Quem já não
se frustrou ou se irritou com uma situação aparentemente desapontadora e, após
investigá-la a fundo, descobre revelações surpreendentes, indicando que nada é
o que parece ser? Esta intriga é um dos cernes da peça Três Dias de Chuva, que narra a história de dois irmãos que se
reencontram para a partilha de bens deixada por seus falecidos pais e vão junto
com seu amigo de infância Pip – o filho do falecido sócio do pai deles – para a
leitura do testamento, a qual lhes reserva grandes surpresas.
Dividido em dois atos,
o espetáculo mostra em seu primeiro momento, no ano de 1995, a atriz Carolina
Ferraz* interpretando a personagem Anna, que reencontra seu irmão Walker
(Otávio Martins), após este sumir por um ano logo que
seu pai morreu. Passado algum tempo de peça, surge Pip (Petrônio
Gontijo), que terá altas discussões com Walker depois dos mistérios revelados na
leitura do testamento. Já no segundo ato, que se passa em 1960, Carolina,
Martins e Gontijo aparecem no palco encarando os pais de Walker, Anna e Pip e grandes
segredos escondidos por eles surpreenderão a plateia.
Escrito por Richard
Greenberg, um dos grandes dramaturgos norte-americanos, e com direção de Jô
Soares, o espetáculo é composto por um roteiro rico de diálogos afiados e que
trabalham a mente do público convidando-o a fazer uma análise reflexiva sobre o
choque de gerações. A encenação de duas épocas distintas, e que ao mesmo tempo
se mostram entrelaçadas pela ligação entre os personagens do espetáculo,
proporciona uma excelente conexão dos espectadores com a trama, já que eles
precisarão estar o tempo todo atentos a tudo que se passa, principalmente no
segundo ato, para fazerem as devidas associações entre os papeis cênicos e
descobrirem o que realmente está por trás dos pais de Walker, Anna e Pip que
revelam, inclusive, terem vivido um triângulo amoroso.
Por focar
nesta passagem de tempo, mostrando as diferenças comportamentais e sociais em
cada época representada no palco, a peça tem como principal atributo a transformação
dos atores em cena de forma desafiadora, já que eles precisam denotar
claramente essa mudança, não somente através do comportamento, como também de
uma linguagem tão rica quanto a empregada por Greenberg. Neste quesito, o ator
Otávio Martins é quem mais se destaca, cumprindo perfeitamente sua função ao
incorporar, no primeiro ato, um Walker ainda extremamente perturbado, não
somente com a morte do pai, mas também com o complicado relacionamento tido com
ele quando vivo. Já no segundo ato, ele encara um papel extremamente oposto ao
seu primeiro, por interpretar o pai introvertido e gago de Walker.
Em relação aos demais atores, essa
transformação se mostra perceptível de modo bem menos atenuante, chegando a ser
quase linear no caso de Gontijo, algo que foge um pouco da obra de Greenberg,
que propõe uma exteriorização das diferenças de geração.
Além disso, o linguajar
cênico do elenco poderia identificar melhor as diferenças de época, mas acaba mantendo
grandes similaridades entre os dois atos. Todavia, no geral, a genialidade do
roteiro continua a se fazer presente no palco e não deixa de prender a atenção do público devido a sua excelente história.
*A partir
de 11 de Outubro, a atriz Carolina Ferraz passou a ser substituída pela Adriane
Galisteu.
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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