Dotada de um humor leve
e bem trabalhado, a peça Maria do Caritó
arranca gostosas risadas da plateia ao trazer para os palcos um pouco da
cultura nordestina – que por si só, exala toda uma expressividade típica do povo da região – agregada a
um teatro voltado muito mais para a exteriorização dos sentimentos, expressos
no corpo e na face dos personagens de modo tão intenso que chega a ganhar
toques surreais perfeitamente encaixados no contexto do enredo.
A trama narra a
história de uma mulher virgem prestes a completar 50 anos, chamada Maria do
Caritó (papel de Lilia Cabral), que foi prometida a “São Djalminha” após ter nascido
de um parto difícil, segundo narra seu pai (Fernando Neves). Desesperada para encontrar
um noivo que se apaixone por ela de verdade, a carismática solteirona se lança
a todos os tipos de simpatia e promessas para Santo Antônio, a fim de encontrar
sua cara metade.
Seu pai é quem acaba
não gostando nada da história, alegando que a filha está cometendo uma espécie
de “traição” com São Djalminha, ao pedir um marido para Santo Antônio. Além
disso, ela é conhecida por toda a região onde mora como Santa Maria do Caritó
por fazer “milagres” a todos que lhe pedem auxílio, mas ela mesma afirma não
ser santa e que aqueles que a procuram são curados em razão da própria fé.
A suposta “santa” vê a
chance de viver um grande amor quando conhece uma trupe circense que chega à
cidade nordestina onde ela mora. Depois de ouvir de uma cartomante (também
interpretada por Fernando Neves) que encontraria o seu “príncipe encantado” em
um circo que passaria pela região, ela se apaixona por um dos artistas da trupe
(papel de Eduardo Reyes) acreditando ser ele o homem de seus sonhos.
Para conquistá-lo, resolve participar do
espetáculo atuando como palhaça, escondida de seu pai, que ficaria furioso se soubesse que a filha está
enturmada com um grupo circense, o qual para ele é símbolo de baixaria e
impureza. A partir de então, altas confusões acontecem envolvendo
principalmente a protagonista, seu pai e toda a turma do circo.
Com um cenário simples,
composto por vários apetrechos que fazem alusão a muitas cidades nordestinas
repletas de humildes casas, cujos moradores seguem preceitos bem
tradicionalistas e conservadores, o espetáculo revive essa cultura tão
enraizada em nosso país através mesmo é do elenco, pois este incorpora perfeitamente
os papéis, levando o público a viajar para essa humilde região nordestina habitada
por personagens tão engraçados e encantadores.
Todas as inquietações sentimentais de Maria do
Caritó e as confusões em que ela se mete são brilhantemente interpretadas por
Lilia Cabral, que mantém o mesmo nível enérgico para o seu papel do começo ao
fim, sem errar nas doses de atuação. Ela faz excelentes incorporações,
encarando até mesmo imitações cômicas em determinado momento da peça, que
chegam a arrancar aplausos do público.
Mas a grande atuação de
Lilia não chega a ofuscar o trabalho dos demais atores que também não deixam a
desejar e produzem uma atuação conjunta que se constitui no verdadeiro destaque do espetáculo.
A atriz Dani Barros, por exemplo, que encara várias personagens que aparecem no
caminho da protagonista durante a trama, dá um show de expressão corporal,
interpretando até mesmo uma galinha desengonçada.
Escrita por Newton Moreno
e dirigida por João Fonseca, a peça é uma excelente indicação para quem quiser
se divertir com um humor leve e descontraído.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas