sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Homens, Mulheres e Filhos


A tecnologia avança a passos cada vez mais rápidos e se tornou presença constante na rotina dos seres humanos, aprisionando-os verdadeiramente estejam onde estiverem, pois, sem ela, muitos não conseguiriam mais trabalhar, se conectar, se informar, enfim, interagir com o universo.

Tal dependência torna-se mais dramática quando esta interação virtual torna-se tão necessária na vida das pessoas a ponto delas preferirem se comunicar por telinhas e telões a travar uma conversa pessoal. Pois é este chamado vício tecnológico que é muito bem abordado no filme Homens, Mulheres e Filhos, com direção de Jason Reitman – dos filmes Juno (2007) e Amor sem Escalas (2009) – e adaptação do livro homônimo de Chad Kultgen. 

A trama narra as vidas de personagens problemáticos, como o garoto de 15 anos que só consegue ficar excitado quando vê vídeos pornográficos na internet e não têm o menor sucesso com as garotas na vida real e cujo pai (papel de Adam Sandler) também adora ver vídeos do gênero no computador; um rapaz viciado em videogames (papel de Ansel Elgort, destaque de A Culpa é das Estrelas) e que vê  neles uma válvula de escape para suportar a frustração de sua mãe ter abandonado ele e o seu pai para ficar com outro homem; uma menina anoréxica que recorre a conselhos de outras anoréxicas na internet sobre como evitar a comida; uma mãe superprotetora que rastreia todas as contas da filha na internet, bem como seu celular e uma mãe que quer tornar a filha famosa a todo custo nem que para isso seja preciso divulgar fotos íntimas da garota.

Todas estas histórias reúnem os diferentes universos de adultos e adolescentes que acabam culminando num ponto comum: o vício pela tecnologia, que se torna o cerne dos problemas destes personagens, os quais a utilizam como alternativa para viverem num mundo virtual paralelo, já que não conseguem encarar as dificuldades do mundo real. Isso fica claro na forma como a mãe superprotetora está preocupada apenas em rastrear a filha – mas não dedica nem sequer um minuto para conversar com ela sobre a vida da garota – ou do menino viciado em vídeos pornôs que vive isolado em seu quarto e também não tem momentos de diálogo com os seus pais.

Trata-se de um excelente roteiro para fazer os espectadores repensarem a forma como a sociedade está conduzindo suas vidas e, principalmente, os relacionamentos com seus familiares, pautados especialmente pelo uso excessivo da tecnologia, que está suprindo o contato físico e o olho no olho. Homens, Mulheres e Filhos tem sido aclamado pela crítica justamente pela forma inteligente como aborda a invasão tecnológica na vida do ser humano e por suas histórias chocarem o público, pois, por mais dramáticas que sejam, são fatos cotidianos da vida real.

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Tim Maia


Depois do sucesso de público contando a sua história nos palcos teatrais, principalmente em razão da atuação de Tiago Abravanel no papel principal em várias sessões, o cantor carioca Tim Maia foi parar nos telões. Assim como o espetáculo teatral Tim Maia – Vale Tudo, o Musical, o filme Tim Maia é uma adaptação do livro de Nelson Motta, Vale Tudo.  

Se no teatro os espectadores puderam acompanhar a biografia de Tim – preenchida sempre pelo seu excelente repertório musical, dando um bom enfoque à vida pessoal e artística – no filme, a história de Tim já é contada sob uma perspectiva muito mais voltada para a vida pessoal do artista, talvez frustrando aqueles que ansiavam por um filme que retratasse melhor o grande talento que ele representou.

Na trama cinematográfica, os atores Babu Santana e Robson Nunes se destacam nos telões revezando-se para interpretar o cantor. Enquanto o primeiro faz o papel do Tim Maia mais jovem, entregando marmitas, enfrentando dificuldades para ascender em sua carreira artística, criando a banda Sputniks – que também tinha como integrantes os cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos em começo de carreira – e a tentativa de ascensão na carreira numa viagem ao EUA, Nunes já encara o Tim adulto, levando uma vida totalmente regada a sexo, álcool e drogas.

O longa é narrado pelo personagem Fábio (Cauã Reymond) que também aparece nos telões como o amigo de Tim e que o acompanhou durante boa parte da sua carreira, desde a ascensão artística até a decadência por conta de sua vida completamente desregrada. Mesmo alguns fãs que já conhecem mais a fundo a vida do artista, poderão chocar-se um pouco com o perfil de Tim Maia.

São 140 minutos de trama que mostram o lado mais agressivo do cantor – que costumava resolver algo que não lhe agradasse por meio de ofensas verbais ou saindo na porrada – e também seu egoísmo, refletido no modo como ele conduzia suas atitudes, sem se importar com opiniões e conselhos alheios, chegando, num dado momento de sua vida, a ser esquecido pelos produtores de shows em razão do seu comportamento rebelde. Muitas vezes ele recusou convite para shows e se isolava em sua casa, em meio às alucinações que ele sofria em decorrência das drogas.

O sucesso artístico de Tim não deixa de ser mostrado no filme, porém numa proporção muito menor à que ganha a sua conturbada vida pessoal, de modo que a trama acaba se tornando extensa e cansativa, focando no desgaste físico do cantor em razão de seus vícios, os quais são retratados em cenas repetitivas e longas.

A própria narração de Cauã Reymond revela-se por ora excessiva, atrapalhando uma maior aproximação entre personagens e telespectadores, de modo que estes acabam vendo a trama como observadores e não adentrando mais a fundo no mundo interno de Tim Maia por meio de uma relação empática. Não que a narração seja desnecessária, todavia poderia dar maiores espaços para que as cenas por si só acontecessem e “falassem” ainda mais com o público, no que tange ao aspecto emocional.

Mas não há como não ver Tim Maia tanto nas atuações de Babu Santana quanto na de Robson Nunes. Ambos revelam-se verdadeiros talentos ao decorrer da trama e acabam trazendo uma lição de que nós podemos ser nossos piores inimigos se não valorizamos os dons e talentos que desenvolvemos.  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Frida y Diego


Drama, comoção e dor são algumas das características que marcam o contexto – pesado, porém genial – do espetáculo teatral Frida y Diego, com direção de Eduardo Figueiredo. O enredo apresenta trechos da vida pessoal de Frida Kahlo (1907 – 1954), pintora mexicana que ficou conhecida em diversas partes do mundo graças às suas pinturas, as quais ela expôs em diferentes países.

Os cerca de 90 minutos de espetáculo dão enfoque à conturbada vida de Frida (Leona Cavalli) com seu marido e também pintor Diego Rivera (José Rubens Crachá), que a traía constantemente com as diversas mulheres que conhecia em galerias, eventos e afins. Mesmo com o consentimento de tantas traições, Frida – que também chegou a trair seu marido algumas vezes – alegava amá-lo muito e não queria separar-se dele. 

Para complicar ainda mais a situação, a artista tinha fortes dores na coluna, dificuldades de se locomover e, mesmo sabendo não poder ter filhos, fez algumas tentativas, sem sucesso, o que a deixava muito magoada.

Todos estes problemas físicos foram se agravando ao longo do tempo devido a dois momentos difíceis que ela enfrentou em sua vida: Frida contraiu poliomite aos seis anos de idade, sendo esta a primeira de uma série de lesões, acidentes e doenças que a acometeriam ao longo da vida. Já aos 18 anos, ela foi assolada por uma tragédia muito pior: ao sofrer um acidente de bonde, que se chocou num trem, o para-choque de um dos veículos perfurou suas costas saindo por sua genitália. Depois disso, ela teve que reconstruir todo o seu corpo no hospital e, desde então, jamais deixar de usar coletes ortopédicos.

O excesso de bebida alcoólica e de cigarro também esteve presente na vida de Frida e Diego – principalmente da pintora, que dizia “eu bebo para afogar minha dor, mas a maldita aprendeu a nadar”.

Complementam o elenco do espetáculo os músicos Arthur Decloedt (contrabaixo) e Wilson Feitosa Jr., que tocam músicas temáticas ao vivo dos lugares onde Frida e Diego moraram e também visitaram para expor suas obras, incluindo cidades no México, EUA e França.

É impossível assistir a esta peça e ficar indiferente às atuações de Leona Cavalli e José Rubens Crachá, principalmente de Leona que, por conta das exigências de sua personagem, se destaca mais em cena. Chega a arrepiar uma de suas atuações em que Frida se vê desesperada com a sua fragilidade física e a forma como ela é traída pelo marido, que, apesar de tudo, dizia amá-la muito e que não conseguia ficar sem ela.


Leona parece sentir na pele o sofrimento de sua personagem interpretando na medida certa a mistura de tristeza, angústia e dor que pareciam querer explodir dentro dela a todo o momento, comovendo os espectadores, especialmente por se tratar de uma história verídica e tão dramática que Frida viveu.  

Por Mariana da Cruz Mascarenhas