, já que as ruas de Teerã estavam praticamente tomadas por iranianos revoltados, dispostos a acabar com os embaixadores, acabam aceitando a proposta de Mendez, pois já não veem outra solução para se safarem da perseguição iraniana.

A partir daí o suspense ganha cada vez mais força se prolongando até ao final do filme sem aliviar a plateia, que fica sob tensão, tamanho o envolvimento com a trama proporcionado pelo diretor. Afleck acerta em cheio ao optar por diversas filmagens em travelling (movimento de câmera para acompanhar o deslocamento de um objeto, personagem ou ação a fim de provocar nos telespectadores uma sensação mais próxima da realidade) trazendo para o público o mesmo campo de visão de cada um dos personagens que tentam sair do Irã sem serem descobertos.

A preferência por mais filmagens em planos fechados, repletos de closes nos personagens, no lugar de planos gerais que ofereçam uma perspectiva visual de todo o cenário em que se passam as cenas, contribui para aumentar a tensão e se aproximar ainda mais da realidade, para que o público sinta o temor dos embaixadores na expectativa do que irá acontecer sem ter a completa noção se serão pegos ou não.
Além do excelente trabalho de direção, Afleck se destaca pela sua atuação na trama passando claramente a caracterização fria e sutil do personagem, que demonstra estar totalmente centrado em seu objetivo, fazendo jus a profissão de agente da CIA.

O filme recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo melhor filme. A premiação de entrega das estatuetas acontece no dia 24 de fevereiro.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas
Colaboração: Sérgio Eduardo Nadur

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Hobbit - Uma jornada inesperada



Depois do tremendo sucesso mundial da trilogia O Senhor dos Anéis, que rendeu milhões de dólares e posicionou os dois últimos filmes entre as 15 maiores bilheterias de todos os tempos – além disso, a terceira produção chamada O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2003), conquistou 11 Oscar, se tornando recordista em estatuetas, ao lado de Ben Hur (1959) e Titanic (1997) – o diretor neozelandês Peter Jackson resgata a história dos hobbits e sua saga para os telões em O Hobbit – Uma Jornada Inesperada.

A trama faz parte de uma nova trilogia que terminará em 2014 e é baseada no livro infanto-juvenil O Hobbit, elaborado pelo escritor, professor e filólogo britânico  J.R.R Tolkien  publicado pela primeira vez em 1937. Dando continuidade à publicação anterior, Tolkien escreveu a saga O Senhor dos Anéis, dividida em três volumes lançados entre 1954 e 1955. O sucesso desta trilogia fez com que ela fosse traduzida em mais de 40 idiomas e gerasse uma venda de cerca de 160 milhões de cópias.

Justamente face a tamanho sucesso e à repercussão mundial que Peter Jackson deve ter priorizado a trilogia, produzindo-a primeiro no cinema. Agora, consciente do quanto a saga do anel continua a atrair fãs por todo o planeta é que o diretor resolve voltar ainda mais no tempo e apresentar para o público como o anel foi parar na mão de um hobbit pela primeira vez.

A primeira parte de O Hobbit conta a história de como o pequeno Bilbo Bolseiro (sessenta anos mais jovem do que na trama O Senhor dos Anéis), interpretado por Martin Freeman, encontra o anel que deverá ser destruído na trilogia seguinte. O protagonista da história embarca numa jornada repleta de aventuras e surpresas, marcadas pela aparição de seres horrendos como os orcs, ao lado do mago Gandalf (papel de Ian McKellen) e um grupo de anões ambulantes que pretendem recuperar seu reino depois de derrotarem o dragão que o destruiu.

No trajeto, Bilbo encontra Gollum, personagem que já havia se consagrado nos telões durante os filmes anteriores de Jackson e não faz diferente neste enredo, mantendo o mesmo estilo ambíguo, mesclando um ar de crueldade, medo e dúvidas com seu jeito desengonçado de ser, que chega a arrancar risadas da plateia.

Mantendo a mesma impecabilidade no quesito efeito visual das produções anteriores relacionadas à saga do anel, Peter Jackson surpreende os olhares do público com cada transformação de cena e com momentos inesperados que levam os telespectadores a se assustarem junto com os personagens.  

A grandiosidade dos efeitos, juntamente com a atuação dos atores, que não deixam a desejar, confere um excelente desenrolar para a trama que, apesar de não conseguir ultrapassar o impacto positivista da trilogia anterior causada na plateia – tamanho o enriquecimento e envolvimento que a história trouxe consigo, se consagrando por todo o mundo – este novo filme não fica muito atrás das produções anteriores.

Todavia, o diretor pode ter pecado ao tentar transformar um livro de 300 páginas em uma trilogia cinematográfica, pois fica extremamente perceptível a presença de cenas prolixas que se estendem cansativamente, visando preencher algumas sequências de tempo.

Entretanto, no contexto geral, vale a pena conferir a jornada de Bilbo Bolseiro nesta primeira parte da trama, que possui quase três horas de duração e conforme se desenrola vai prendendo a atenção do público até chegar a um final menos prolixo e digno de elogios, principalmente pelas ações, agregadas aos efeitos visuais, que agora também podem ser vistos em 3D. Vamos aguardar os próximos lançamentos para saber o que Peter Jackson nos reserva. 

Por Mariana da Cruz Mascarenhas