Você seria capaz de
perdoar alguém que lhe tirou o seu filho, ainda bebê, causando-lhe um
sofrimento interminável por não saber mais o paradeiro dele, mesmo depois de
muitos anos? Este é um dos profundos e emocionantes questionamentos que Philomena nos convida a fazer ao nos
depararmos com uma sofrível e profunda história sobre até que ponto uma mãe
pode ir para reencontrar seu filho.
Baseada numa história real documentada num livro lançado em 2009 pelo
jornalista Martin Sixmith, esta trama conta a história de Philomena, uma jovem irlandesa
católica (Sophie Kennedy Clark) que, no ano de 1952, se apaixonou por um rapaz
e acabou engravidando dele. Mas o conservadorismo e o tradicionalismo
fortemente presentes na época não permitiam jamais sexo fora do casamento –
muito menos se resultasse em gravidez, o que significaria um grande vexame para
as famílias religiosas da grávida, levando muitos pais a abandonar suas filhas
dizendo aos demais que ela havia morrido.
Assim ocorre com a protagonista da história que, após ser dada como
morta por seus próprios pais, acaba trancafiada num convento junto a diversas
outras meninas que vivenciaram a mesma experiência de Philomena e, justamente
por isso, são punidas pelas freiras, sendo forçadas a limparem e lavarem durante
excessivas horas, tendo o direito de verem seus filhos por apenas uma hora ao
dia – isso sem contar que estes bebês nasciam no próprio convento, sem qualquer
ajuda médica, também “como castigo pelas meninas serem impuras”, segundo
alegavam as irmãs, o que resultava na morte de muitas mães cujos corpos eram
enterrados por ali mesmo.
Mas o que Philomena não
contava era que, passado um ínfimo tempo do nascimento de seu filho, ele seria
levado para bem distante dela pelas próprias irmãs da casa, que vendiam os
filhos destas mães solteiras para famílias norte-americanas que estavam em
busca de crianças para adoção.
Passados 50 anos, a protagonista (agora interpretada por Judie Dench) já
é uma senhora residente em Londres e um pouco fragilizada pela idade avançada, que
ainda expressa o mesmo ar sofrível de quando presenciou seu filho sendo levado
embora – e não pôde fazer nada por impedimento das próprias freiras que não a
deixaram sair dali. Ela então vê novamente a chance de reencontrar seu filho,
quando sua filha (Sally Mitchell) conhece um jornalista desempregado, Martin
Sixmith (Steve Coogan), que está tentando concluir um livro, cuja história não
parece ser tão atraente assim.
Ao saber das experiências vividas por Philomena por meio de sua filha, Martin
resolve ajudar a protagonista na busca de pistas que possam levá-las ao seu
filho, contando com o patrocínio de uma editora que se vale de histórias
cotidianas e o pressiona a documentar tudo em seu novo livro que pretende
escrever – o qual, inclusive, é o que originou este filme.
Uma riqueza cênica muito presente nesta trama está no conflito de
personagens entre o extremamente racional e calculista jornalista – que também é
ateu, o que é visível até mesmo na forma ansiosa em como ele aguarda o desfecho
da história de Philomena, apenas preocupado, inicialmente, em escrever uma boa
obra que gere audiência – e a protagonista – uma doce senhora que procura colocar
Deus à frente de tudo e sempre ver ao menos uma parcela de bondade nas pessoas
com quem encontra.
Este paradoxo presente
na dupla principal da trama faz com que os personagens caminhem em paralelo e,
à medida que aumentam o grau de envolvimento na descoberta do paradeiro do
filho de Philomena, torna-se perceptível uma sinergia entre ambos.
Já a sinergia e também
a grande interação entre os atores Judie Dench e Steve Coogan mostram-se
excepcionais durante todos os 98 minutos de duração deste filme, dirigido por
Stephen Fears, o que permite o sucesso da trama e nos leva a uma identificação
com os personagens, gerando uma dúvida: O que será mais válido: dizer tudo o
que vem à mente, sem controlar o tom, ou vencer o difícil obstáculo de conceder
o perdão a quem nos prejudicou e, assim, sentir-se liberto para sempre?
Por Mariana da Cruz Mascarenhas
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